Telmo Pires: “O Porto tem um grande peso na minha história”
Interviews - Fevereiro 13, 2016
A música sempre fez parte da sua vida. Desde cedo que ouvia os discos de
Amália e de Carlos do Carmo e foram eles a grande força de inspiração
para começar a cantar fado.
A música sempre fez parte da sua vida. Desde cedo que ouvia os discos de Amália e de Carlos do Carmo e foram eles a grande força de inspiração para começar a cantar fado. A poucos dias de apresentar o seu quinto disco «Ser Fado», no Museu do Fado em Lisboa, a AIRinformação falou com Telmo Pires, que confessou estar na altura de se apresentar e se dar a conhecer de forma diferente aos portugueses. Neste novo disco existe ainda uma canção inédita de António Variações, que nunca chegou a gravar.
“Ser Fado” é o seu quinto álbum, que será apresentado no próximo dia 19, no Museu do Fado, em Lisboa. Qual é a melhor forma de descrevermos este disco?
Telmo Pires – “Ser Fado” capta toda a minha evolução artística dos últimos três anos. O que sou, o que faço, como vivo e o que amo. Enfrentei novos desafios no meio do Fado. Colaborei com músicos excepcionais, com poetas jovens, contemporâneos. Concentrei-me e dediquei-me mais ao fado tradicional na sua forma mais pura, mas não deixei de incluir novos temas que, se calhar, um dia, se tornaram fados.
Porquê a escolha do single de apresentação “Fado Fantasma”?
O “Fado triplicado”, como se chama o tradicional, com um lindo poema de Nuno Miguel Guedes, foi por acaso o primeiro tema que gravei para o álbum. Fez todo o sentido lançá-lo como o single de apresentação porque representa perfeitamente o caminho que eu percorro de momento: o meu respeito pelo fado tradicional, pelos seus grandes músicos e compositores, mas ao mesmo tempo juntar algo de novo… dar vida a um novo poema que ninguém ainda cantou e assim também contribuir com o que posso como intérprete à divulgação da ‘canção portuguesa’.
Este é o segundo disco a ser gravado em Portugal…
Sim. Em 2010, depois de ter já lançado três álbuns na Alemanha, conduzido pelo amor a Portugal, pela paixão por Lisboa, pela cultura e música portuguesa, decidi ficar em Lisboa e, sendo assim, arriscar e recomeçar completamente do zero. Passei meses a conhecer as casas de fado, a conhecer colegas, músicos, tentar encontrar meu caminho. Tive a grande sorte de ter um grande músico, o Davide Zaccaria, a interessar-se pelo meu percurso, meu trabalho e pela forma como eu encarava o fado. Conhecia o nome Zaccaria de CD’s e concertos da Dulce Pontes, com quem ele trabalha há 12 anos. Para mim foi um sonho que se tornou realidade: poder trabalhar com esse músico ao mais alto nível. É a isso, a estes momentos, estes cruzamentos de vidas, que eu também chamo Fado! Desse trabalho em conjunto surgiu o álbum Fado Promessa, que foi produzido por Davide Zaccaria, lançado internacionalmente no final de 2012. O sucesso e as boas críticas levaram-me naturalmente ao trabalho para o próximo álbum: “Ser Fado”.
Neste novo disco encontramos quatro temas assinados por si, alguns inéditos e um tema de António Variações. Como é que chega até esta canção?
É este outro momento Fado que aconteceu. Sempre adorei António Variações, mas nunca me atrevi a fazer um ‘cover’ de temas conhecidos. “Ao passar por Braga abaixo”, um tema inédito que o Variações nunca chegou a gravar, é um dos maiores tesouros que recebi até hoje. O meu álbum Fado Promessa chegou às mãos do irmão de António há dois anos. Depois conhecemo-nos pessoalmente. Ele gostou da minha voz, do meu trabalho e se calhar também do facto de eu ser, como a família deles, “homem do norte”. Um dia recebi um e-mail com uma maquete original da voz do António onde canta duas estrofes da melodia de “Ao passar por Braga abaixo”. Foi daí que nasceu a minha versão, que neste caso é o original. Fiz questão de ter o irmão de António, o Ribeiro, presente na gravação do tema. Ele gostou, aprovou… e eu fiquei a pessoa mais feliz do mundo.
Neste disco é visível um Telmo mais maduro profissionalmente. É um disco de mudança e que marca uma nova etapa da sua carreira?
Nós estamos sempre a crescer e a evoluir, seja pessoalmente, seja, no meu caso, como artista. A vida e tudo que acontece, o que nos marca… o bom e o mal, tudo fica dentro de nós. Estamos sempre a aprender, sempre a amadurecer, somos eternos estudantes da vida. Claro que os anos marcam. As minhas interpretações, a minha forma de estar, de ser, vai alterando consoante às experiências que faço. “Ser Fado” é o meu trabalho mais próximo do fado e forma uma nova base… um novo ponto de partida.
Quer com isso dizer que é um disco onde se quer mostrar de forma mais alargada ao público?
Como artista é muito natural que queiramos chegar ao maior público possível, dar a conhecer o nosso trabalho na esperança de que haja pessoas a sentir e pensar duma forma semelhante e a quem consigamos tocar. É esse o objectivo de toda a arte: de tocar nas almas e nos corações de pessoas. O meu primeiro álbum aqui gravado foi também o meu primeiro passo em Portugal… que para mim já foi um grande passo. Com Ser Fado quero dar uma continuidade, dar um segundo e depois um terceiro passo. Sei que muitas pessoas aguardam este álbum… dentro e fora de Portugal. Saber isso deixa-me muito feliz… e fico feliz com todo o público que chegue a ter. Com este e com futuros trabalhos.
“Ser Fado” sucede “Fado Promessa”, editado em 2012. Que diferença existe entre estes dois discos?
“Fado Promessa” foi a primeira experiência feita em Portugal. Com grandes músicos da área do fado, um processo que se estendeu por quase um ano. Foi uma fase de início total. Em “Ser Fado” sinto que estou mais ‘à vontade’ comigo próprio, mas também com os músicos, com a maneira de trabalhar. Tenho maior confiança em mim, naquilo que faço e no que decido. Fui eu que escolhi inteiramente os temas que gravei, os poetas, os meus poemas… tenho 100 por cento da responsabilidade e não foi problema nenhum assumi-la.
Qual é o lugar que acha que ocupa neste momento no fado em Portugal?
Bem. Ainda me estou a dar a conhecer. A maior parte das pessoas que me conheceram em Portugal nem sabem que já editei três álbuns antes de chegar cá. Espero um dia ocupar um maior.
Os Fados de Amália Rodrigues e de Carlos do Carmo serviram de inspiração para aquilo que é hoje?
Foram as vozes de Amália e de Carlos do Carmo que me marcaram desde miúdo e que eu mais tarde redescobri. A genialidade e simplicidade na interpretação, a entrega e coragem são os atributos que estão ligados com eles. No fado são essas as minhas referências.
Nasceu em Bragança mas não cresceu em Portugal. Sentiu falta de cantar em casas de fado, clubes de fado?
Cantei a primeira vez numa casa de fado em Lisboa em 2010, ano em que decidi ficar cá. Não tive o privilégio de ter acesso a casas de fado, de lidar com o fado diariamente como quem viveu e cresceu em Portugal, especialmente em Lisboa. Mas tive outros: notei muito cedo que tudo que quero, sou eu que tenho que aprender, não havia ninguém a ensinar. Saí de casa aos 19 e só sabia que queria fazer música, que queria cantar. As coisas pouco a pouco foram surgindo, aprendi a estar em palco, fiz teatro, tive aulas de canto, aprendi cedo a estar sozinho só com um pianista em palco e fazer concertos de quase duas horas, isto a partir dos meus 20 anos. Foi essa a minha ‘escola’.
Quer com isso dizer que a forma como vê o fado é diferente de grande parte dos fadistas nacionais?
Vejo o fado como qualquer outra música. Acho que nós todos sentimos o mesmo amor pelo fado e fazemos dele a nossa vida ou uma grande parte da vida. O fado conta histórias, fala de tudo o que tem a ver com a vida e nós, os intérpretes, cantores, fadistas, somos o mero veículo para dar vida a essas histórias… aos poemas que um poeta escreveu. Nós cantamos “em função” da música, não é a música que existe em “nossa” função. Temos é a sorte de poder encher os poemas e essas histórias com a nossa personalidade, com as nossas experiências e emoções e isso é que torna cada um de nós único. Eu vejo o fado como qualquer outra música que temos que entregar ao mundo. Como aconteceu com o Jazz, o Flamenco, o Tango, o Blues, Chanson, não pode ser só uma música “nossa” cá de nós em Portugal. O fado é muito maior e está no caminho certo.
Mas cantar fado virou ou não uma moda em Portugal?
Não sei se ‘moda’ é a palavra certa. Há uma grande evolução no fado. Há muita gente nova a cantar fado. Pertence à identidade portuguesa e está a ser redescoberto. Há novas gerações a apaixonarem-se pelo fado, jovens músicos muito bons que se dedicam ao estudo da guitarra portuguesa, é o começo duma nova era. Certamente vai muito mais além de ser só uma ‘moda’ temporal. Eu bem o espero.
O que é que acha que os portugueses podem ainda esperar de si enquanto fadista?
Deixe-me cá pensar… (pausa). Só posso dizer o que eu próprio espero de mim: mais fado, bom fado!
Aquilo que muita gente não sabe é que vem do mundo do teatro…
Dei os meus primeiros passos no teatro. Depois de ter terminado como vocalista de bandas de pop e rock, decidi fazer algo completamente diferente. Aperfeiçoar a dicção, interpretar poemas, representar. Fiz isso durante uns tempos até que o director dum teatro (bastante pequeno) viu que a minha paixão era cantar, gostou das minhas ideias e disponibilizou o teatro para um dos meus primeiros concertos a solo. Depois ainda continuei com teatro e mais tarde também participei num filme.
Essa experiência ajuda-o enquanto fadista, ou seja, canta fado sempre de maneira diferente?
Ajuda-me como artista de palco em geral. A colocar-me por detrás da música e do poema, tentar mostrar vários lados de mim, várias caras e maneiras. Tornar assim todos os temas diferentes.
De todos estes anos de profissão, qual terá sido o momento mais alto da sua carreira?
Houve vários momentos que vão ficar sempre na minha memória. Acho que eu comecei a valorizar-me mais a mim próprio desde que estou em Lisboa. Porque aqui enfrentamos a realidade do que hoje é o fado, temos fabulosos e fabulosas colegas à nossa volta e muitos novos a aparecer. O ser reconhecido neste meio é algo que nos deixa muito feliz. Um dos meus momentos altos foi o convite para apresentar o meu álbum “Fado Promessa”, em Julho de 2014, no Museu do Fado, em Lisboa. Esse reconhecimento elevou-me a um novo patamar.
Ser cantor, autor e compositor tem uma responsabilidade acrescida?
Acho que a responsabilidade como artista de levar qualquer um tema ou poema ao palco, seja esse escrito por nós próprios ou por outros, é sempre igual. No momento de gravar, ou de apresentar em concerto, não importa quem ‘o fez’. Tenho que me identificar 100% com o que faço e saber onde quero chegar com o que faço. Trato todos os poemas e músicas que escolho para interpretar por igual. Não há diferença.
O fado é muito mais do que uma voz e uma guitarra?
É sim.
O que mais gosta na cidade do Porto?
Gosto muito do facto que fica perto de Bragança… onde nasci! (risos).O Porto tem um grande peso na minha história. Foi do Porto que os meus pais partiram comigo para uma ‘nova vida’ quando eu tinha 2 anos e meio. Viajámos de Bragança de comboio… ainda havia a velha ligação. Ficámos uma noite e na manhã do dia 1 de Novembro partimos para a Alemanha. Fui… mas o meu coração ficou no Porto à minha espera.
Para quando um espectáculo por cá?
Vamos primeiro fazer as Fnac’s em Maio. Confesso que nunca tive um concerto no Porto e que adorava ter um dia essa possibilidade. Se calhar em breve!
O que é que acha que os portugueses desconhecem ainda do Telmo Pires?
Que gosto muito de comida portuguesa! E do Norte de Portugal!! António Gomes Costa
“Ser Fado” é o seu quinto álbum, que será apresentado no próximo dia 19, no Museu do Fado, em Lisboa. Qual é a melhor forma de descrevermos este disco?
Telmo Pires – “Ser Fado” capta toda a minha evolução artística dos últimos três anos. O que sou, o que faço, como vivo e o que amo. Enfrentei novos desafios no meio do Fado. Colaborei com músicos excepcionais, com poetas jovens, contemporâneos. Concentrei-me e dediquei-me mais ao fado tradicional na sua forma mais pura, mas não deixei de incluir novos temas que, se calhar, um dia, se tornaram fados.
Porquê a escolha do single de apresentação “Fado Fantasma”?
O “Fado triplicado”, como se chama o tradicional, com um lindo poema de Nuno Miguel Guedes, foi por acaso o primeiro tema que gravei para o álbum. Fez todo o sentido lançá-lo como o single de apresentação porque representa perfeitamente o caminho que eu percorro de momento: o meu respeito pelo fado tradicional, pelos seus grandes músicos e compositores, mas ao mesmo tempo juntar algo de novo… dar vida a um novo poema que ninguém ainda cantou e assim também contribuir com o que posso como intérprete à divulgação da ‘canção portuguesa’.
Este é o segundo disco a ser gravado em Portugal…
Sim. Em 2010, depois de ter já lançado três álbuns na Alemanha, conduzido pelo amor a Portugal, pela paixão por Lisboa, pela cultura e música portuguesa, decidi ficar em Lisboa e, sendo assim, arriscar e recomeçar completamente do zero. Passei meses a conhecer as casas de fado, a conhecer colegas, músicos, tentar encontrar meu caminho. Tive a grande sorte de ter um grande músico, o Davide Zaccaria, a interessar-se pelo meu percurso, meu trabalho e pela forma como eu encarava o fado. Conhecia o nome Zaccaria de CD’s e concertos da Dulce Pontes, com quem ele trabalha há 12 anos. Para mim foi um sonho que se tornou realidade: poder trabalhar com esse músico ao mais alto nível. É a isso, a estes momentos, estes cruzamentos de vidas, que eu também chamo Fado! Desse trabalho em conjunto surgiu o álbum Fado Promessa, que foi produzido por Davide Zaccaria, lançado internacionalmente no final de 2012. O sucesso e as boas críticas levaram-me naturalmente ao trabalho para o próximo álbum: “Ser Fado”.
Neste novo disco encontramos quatro temas assinados por si, alguns inéditos e um tema de António Variações. Como é que chega até esta canção?
É este outro momento Fado que aconteceu. Sempre adorei António Variações, mas nunca me atrevi a fazer um ‘cover’ de temas conhecidos. “Ao passar por Braga abaixo”, um tema inédito que o Variações nunca chegou a gravar, é um dos maiores tesouros que recebi até hoje. O meu álbum Fado Promessa chegou às mãos do irmão de António há dois anos. Depois conhecemo-nos pessoalmente. Ele gostou da minha voz, do meu trabalho e se calhar também do facto de eu ser, como a família deles, “homem do norte”. Um dia recebi um e-mail com uma maquete original da voz do António onde canta duas estrofes da melodia de “Ao passar por Braga abaixo”. Foi daí que nasceu a minha versão, que neste caso é o original. Fiz questão de ter o irmão de António, o Ribeiro, presente na gravação do tema. Ele gostou, aprovou… e eu fiquei a pessoa mais feliz do mundo.
Neste disco é visível um Telmo mais maduro profissionalmente. É um disco de mudança e que marca uma nova etapa da sua carreira?
Nós estamos sempre a crescer e a evoluir, seja pessoalmente, seja, no meu caso, como artista. A vida e tudo que acontece, o que nos marca… o bom e o mal, tudo fica dentro de nós. Estamos sempre a aprender, sempre a amadurecer, somos eternos estudantes da vida. Claro que os anos marcam. As minhas interpretações, a minha forma de estar, de ser, vai alterando consoante às experiências que faço. “Ser Fado” é o meu trabalho mais próximo do fado e forma uma nova base… um novo ponto de partida.
Quer com isso dizer que é um disco onde se quer mostrar de forma mais alargada ao público?
Como artista é muito natural que queiramos chegar ao maior público possível, dar a conhecer o nosso trabalho na esperança de que haja pessoas a sentir e pensar duma forma semelhante e a quem consigamos tocar. É esse o objectivo de toda a arte: de tocar nas almas e nos corações de pessoas. O meu primeiro álbum aqui gravado foi também o meu primeiro passo em Portugal… que para mim já foi um grande passo. Com Ser Fado quero dar uma continuidade, dar um segundo e depois um terceiro passo. Sei que muitas pessoas aguardam este álbum… dentro e fora de Portugal. Saber isso deixa-me muito feliz… e fico feliz com todo o público que chegue a ter. Com este e com futuros trabalhos.
“Ser Fado” sucede “Fado Promessa”, editado em 2012. Que diferença existe entre estes dois discos?
“Fado Promessa” foi a primeira experiência feita em Portugal. Com grandes músicos da área do fado, um processo que se estendeu por quase um ano. Foi uma fase de início total. Em “Ser Fado” sinto que estou mais ‘à vontade’ comigo próprio, mas também com os músicos, com a maneira de trabalhar. Tenho maior confiança em mim, naquilo que faço e no que decido. Fui eu que escolhi inteiramente os temas que gravei, os poetas, os meus poemas… tenho 100 por cento da responsabilidade e não foi problema nenhum assumi-la.
Qual é o lugar que acha que ocupa neste momento no fado em Portugal?
Bem. Ainda me estou a dar a conhecer. A maior parte das pessoas que me conheceram em Portugal nem sabem que já editei três álbuns antes de chegar cá. Espero um dia ocupar um maior.
Os Fados de Amália Rodrigues e de Carlos do Carmo serviram de inspiração para aquilo que é hoje?
Foram as vozes de Amália e de Carlos do Carmo que me marcaram desde miúdo e que eu mais tarde redescobri. A genialidade e simplicidade na interpretação, a entrega e coragem são os atributos que estão ligados com eles. No fado são essas as minhas referências.
Nasceu em Bragança mas não cresceu em Portugal. Sentiu falta de cantar em casas de fado, clubes de fado?
Cantei a primeira vez numa casa de fado em Lisboa em 2010, ano em que decidi ficar cá. Não tive o privilégio de ter acesso a casas de fado, de lidar com o fado diariamente como quem viveu e cresceu em Portugal, especialmente em Lisboa. Mas tive outros: notei muito cedo que tudo que quero, sou eu que tenho que aprender, não havia ninguém a ensinar. Saí de casa aos 19 e só sabia que queria fazer música, que queria cantar. As coisas pouco a pouco foram surgindo, aprendi a estar em palco, fiz teatro, tive aulas de canto, aprendi cedo a estar sozinho só com um pianista em palco e fazer concertos de quase duas horas, isto a partir dos meus 20 anos. Foi essa a minha ‘escola’.
Quer com isso dizer que a forma como vê o fado é diferente de grande parte dos fadistas nacionais?
Vejo o fado como qualquer outra música. Acho que nós todos sentimos o mesmo amor pelo fado e fazemos dele a nossa vida ou uma grande parte da vida. O fado conta histórias, fala de tudo o que tem a ver com a vida e nós, os intérpretes, cantores, fadistas, somos o mero veículo para dar vida a essas histórias… aos poemas que um poeta escreveu. Nós cantamos “em função” da música, não é a música que existe em “nossa” função. Temos é a sorte de poder encher os poemas e essas histórias com a nossa personalidade, com as nossas experiências e emoções e isso é que torna cada um de nós único. Eu vejo o fado como qualquer outra música que temos que entregar ao mundo. Como aconteceu com o Jazz, o Flamenco, o Tango, o Blues, Chanson, não pode ser só uma música “nossa” cá de nós em Portugal. O fado é muito maior e está no caminho certo.
Mas cantar fado virou ou não uma moda em Portugal?
Não sei se ‘moda’ é a palavra certa. Há uma grande evolução no fado. Há muita gente nova a cantar fado. Pertence à identidade portuguesa e está a ser redescoberto. Há novas gerações a apaixonarem-se pelo fado, jovens músicos muito bons que se dedicam ao estudo da guitarra portuguesa, é o começo duma nova era. Certamente vai muito mais além de ser só uma ‘moda’ temporal. Eu bem o espero.
O que é que acha que os portugueses podem ainda esperar de si enquanto fadista?
Deixe-me cá pensar… (pausa). Só posso dizer o que eu próprio espero de mim: mais fado, bom fado!
Aquilo que muita gente não sabe é que vem do mundo do teatro…
Dei os meus primeiros passos no teatro. Depois de ter terminado como vocalista de bandas de pop e rock, decidi fazer algo completamente diferente. Aperfeiçoar a dicção, interpretar poemas, representar. Fiz isso durante uns tempos até que o director dum teatro (bastante pequeno) viu que a minha paixão era cantar, gostou das minhas ideias e disponibilizou o teatro para um dos meus primeiros concertos a solo. Depois ainda continuei com teatro e mais tarde também participei num filme.
Essa experiência ajuda-o enquanto fadista, ou seja, canta fado sempre de maneira diferente?
Ajuda-me como artista de palco em geral. A colocar-me por detrás da música e do poema, tentar mostrar vários lados de mim, várias caras e maneiras. Tornar assim todos os temas diferentes.
De todos estes anos de profissão, qual terá sido o momento mais alto da sua carreira?
Houve vários momentos que vão ficar sempre na minha memória. Acho que eu comecei a valorizar-me mais a mim próprio desde que estou em Lisboa. Porque aqui enfrentamos a realidade do que hoje é o fado, temos fabulosos e fabulosas colegas à nossa volta e muitos novos a aparecer. O ser reconhecido neste meio é algo que nos deixa muito feliz. Um dos meus momentos altos foi o convite para apresentar o meu álbum “Fado Promessa”, em Julho de 2014, no Museu do Fado, em Lisboa. Esse reconhecimento elevou-me a um novo patamar.
Ser cantor, autor e compositor tem uma responsabilidade acrescida?
Acho que a responsabilidade como artista de levar qualquer um tema ou poema ao palco, seja esse escrito por nós próprios ou por outros, é sempre igual. No momento de gravar, ou de apresentar em concerto, não importa quem ‘o fez’. Tenho que me identificar 100% com o que faço e saber onde quero chegar com o que faço. Trato todos os poemas e músicas que escolho para interpretar por igual. Não há diferença.
O fado é muito mais do que uma voz e uma guitarra?
É sim.
O que mais gosta na cidade do Porto?
Gosto muito do facto que fica perto de Bragança… onde nasci! (risos).O Porto tem um grande peso na minha história. Foi do Porto que os meus pais partiram comigo para uma ‘nova vida’ quando eu tinha 2 anos e meio. Viajámos de Bragança de comboio… ainda havia a velha ligação. Ficámos uma noite e na manhã do dia 1 de Novembro partimos para a Alemanha. Fui… mas o meu coração ficou no Porto à minha espera.
Para quando um espectáculo por cá?
Vamos primeiro fazer as Fnac’s em Maio. Confesso que nunca tive um concerto no Porto e que adorava ter um dia essa possibilidade. Se calhar em breve!
O que é que acha que os portugueses desconhecem ainda do Telmo Pires?
Que gosto muito de comida portuguesa! E do Norte de Portugal!! António Gomes Costa
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