Amália Rodrigues - Amália canta Portugal
Discos - Outubro 01, 2016
Amália, segura das suas raízes e da sua autenticidade num género que nunca viu a uma distância científica, criou um cancioneiro seu, sem precisar de selos de legitimidade.
Quem conhece os estudos do folclore português anteriores a estes discos de Amália, facilmente pode julgar o cancioneiro popular aqui reunido uma espécie de “contrafação folclórica” – expressão usada por Fernando Lopes Graça, n’A Canção Popular Portuguesa, de 1953, quando critica os “fornecedores do repertório musical ligeiro [que] inundam o mercado com os seus ‘arranjos folclóricos’” e a forma como “as vedetas da rádio brilham no ‘estilo folclórico’”.
Mas na voz de Amália o folclore nunca é uma falsificação.
“Se fosse de um rancho folclórico cantava exatamente como canto e ninguém me mandava cantar de outra maneira (…) Canto como uma pessoa que anda a cantar no campo, ou na rua. É mesmo cantar cantando”. E Amália também se diferencia: “As autênticas cantoras de folclore têm aquelas vozes lá em cima. As cançonetistas não têm nada a ver. É um cantar cantado.“ (Vítor Pavão dos Santos, Amália Uma Biografia, 1987).
Se o “cantar cantando” de Amália conserva a emissão natural e o despretensiosismo do canto popular, o seu gosto leva-a por vezes a modificar, e até criar, repertório, misturando quadras de diferentes regiões e ousando novos andamentos em melodias tradicionalmente cantadas doutra forma – nada que os "verdadeiros" intérpretes do folclore não façam.
Amália, segura das suas raízes e da sua autenticidade num género que nunca viu a uma distância científica, criou um cancioneiro seu, que sem precisar de selos de legitimidade levou ao grande público, tal como tinha feito com o Fado.
Se Amália não os tivesse cantado, ter-se-iam tornado o “Malhão de Águeda” ou a “Tirana de Paços” tão universais, e ao mesmo tempo tão identificáveis com Portugal?
Algum deste folclore foi também um surpreendente impulsionador de alegria nos seus recitais – a genial concepção de espectáculo que Amália sempre teve inventou alinhamentos perfeitos de dramatismo e euforia. E, se no início foi sobretudo a canção espanhola a fazer esse contraste, a partir dos anos setenta seria o folclore português a conseguir a comunhão rítmica com o público, que tão bem preparava ou desanuviava toda a tragédia que atingia no Fado.
O folclore também foi, cronologicamente, o último género conquistado por Amália. Depois do fado tradicional e das marchas de Lisboa; depois das canções e dos fados musicados, trazidos do teatro; depois do flamenco, cantigas brasileiras, rancheras e dos outros “cancioneiros” estrangeiros que foi experimentando; e depois do “fado erudito” de Alain Oulman, Amália graças ao folclore, encarnou de forma ainda mais sedutora a alma musical portuguesa.
“A minha família vem da região da Beira-Baixa, onde os camponeses, ao trabalhar a terra, entoavam cantos populares transmitidos de pai para filho, e descendentes directos da escola gregoriana. Transmissão pelo sangue com influência da melhor modulação. Acredito que aprendi a cantar antes de falar.” (entrevista Oggi 5.9.1972)
Mas na voz de Amália o folclore nunca é uma falsificação.
“Se fosse de um rancho folclórico cantava exatamente como canto e ninguém me mandava cantar de outra maneira (…) Canto como uma pessoa que anda a cantar no campo, ou na rua. É mesmo cantar cantando”. E Amália também se diferencia: “As autênticas cantoras de folclore têm aquelas vozes lá em cima. As cançonetistas não têm nada a ver. É um cantar cantado.“ (Vítor Pavão dos Santos, Amália Uma Biografia, 1987).
Se o “cantar cantando” de Amália conserva a emissão natural e o despretensiosismo do canto popular, o seu gosto leva-a por vezes a modificar, e até criar, repertório, misturando quadras de diferentes regiões e ousando novos andamentos em melodias tradicionalmente cantadas doutra forma – nada que os "verdadeiros" intérpretes do folclore não façam.
Amália, segura das suas raízes e da sua autenticidade num género que nunca viu a uma distância científica, criou um cancioneiro seu, que sem precisar de selos de legitimidade levou ao grande público, tal como tinha feito com o Fado.
Se Amália não os tivesse cantado, ter-se-iam tornado o “Malhão de Águeda” ou a “Tirana de Paços” tão universais, e ao mesmo tempo tão identificáveis com Portugal?
Algum deste folclore foi também um surpreendente impulsionador de alegria nos seus recitais – a genial concepção de espectáculo que Amália sempre teve inventou alinhamentos perfeitos de dramatismo e euforia. E, se no início foi sobretudo a canção espanhola a fazer esse contraste, a partir dos anos setenta seria o folclore português a conseguir a comunhão rítmica com o público, que tão bem preparava ou desanuviava toda a tragédia que atingia no Fado.
O folclore também foi, cronologicamente, o último género conquistado por Amália. Depois do fado tradicional e das marchas de Lisboa; depois das canções e dos fados musicados, trazidos do teatro; depois do flamenco, cantigas brasileiras, rancheras e dos outros “cancioneiros” estrangeiros que foi experimentando; e depois do “fado erudito” de Alain Oulman, Amália graças ao folclore, encarnou de forma ainda mais sedutora a alma musical portuguesa.
“A minha família vem da região da Beira-Baixa, onde os camponeses, ao trabalhar a terra, entoavam cantos populares transmitidos de pai para filho, e descendentes directos da escola gregoriana. Transmissão pelo sangue com influência da melhor modulação. Acredito que aprendi a cantar antes de falar.” (entrevista Oggi 5.9.1972)
Frederico Santiago
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