Aldina Duarte: "Canto com o que sou mas não sou de me cantar a mim"
Interviews - Novembro 03, 2017
“Quando Se Ama Loucamente” é o título do álbum e de um dos temas do alinhamento, que tem assinatura de Manel Cruz, ex-vocalista dos Ornatos Violeta.
O disco é um tributo à escritora Maria Gabriela Llansol e um dos diferentes projetos que ocupa Aldina Duarte, neste momento.
Disco esse que sai em outubro e sobre o qual tem vindo a desvendar alguns detalhes. Um deles é o título do álbum, “Quando Se Ama Loucamente”, cuja faixa com o mesmo nome é da autoria de Manel Cruz, ex-vocalista dos Ornatos Violeta. É um nome que associado ao fado é uma surpresa. Como surgiu essa participação?
Estava em casa, fui ao email de manhã, como é habitual e tinha um tema que o Manel Cruz fez, dedicado a mim, e fiquei espantada. Eu sou fã dele desde sempre, mas não sabia que ele também gostava tanto e admirava tanto o meu trabalho – como ele me veio a dizer – ao ponto de, do nada, fazer um tema a pensar em mim. Isso é muito tocante.
Isso quer dizer que este disco será mais do que fado, com outros géneros musicais?
Não há nada que seja mais do que fado. Nada [risos].
Portanto, foi o Manel Cruz que veio ao encontro do fado?
Eu acho que é um encontro do Manel Cruz comigo e com o meu fado. Não sei se o Manel Cruz terá essa ligação ao fado, mas a mim tem e ao meu fado também.
Voltando ao concerto desta noite. O público deste tipo de espetáculos é diferente.
Sim, eu venho aqui desde jovem assistir a concertos de vários estilos musicais. E este público está habituado a ouvir música e em Lisboa tenho um público fiel, que me acompanha e sabe ao que vem.
Mas aqui vão juntar-se outros…
Outros públicos. Exato. Que eu espero que seja, numa parte, aquele público de que eu estou habituada a fazer parte quando estou a ouvir outros concertos, que é um público maravilhoso: sabe ouvir, sabe aplaudir, sabe participar como público.
Muitos também a ouvirão pela primeira vez, porque este é também um local de passagem e turístico. Tem alguma expectativa em relação a isso?
Não, eu não penso nisso. Nunca penso nos resultados nesse aspeto. A minha única preocupação atualmente, depois de algumas conquistas que fiz, ao nível do público e do percurso que me propus a fazer, que era bastante arriscado porque era demasiado singular, é não defraudar quem me ouve e me acompanha há tantos anos e me permite existir enquanto fadista a fazer o que quero. Podia não ter resultado e há muitas pessoas na minha área artística, com muito mais sucesso do que eu. Mas nada ocupou o meu espaço e isso foi bom. E estar cá há 20 e tal anos é maravilhoso.
Está a trabalhar num texto com a atriz Maria João Luís. O que nos pode contar sobre isso?
São quatro espetáculos, a partir do [livro] ‘Finisterra’, do Carlos Oliveira. Isto é outra aventura paralela em que eu estou e em que eu espero permanecer, primeiro porque sou uma admiradora do trabalho incondicional da Maria João Luís, andámos juntas na António Arroio quando éramos adolescentes. Acompanhei-a sempre, desde então, e ela agora propôs-me trabalhar num dos textos, para mim, mais belos da literatura portuguesa e de um dos maiores escritores de sempre. Então eu vou ser uma espécie de banda sonora daquele acontecimento, ainda que seja personagem e que também leia partes do texto. Já temos quatro espetáculos marcados, em novembro e em dezembro, fora de Lisboa. Neste momento, é um desafio, a par do meu novo disco, deste concerto no Largo São Carlos. Acho que as coisas vêm na altura em que estamos preparados para as receber.
E tem também um projeto no Museu do Fado.
Sim, tenho há um ano um grupo que se fidelizou e que se tornou na comunidade ‘Fado para Todos’, no Museu do Fado, que tem três temporadas bimestrais: fevereiro/março, maio/junho e outubro/novembro. É feito à semelhança de uma comunidade de leitores mas com fado. Ouvimos fados, discutem-se gostos – que é uma coisa raríssima, mas que é possível -, educa-se a audição. Além de se discutirem temas, eu também invento uns jogos, com muitas expressões artísticas, sobretudo com os poemas, as palavras – muitos jogos de palavras, que contribuem para aprofundar a relação com o fado.
Tem esses projetos, diversos, mas há uma constante na sua vida profissional: o Sr. Vinho.
Sim, há 22 anos. Canto de terça a sábado, no Sr. Vinho [casa de fados situada na zona da Lapa, em Lisboa]. Só não estou quando estou em concertos ou a fazer outras coisas. Eu tenho uma relação com o senhor vinho que é um amor de uma vida inteira. Nunca me imaginei, pela minha natureza um pouco selvage, que poderia conseguir encontrar um espaço onde ficaria a cumprir uma rotina com tanto gosto e com tão bons resultados. É ali que eu cresço artisticamente, é naquela rotina que me aperfeiçoo. É a minha oficina, o meu espaço sagrado, o mais sagrado de todos antes de todos. Nunca um concerto seja onde for será mais importante que uma noite no senhor vinho para mim.
Disco esse que sai em outubro e sobre o qual tem vindo a desvendar alguns detalhes. Um deles é o título do álbum, “Quando Se Ama Loucamente”, cuja faixa com o mesmo nome é da autoria de Manel Cruz, ex-vocalista dos Ornatos Violeta. É um nome que associado ao fado é uma surpresa. Como surgiu essa participação?
Estava em casa, fui ao email de manhã, como é habitual e tinha um tema que o Manel Cruz fez, dedicado a mim, e fiquei espantada. Eu sou fã dele desde sempre, mas não sabia que ele também gostava tanto e admirava tanto o meu trabalho – como ele me veio a dizer – ao ponto de, do nada, fazer um tema a pensar em mim. Isso é muito tocante.
Isso quer dizer que este disco será mais do que fado, com outros géneros musicais?
Não há nada que seja mais do que fado. Nada [risos].
Portanto, foi o Manel Cruz que veio ao encontro do fado?
Eu acho que é um encontro do Manel Cruz comigo e com o meu fado. Não sei se o Manel Cruz terá essa ligação ao fado, mas a mim tem e ao meu fado também.
Voltando ao concerto desta noite. O público deste tipo de espetáculos é diferente.
Sim, eu venho aqui desde jovem assistir a concertos de vários estilos musicais. E este público está habituado a ouvir música e em Lisboa tenho um público fiel, que me acompanha e sabe ao que vem.
Mas aqui vão juntar-se outros…
Outros públicos. Exato. Que eu espero que seja, numa parte, aquele público de que eu estou habituada a fazer parte quando estou a ouvir outros concertos, que é um público maravilhoso: sabe ouvir, sabe aplaudir, sabe participar como público.
Muitos também a ouvirão pela primeira vez, porque este é também um local de passagem e turístico. Tem alguma expectativa em relação a isso?
Não, eu não penso nisso. Nunca penso nos resultados nesse aspeto. A minha única preocupação atualmente, depois de algumas conquistas que fiz, ao nível do público e do percurso que me propus a fazer, que era bastante arriscado porque era demasiado singular, é não defraudar quem me ouve e me acompanha há tantos anos e me permite existir enquanto fadista a fazer o que quero. Podia não ter resultado e há muitas pessoas na minha área artística, com muito mais sucesso do que eu. Mas nada ocupou o meu espaço e isso foi bom. E estar cá há 20 e tal anos é maravilhoso.
Está a trabalhar num texto com a atriz Maria João Luís. O que nos pode contar sobre isso?
São quatro espetáculos, a partir do [livro] ‘Finisterra’, do Carlos Oliveira. Isto é outra aventura paralela em que eu estou e em que eu espero permanecer, primeiro porque sou uma admiradora do trabalho incondicional da Maria João Luís, andámos juntas na António Arroio quando éramos adolescentes. Acompanhei-a sempre, desde então, e ela agora propôs-me trabalhar num dos textos, para mim, mais belos da literatura portuguesa e de um dos maiores escritores de sempre. Então eu vou ser uma espécie de banda sonora daquele acontecimento, ainda que seja personagem e que também leia partes do texto. Já temos quatro espetáculos marcados, em novembro e em dezembro, fora de Lisboa. Neste momento, é um desafio, a par do meu novo disco, deste concerto no Largo São Carlos. Acho que as coisas vêm na altura em que estamos preparados para as receber.
E tem também um projeto no Museu do Fado.
Sim, tenho há um ano um grupo que se fidelizou e que se tornou na comunidade ‘Fado para Todos’, no Museu do Fado, que tem três temporadas bimestrais: fevereiro/março, maio/junho e outubro/novembro. É feito à semelhança de uma comunidade de leitores mas com fado. Ouvimos fados, discutem-se gostos – que é uma coisa raríssima, mas que é possível -, educa-se a audição. Além de se discutirem temas, eu também invento uns jogos, com muitas expressões artísticas, sobretudo com os poemas, as palavras – muitos jogos de palavras, que contribuem para aprofundar a relação com o fado.
Tem esses projetos, diversos, mas há uma constante na sua vida profissional: o Sr. Vinho.
Sim, há 22 anos. Canto de terça a sábado, no Sr. Vinho [casa de fados situada na zona da Lapa, em Lisboa]. Só não estou quando estou em concertos ou a fazer outras coisas. Eu tenho uma relação com o senhor vinho que é um amor de uma vida inteira. Nunca me imaginei, pela minha natureza um pouco selvage, que poderia conseguir encontrar um espaço onde ficaria a cumprir uma rotina com tanto gosto e com tão bons resultados. É ali que eu cresço artisticamente, é naquela rotina que me aperfeiçoo. É a minha oficina, o meu espaço sagrado, o mais sagrado de todos antes de todos. Nunca um concerto seja onde for será mais importante que uma noite no senhor vinho para mim.
Related Articles
Add Comment