O fado no Brasil - Gilda Valença
Gilda Valença, ou melhor, Ermenegilda de Abreu Pereira, é lisboeta de nascimento. Irmã da cantora Éster de Abreu e da atriz Julieta Valença.
Deu os primeiros passos na carreira artística em 1938 em programas infantis na Emissora Nacional de Lisboa, lá demonstrou logo o seu gosto pela arte. Cantou no coro do programa infantil da Emissora Nacional, quando as aulas do colégio de Santo António o permitiam. Ao final dos estudos formou-se perito-contadora.
Sendo observada por vários directores radiofónicos, recebeu um convite para actuar na Rádio Renascença para se tornar uma profissional. Mas teve que deixar as lides radiofónicas para cuidar do lar, em virtude de se ter casado muito jovem.
Os artistas brasileiros que tiveram a oportunidade de fazer turnês em terras lusas, sempre encontraram em Lisboa, uma cantora portuguesa que os acercava de atenções e carinho, a Gilda de Abreu!
Chegou ao Brasil em setembro de 1949, veio a convite de Julieta Valença, que já residia no Rio desde 1938, quando aqui se apresentou como artista da Companhia Teatral de Estevão Amarante. Julieta era bastante estimada por suas irmãs, era quem as incentivava e confortava sempre que preciso.
Numa festa em casa de amigos Gilda cantou uns fados. Lá estavam o compositor Fernando Lobo e a sambista Aracy de Almeida, que se entusiasmaram com a voz da bela cachopa. Recomendaram-na a Luiz Jatobá, da TV Tupi, ela foi cantar num programa com Ary Barroso. Bonita e simpática logo ganhou aceitação do público e o sucesso da crítica. Precisou mudar o seu nome artístico de Gilda de Abreu, por ser homônimo a consagrada estrela brasileira, esposa de Vicente Celestino. Passou a ser a Gilda Valença, já que sua irmã Julieta utilizava o sobrenome “Valença”.
De volta a Portugal, Amadeu do Vale levou-a para o teatro para trabalhar com Graziela Mendes no “Variedades”, na peça “Ó Papão, vai-te embora…” No “Monumental”, atuou com João Villaret e Laura Alves, na revista “Lisboa nova”.
Todavia, ela sentia saudades das irmãs, do Rio, do ambiente e dos amigos que deixara no Brasil. Veio definitivamente para o Brasil em agosto de 1952.
Luiz Galvão estava às vésperas de estrear a sua Companhia de Revistas no Teatro Recreio, com a peça “Que espeto, seu Felipeto”, com Colé, Silva Filho, Déo Maia, Íris Del Mara, Joana D’Arc, Manoel Vieira e outros. Quase no dia da estreia Gilda é chamada para substituir uma colega. Fez o que pode, o êxito foi imediato junto do público carioca e da crítica.
Enquanto fazia teatro, foi para o show da boate Night and Day, na madrugada. Estrelou no pocket show “Alô Carnaval”, com Armando Nascimento. Aos poucos tornou-se a intérprete do fado no teatro.
Não demorou muito para se adaptar aos ares cariocas. A intérprete lusa não podia ficar indiferente à música popular brasileira, ainda mais dentro do teatro de revista.
Em janeiro/53 aparecia semanalmente na telinha da TV Tupi. Na mesma época, apresentou João Villaret ao público do Rio. Gilda estava no teatro Recreio e na boate Night and Day, em shows de Ary Barroso.
O empresário Walter Pinto contratou a estrela lusa, apresentou-a na revista “É fogo na jaca”, dentro de um grandioso quadro português. Gilda cantou a música “Uma casa portuguesa”, obtendo a consagração do público. Este foi o seu grande sucesso, o “carro-chefe” da sua carreira.
Em 1954 foi contratada pela Rádio Mayrink Veiga onde permaneceu muito tempo, trabalhou em ótimos programas semanais.
Em 1955, gravou o fado “Penso que sei, mas não sei”, de Casimiro Silva e a toada “Canção do moinho”, de Amadeu do Vale e Carlos Dias. No mesmo ano gravou as marchas “Uvas pretas” e “Quanta coisa boa”, as duas de Pedro Caetano e Carlos Renato. Em 1956, gravou o fado slow “Lisboa antiga”, de R. Portela, Vale e J. Galhardo, e a marcha “Cantiga de rua”, de João Bastos e Antônio Melo. No mesmo ano gravou a toada “Praias de Nazaré”, de Humberto Teixeira. A artista gravou diversos discos 78 rotações na etiqueta Sinter, e lançou cerca de seis LP’s. O seu repertório sempre primou pelas músicas brejeiras.
Em 1957, Gilda era a estrela principal de “Portugal de perto e de longe”, programa radiofónico de Eugênio Lyra Filho, da Rádio Mundial. Ainda em 57 gravou o LP “Seleções de ‘A Severa’ de Júlio Dantas” (Sinter), com música de Frederico de Freitas e direção musical de Alexandre Gnatalli. A ideia deste LP surgiu após a artista interpretar a personagem Severa [do escritor Júlio Dantas] numa adaptação de Brício de Abreu para a TV Tupi, dentro do programa “Câmera Um”, de Jacy Campos. Neste ano também foi a criadora do “Canto a Portugal”, fado-marcha composto especialmente em homenagem ao presidente Craveiro Lopes por ocasião da sua visita às terras brasileiras.
Fixou residência em Copacabana, vizinha de sua irmã Ester. Realizou excursões por todo o país. Viajou para o exterior, inclusive, esteve duas vezes nos Estados Unidos.
De 1966 a68, a cantora e o fadista Manoel Monteiro comandaram o programa “Revista do Rádio em Portugal”, idealizado e patrocinado por Anselmo Domingos (diretor do semanário “Revista do Rádio”), na Rádio Vera Cruz. Muitos outros intérpretes também participaram desta audição dominical. Numa época em que já não se usava a música ao vivo pelo Rádio, este programa permanecia no velho sistema. O acompanhamento de guitarras portuguesas e viola ficava a cargo de Leonel Vilar, José Rocha e António Rodrigues.
A partir da década de 1960, Gilda Valença passa a atuar mais na televisão, participou em diversas novelas da TV Tupi: “Antônio Maria” (1968), “Amália” (1969) e “A Fábrica” (1971).
Sua estreia no cinema brasileiro deu-se em 1954 quando participou do filme “O petroléo é nosso”, cantando “Uma casa portuguesa”. Regressou ao cinema 19 anos depois, quando o popular ator e produtor Mazzaropi a convidou para atuar nas suas produções. Trabalhou com Mazzaropi de 1973 até 1980. A película de maior sucesso foi Portugal… minha saudade (1973).
Seu falecimento aconteceu no ano de 1983, no Rio de Janeiro, após grave enfermidade.`
Thais Matarazzo
Sendo observada por vários directores radiofónicos, recebeu um convite para actuar na Rádio Renascença para se tornar uma profissional. Mas teve que deixar as lides radiofónicas para cuidar do lar, em virtude de se ter casado muito jovem.
Os artistas brasileiros que tiveram a oportunidade de fazer turnês em terras lusas, sempre encontraram em Lisboa, uma cantora portuguesa que os acercava de atenções e carinho, a Gilda de Abreu!
Chegou ao Brasil em setembro de 1949, veio a convite de Julieta Valença, que já residia no Rio desde 1938, quando aqui se apresentou como artista da Companhia Teatral de Estevão Amarante. Julieta era bastante estimada por suas irmãs, era quem as incentivava e confortava sempre que preciso.
Numa festa em casa de amigos Gilda cantou uns fados. Lá estavam o compositor Fernando Lobo e a sambista Aracy de Almeida, que se entusiasmaram com a voz da bela cachopa. Recomendaram-na a Luiz Jatobá, da TV Tupi, ela foi cantar num programa com Ary Barroso. Bonita e simpática logo ganhou aceitação do público e o sucesso da crítica. Precisou mudar o seu nome artístico de Gilda de Abreu, por ser homônimo a consagrada estrela brasileira, esposa de Vicente Celestino. Passou a ser a Gilda Valença, já que sua irmã Julieta utilizava o sobrenome “Valença”.
De volta a Portugal, Amadeu do Vale levou-a para o teatro para trabalhar com Graziela Mendes no “Variedades”, na peça “Ó Papão, vai-te embora…” No “Monumental”, atuou com João Villaret e Laura Alves, na revista “Lisboa nova”.
Todavia, ela sentia saudades das irmãs, do Rio, do ambiente e dos amigos que deixara no Brasil. Veio definitivamente para o Brasil em agosto de 1952.
Luiz Galvão estava às vésperas de estrear a sua Companhia de Revistas no Teatro Recreio, com a peça “Que espeto, seu Felipeto”, com Colé, Silva Filho, Déo Maia, Íris Del Mara, Joana D’Arc, Manoel Vieira e outros. Quase no dia da estreia Gilda é chamada para substituir uma colega. Fez o que pode, o êxito foi imediato junto do público carioca e da crítica.
Enquanto fazia teatro, foi para o show da boate Night and Day, na madrugada. Estrelou no pocket show “Alô Carnaval”, com Armando Nascimento. Aos poucos tornou-se a intérprete do fado no teatro.
Não demorou muito para se adaptar aos ares cariocas. A intérprete lusa não podia ficar indiferente à música popular brasileira, ainda mais dentro do teatro de revista.
Em janeiro/53 aparecia semanalmente na telinha da TV Tupi. Na mesma época, apresentou João Villaret ao público do Rio. Gilda estava no teatro Recreio e na boate Night and Day, em shows de Ary Barroso.
O empresário Walter Pinto contratou a estrela lusa, apresentou-a na revista “É fogo na jaca”, dentro de um grandioso quadro português. Gilda cantou a música “Uma casa portuguesa”, obtendo a consagração do público. Este foi o seu grande sucesso, o “carro-chefe” da sua carreira.
Em 1954 foi contratada pela Rádio Mayrink Veiga onde permaneceu muito tempo, trabalhou em ótimos programas semanais.
Em 1955, gravou o fado “Penso que sei, mas não sei”, de Casimiro Silva e a toada “Canção do moinho”, de Amadeu do Vale e Carlos Dias. No mesmo ano gravou as marchas “Uvas pretas” e “Quanta coisa boa”, as duas de Pedro Caetano e Carlos Renato. Em 1956, gravou o fado slow “Lisboa antiga”, de R. Portela, Vale e J. Galhardo, e a marcha “Cantiga de rua”, de João Bastos e Antônio Melo. No mesmo ano gravou a toada “Praias de Nazaré”, de Humberto Teixeira. A artista gravou diversos discos 78 rotações na etiqueta Sinter, e lançou cerca de seis LP’s. O seu repertório sempre primou pelas músicas brejeiras.
Em 1957, Gilda era a estrela principal de “Portugal de perto e de longe”, programa radiofónico de Eugênio Lyra Filho, da Rádio Mundial. Ainda em 57 gravou o LP “Seleções de ‘A Severa’ de Júlio Dantas” (Sinter), com música de Frederico de Freitas e direção musical de Alexandre Gnatalli. A ideia deste LP surgiu após a artista interpretar a personagem Severa [do escritor Júlio Dantas] numa adaptação de Brício de Abreu para a TV Tupi, dentro do programa “Câmera Um”, de Jacy Campos. Neste ano também foi a criadora do “Canto a Portugal”, fado-marcha composto especialmente em homenagem ao presidente Craveiro Lopes por ocasião da sua visita às terras brasileiras.
Fixou residência em Copacabana, vizinha de sua irmã Ester. Realizou excursões por todo o país. Viajou para o exterior, inclusive, esteve duas vezes nos Estados Unidos.
De 1966 a68, a cantora e o fadista Manoel Monteiro comandaram o programa “Revista do Rádio em Portugal”, idealizado e patrocinado por Anselmo Domingos (diretor do semanário “Revista do Rádio”), na Rádio Vera Cruz. Muitos outros intérpretes também participaram desta audição dominical. Numa época em que já não se usava a música ao vivo pelo Rádio, este programa permanecia no velho sistema. O acompanhamento de guitarras portuguesas e viola ficava a cargo de Leonel Vilar, José Rocha e António Rodrigues.
A partir da década de 1960, Gilda Valença passa a atuar mais na televisão, participou em diversas novelas da TV Tupi: “Antônio Maria” (1968), “Amália” (1969) e “A Fábrica” (1971).
Sua estreia no cinema brasileiro deu-se em 1954 quando participou do filme “O petroléo é nosso”, cantando “Uma casa portuguesa”. Regressou ao cinema 19 anos depois, quando o popular ator e produtor Mazzaropi a convidou para atuar nas suas produções. Trabalhou com Mazzaropi de 1973 até 1980. A película de maior sucesso foi Portugal… minha saudade (1973).
Seu falecimento aconteceu no ano de 1983, no Rio de Janeiro, após grave enfermidade.`
Thais Matarazzo
Artigos Relacionados
Comentar