Sara Correia - Sara Correia
Discos - Setembro 18, 2018
Uma nova voz, um novo disco, um novo nome a reter no fado português. O álbum homónimo com 11 fados e a excelência de músicos como Angelo Freire, Vicky Marques e Marino de Freitas sai em Setembro, com produção de Diogo Clemente.
Sara Correia, assim baptizado porque a fadista diz cantar-se em cada um destes temas – como se neles pudesse ler-se a sua biografia, mais ou menos encapotada para ouvidos desconhecidos –, tem início com uma subtil mas inteligente apresentação do que nos espera. Fado português, espantoso tema do reportório de uma Amália Rodrigues (música de Alain Oulman para poema de José Régio) que Sara descreve como sendo “uma imensidão, o fado em pessoa”, arranca apenas com a voz da cantora, como se, por momentos, desviasse os instrumentos da nossa atenção para nos dizer aquilo a que devemos estar atentos. É uma voz de soberbo ataque, imponente, de uma projecção que nos prende à cadeira se diante dela estivermos na casa de fados onde actualmente se apresenta (Páteo de Alfama), de charmosos graves amalianos e tão cheia de uma alma tradicional que não deixa grandes dúvidas quanto à verdade que lhe pulsa nas veias. Em Fado português é quando, de facto, conseguimos enganar o artifício do estúdio e sentir Sara Correia diante de nós, a soltar um canto que é todo vísceras e emoções em rebuliço.
Daí que o álbum produzido por Diogo Clemente apenas peque quando permite que a instrumentação se torne demasiado presente e dispute a atenção da voz – o que acontece no fado-balada Agora o tempo, com a percussão desnecessária a impor-se em demasia e a limitar o alcance de Sara, e no tema final, Se o mundo dá tantas voltas, quando o arranjo para a criação de Alfredo Marceneiro com letra de Linhares Barbosa exagera o dramatismo (mesmo que aponte à subtileza) no recurso a programações e sintetizadores.
Em tudo o resto, no entanto, o tom é certeiro. E cuida de não atrapalhar o rasgo vocal de Sara Correia, tão confortável em temas mais populares (Zé Maria ou Lisboa e o Tejo) ou a rasar o fado-canção (Quando o fado passa, nos arrabaldes de Ana Moura), como nos registos mais sofridos que assume serem a sua mais enraizada natureza (excelente em Sou a casa, O meu bom ar ou Hoje). Como o marinheiro de Régio em Fado português, “que, estando triste, cantava”, também Sara Correia se sente atraída pelas letras que lhe trazem à memória os seus próprios tormentos amorosos. “Este disco”, descreve, “fala muito de amor, mas daquele amor complicado. E é uma emoção muito grande, difícil de explicar, quando cantamos aquilo por que realmente passámos. Não são só letras para fazer uma música, são histórias de vida e são histórias minhas.”
E foi precisamente para garantir que os fados deste Sara Correia lhe ficavam tão rente à pele quanto se pudessem confundir com a sua vida que, entre o momento inicial da proposta de Diogo Clemente para avançar para estúdio e a edição que acontece a 14 de Setembro, se passaram três anos de pesquisa. “Três anos muito rápidos”, diz, passados na escolha criteriosa dos fados e dos poemas a registar, no muito estudo a “ouvir quem sabe”, na escrita de versos pelo próprio próprio Clemente inspirados pelo conhecimento que tem do percurso profissional e pessoal da cantora, e numa espaçada gravação que permitiu ao álbum crescer sem pressas, à medida que os temas se iam afirmando nessa fase de peneiração. Esse regime pouco intenso havia de permitir situações como a de Sou a casa, letra de Diogo Clemente no Fado Joaquim Campos, gravado ao primeiro take, enquanto Sara Correia reagia às palavras que tinha acabado de ler.
É essa espontaneidade que conquista em Sara Correia, esse condão de fazer crer que quando a ouvimos é sempre a primeira ou segunda vez que aborda um fado, como se nem o mais clássico e remoto tradicional tivesse tempo de envelhecer um só dia na sua voz.
Daí que o álbum produzido por Diogo Clemente apenas peque quando permite que a instrumentação se torne demasiado presente e dispute a atenção da voz – o que acontece no fado-balada Agora o tempo, com a percussão desnecessária a impor-se em demasia e a limitar o alcance de Sara, e no tema final, Se o mundo dá tantas voltas, quando o arranjo para a criação de Alfredo Marceneiro com letra de Linhares Barbosa exagera o dramatismo (mesmo que aponte à subtileza) no recurso a programações e sintetizadores.
E foi precisamente para garantir que os fados deste Sara Correia lhe ficavam tão rente à pele quanto se pudessem confundir com a sua vida que, entre o momento inicial da proposta de Diogo Clemente para avançar para estúdio e a edição que acontece a 14 de Setembro, se passaram três anos de pesquisa. “Três anos muito rápidos”, diz, passados na escolha criteriosa dos fados e dos poemas a registar, no muito estudo a “ouvir quem sabe”, na escrita de versos pelo próprio próprio Clemente inspirados pelo conhecimento que tem do percurso profissional e pessoal da cantora, e numa espaçada gravação que permitiu ao álbum crescer sem pressas, à medida que os temas se iam afirmando nessa fase de peneiração. Esse regime pouco intenso havia de permitir situações como a de Sou a casa, letra de Diogo Clemente no Fado Joaquim Campos, gravado ao primeiro take, enquanto Sara Correia reagia às palavras que tinha acabado de ler.
É essa espontaneidade que conquista em Sara Correia, esse condão de fazer crer que quando a ouvimos é sempre a primeira ou segunda vez que aborda um fado, como se nem o mais clássico e remoto tradicional tivesse tempo de envelhecer um só dia na sua voz.
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