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Ana Moura, fado-glamour na catedral

Concertos - Setembro 22, 2018
Si tivesse que associar o fado de alguma forma a um templo na imaginação, diria que o fado tradicional e autêntico seria mais adequado a uma ermida ou capela do que a uma catedral.

 É o autêntico fado que "acontece" sobre o mesmo chão de um pequeno espaço, íntimo, acolhedor e próximo de uma casa de fados, que não precisa de palcos, amplificadores, holofotes ou fumo; porque trata apenas - e não é pouco - de acender o sentimento e a intimidade partilhada entre o cantor, os músicos e os espectadores, com a poesia e a música no coração.

Mas há outro fado muito mais amplo, luminoso e decorado, que é o fado-espetáculo; aquele que é feito para o grande público em espaços amplos e palcos altos, repletos de cor, luzes e efeitos especiais. É o fado que tem algum sobrenome: fado-pop, fado-world music, fado-tango; este é o que Ana Moura trouxe do seu Coruche ribatejano, onde nasceu há mais de trinta anos e onde cantou "Cavallo russo" quando era criança. Também vem de Lisboa, onde pasta e se torna fadista cantando no Sr. Vinho e onde, há alguns anos, triunfa com aplausos internacionais.

Veio para a praça da catedral, talvez porque ela mesma seja uma fadista-catedral. Não sei se é a melhor, mas certamente é um monumento fadista, cheia de esplendor, elegante e vestida com trajes negros e brancos com lantejoulas, desenvolta e bonita em um glamour bem preparado, com uma voz profunda e calorosa que transmite, assim como o outro fado castiço, sentimentos com os quais "comungar" (como dizem os portugueses), para acabar atravessados por uma emoção comum e feliz.

Os músicos que atuaram com ela - Ângelo Freire na guitarra portuguesa, Pedro Soares na viola do fado, André Moreira no baixo, Joaquim Rodrigues no teclado e Mário Costa na bateria - estiveram à altura da interpretação e transmissão emocional, conquistando um público que ficava atônito e comovido com o "Instrumental" deles sozinhos em "Variações" e com as intervenções ao lado da cantora. A atuação de Ângelo Freire foi especialmente apoteótica, sem desmerecer em nada as dos seus colegas.

Este fado-glamour, como eu chamo, de Ana Moura é necessário também para alcançar muitos, para expandir-se num mundo que tende a globalizar; para ser world-music nos cinco continentes e para todas as idades. E Ana Moura é uma fada, uma princesa e uma catedral do que poderíamos chamar de fado-glamour. Seu "É lenda na Mouraria" estremeceu, logo no início da noite; seu Fado Magala "Porque teimas neste dor" arrepiou (como dizem os portugueses para expressar "deixou a pele de galinha") e seu "Ninharia" fazia sonhar. "Malhao, malhao", canção folclórica rural portuguesa, foi uma maravilha de alegria e ritmo; também se expressou em não-fados, como "Dia de folga", "Leva-me aos fados" e outras músicas de inspiração brasileira e baladas, que também foram uma preciosidade. Mas isso é outra história, outra história que agrada às pessoas, faz bater palmas, dançar, seguir os animados ritmos, que não são fados, mas se complementam em unidade com o mundo fadista.

Ana Moura conserva e enaltece o fado, faz vibrar em seu espetáculo, que está perfeitamente articulado em todas as suas vertentes de música, luz, som, ritmo e ambiente. Ela vive o fado e tem alma de fadista, uma alma como uma catedral.

Ela esteve em Oviedo há alguns anos, no Teatro Filarmônica, e nos próximos dias irá para a Ópera de Sydney, mas não seria nada mau, seria óptimo, se ela pudesse voltar mais tarde...
Ángel García Prieto


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