Cristina Branco: "No Japão pedem-nos as letras com meses de antecedência"
Interviews - Outubro 14, 2018
Cantora aborda não só o regresso aos palcos internacionais, mas também as reações à sua música um pouco por todo o mundo e a empatia especial com Sérgio Godinho.
A presença no festival Atlântico e o regresso ao Luxemburgo traduzem-se em quê?
Tenho uma encomenda especial, não é o meu concerto habitual. Para mim é um marco porque estou a estrear uma data de canções, estou a mostrar algumas antigas também e... acho que não vou revelar mais senão vou contar tudo [risos].
Vivem aqui muitos portugueses e lusófonos como sabe já de outras presenças por cá: isso leva a uma relação especial com o país?
Aqui talvez se note melhor porque é massiva a quantidade de portugueses que cá estão.
Onde é que encontrou reações mais inesperadas à sua música?
É muito difícil. Vinte anos depois, é óbvio que há culturas que reagem à nossa música e à ocidentalidade de uma forma que, para nós, é muito peculiar. Imagine o caso do Japão em que nos pedem, com meses de antecedência, o alinhamento e as letras do que vamos cantar para poderem traduzir. E depois é muito estranho porque, enquanto tocamos e cantamos, está uma tradução a passar lá em cima e o público está todo a olhar para lá em vez de ver o concerto! Há episódios estranhos na nossa história e na nossa estrada mas são essas histórias que fazem os nossos momentos. Depois há países com os quais me encontro mais facilmente e, por estranho que possa parecer, se calhar aquele com que me encontro mais e onde há mais empatia com a minha música é a Holanda porque foi onde tudo começou.
Chamam fado-jazz à sua música...
Ui, esse comentário é tão perigoso...
Certo, por isso pergunto se se identifica com essa classificação?
Para já, não tem de se pôr uma prateleira, isso é a tendência que as pessoas têm para nos qualificar. Neste caso não é necessário, não faz sequer sentido, não percebo tão-pouco qual é a origem dessa referência à minha música, talvez seja porque dois dos músicos vêm do jazz, mas eu e o Bernardo, o guitarrista viemos do fado, portanto está meio-meio [risos]. Acho que há uma linguagem muito cuidada e se calhar as pessoas identificam esse cuidado e alguma elegância a um género que está mais ligado ao jazz, é possível que seja por aí, não sei...
Sente-se muito orgulhosa dos letristas com quem trabalha, nomeadamente com o Sérgio Godinho: pode falar-se de uma relação especial?
Primeiro, o Sérgio é especial. Canto o Sérgio desde o meu primeiro disco, ele entra logo no 'Murmúrios' com 'As certezas do meu mais brilhante amor'. A partir daí ficámos amigos. Ao terceiro ou quarto disco, quando ganhei coragem, pela primeira vez, de pedir a autores que compusessem e escrevessem para mim, a primeira pessoa que convidei foi o Sérgio. Fez o 'Bomba-relógio', mas entretanto fiz várias coisas dele como a 'Alice no país dos matraquilhos', este tem 'A Armadilha', sei lá, é daquelas pessoas que para mim são incontornáveis, há mesmo uma empatia. Com outros autores, mais recentes ou mais antigos, é diferente. Por exemplo, neste momento há uma relação também muito estreita com o André Henriques, porque penso que as pessoas que ouvem percebem nitidamente que aquilo que ele escreve para mim, de repente, tem uma ligação mesmo muito forte. Isto não acontece a toda a hora, encontrar um autor que é o 'nosso' autor. Com os outros se calhar as coisas renovam-se, de cada vez que voltamos à carga somos pessoas diferentes, estamos a trabalhar para um motivo e transformamo-nos naquilo que a música e o poema nos pedem.
Tenho uma encomenda especial, não é o meu concerto habitual. Para mim é um marco porque estou a estrear uma data de canções, estou a mostrar algumas antigas também e... acho que não vou revelar mais senão vou contar tudo [risos].
Vivem aqui muitos portugueses e lusófonos como sabe já de outras presenças por cá: isso leva a uma relação especial com o país?
Aqui talvez se note melhor porque é massiva a quantidade de portugueses que cá estão.
Onde é que encontrou reações mais inesperadas à sua música?
É muito difícil. Vinte anos depois, é óbvio que há culturas que reagem à nossa música e à ocidentalidade de uma forma que, para nós, é muito peculiar. Imagine o caso do Japão em que nos pedem, com meses de antecedência, o alinhamento e as letras do que vamos cantar para poderem traduzir. E depois é muito estranho porque, enquanto tocamos e cantamos, está uma tradução a passar lá em cima e o público está todo a olhar para lá em vez de ver o concerto! Há episódios estranhos na nossa história e na nossa estrada mas são essas histórias que fazem os nossos momentos. Depois há países com os quais me encontro mais facilmente e, por estranho que possa parecer, se calhar aquele com que me encontro mais e onde há mais empatia com a minha música é a Holanda porque foi onde tudo começou.
Chamam fado-jazz à sua música...
Ui, esse comentário é tão perigoso...
Certo, por isso pergunto se se identifica com essa classificação?
Para já, não tem de se pôr uma prateleira, isso é a tendência que as pessoas têm para nos qualificar. Neste caso não é necessário, não faz sequer sentido, não percebo tão-pouco qual é a origem dessa referência à minha música, talvez seja porque dois dos músicos vêm do jazz, mas eu e o Bernardo, o guitarrista viemos do fado, portanto está meio-meio [risos]. Acho que há uma linguagem muito cuidada e se calhar as pessoas identificam esse cuidado e alguma elegância a um género que está mais ligado ao jazz, é possível que seja por aí, não sei...
Sente-se muito orgulhosa dos letristas com quem trabalha, nomeadamente com o Sérgio Godinho: pode falar-se de uma relação especial?
Primeiro, o Sérgio é especial. Canto o Sérgio desde o meu primeiro disco, ele entra logo no 'Murmúrios' com 'As certezas do meu mais brilhante amor'. A partir daí ficámos amigos. Ao terceiro ou quarto disco, quando ganhei coragem, pela primeira vez, de pedir a autores que compusessem e escrevessem para mim, a primeira pessoa que convidei foi o Sérgio. Fez o 'Bomba-relógio', mas entretanto fiz várias coisas dele como a 'Alice no país dos matraquilhos', este tem 'A Armadilha', sei lá, é daquelas pessoas que para mim são incontornáveis, há mesmo uma empatia. Com outros autores, mais recentes ou mais antigos, é diferente. Por exemplo, neste momento há uma relação também muito estreita com o André Henriques, porque penso que as pessoas que ouvem percebem nitidamente que aquilo que ele escreve para mim, de repente, tem uma ligação mesmo muito forte. Isto não acontece a toda a hora, encontrar um autor que é o 'nosso' autor. Com os outros se calhar as coisas renovam-se, de cada vez que voltamos à carga somos pessoas diferentes, estamos a trabalhar para um motivo e transformamo-nos naquilo que a música e o poema nos pedem.
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