A miúda de Barcelos que não se esquece de onde veio tem uma surpresa de Natal
Interviews - Dezembro 15, 2018
A infância “pouco farta” mas com gargalhadas a toda a hora, as recordações da tia-avó Arminda, falecida há poucos dias, e os desafios que se seguem.
Vai dar vários concertos especiais, de Natal. Há três anos, por esta altura, também apresentou um espetáculo diferente...
A Caixinha de Música! Por estes dias, dei por mim a pensar: mas porque é que eu me meto nestas coisas? Porque eu dou-me à morte! Mas a verdade é que gosto de viver assim. A vida é mais desafiante se eu me obrigar a sair da minha zona de conforto. Podia fazer um concerto de fado, com três ou quatro músicas natalícias, mas não foi esse o convite que recebi, então decidi assumir a coisa.
O convite partiu do CCB, certo?
Sim. Fizeram-me o desafio de ter umas noites no Centro Cultural de Belém, para fazer o que quisesse, sendo que gostavam que eu cantasse músicas do songbook americano. A minha cabeça começou logo a proliferar, porque adoro os standards americanos, de blues, jazz... sempre disse que a Ella Fitzgerald é uma das minhas grandes divas. Mas, quando saí da reunião, comecei a pensar que as datas eram muito perto do Natal e os americanos têm aquela tradição muito gira dos Christmas carols: no dia do Natal, cantam canções de Natal... Então achei que devia escolher músicas de Natal. E comecei a construir um alinhamento.
Além dos clássicos de Natal, também vai cantar um tema dos Beastie Boys, certo?
Como é que tu sabes? Sabes que eu às vezes, quando chego ao palco, tenho umas vontades súbitas e mudo tudo! (risos)
Então vai haver muitas surpresas?
Quero que seja tudo surpresa, na verdade. Já no Caixinha de Música cantava em muitas línguas, e houve pessoas que escolheram músicas para eu cantar... Gosto de me sentir desconfortável. É bom para crescermos! Por mais que me custe, porque isto sai-me do pêlo, gosto de surpreender as pessoas e de eu própria me poder surpreender com o que poderá acontecer naquele dia.
Fala da sua zona de conforto... qual é ela?
A minha zona de conforto é cantar na minha língua. É cantar fado. Se bem que há muitas músicas que não são portuguesas e eu considero fado. Mas, na verdade, a minha zona de conforto são todas as músicas que me dá prazer cantar. Porque eu gosto é de cantar.
Tem algum espetáculo natalício de referência?
Os vídeos do Nat King Cole a cantar coisas de Natal. E a Ella Fiztgerald, também, mas para mim o Nat King Cole é muito, muito especial. Aquele homem era uma classe, uma elegância com a palavra… uma pinta! Vou muitas vezes ao YouTube ver vídeos dele.
Estes espetáculos são também uma forma de fechar o ano e “arrumar a casa”?
É, arrumar a casa... Há um ano mudei de agência, o que [significou] conhecer toda uma equipa nova, uma data de pessoas e personalidades diferentes, que me vão conhecendo e percebendo a minha forma de trabalhar... As coisas vão ganhando um ritmo, não é de um dia para o outro. O meu segundo disco, “Nua”, saiu em 2016, no ano passado tive um percalço de saúde que me fez parar uns meses... Acho que é o fechar de um ciclo, sim.
A Caixinha de Música! Por estes dias, dei por mim a pensar: mas porque é que eu me meto nestas coisas? Porque eu dou-me à morte! Mas a verdade é que gosto de viver assim. A vida é mais desafiante se eu me obrigar a sair da minha zona de conforto. Podia fazer um concerto de fado, com três ou quatro músicas natalícias, mas não foi esse o convite que recebi, então decidi assumir a coisa.
O convite partiu do CCB, certo?
Sim. Fizeram-me o desafio de ter umas noites no Centro Cultural de Belém, para fazer o que quisesse, sendo que gostavam que eu cantasse músicas do songbook americano. A minha cabeça começou logo a proliferar, porque adoro os standards americanos, de blues, jazz... sempre disse que a Ella Fitzgerald é uma das minhas grandes divas. Mas, quando saí da reunião, comecei a pensar que as datas eram muito perto do Natal e os americanos têm aquela tradição muito gira dos Christmas carols: no dia do Natal, cantam canções de Natal... Então achei que devia escolher músicas de Natal. E comecei a construir um alinhamento.
Além dos clássicos de Natal, também vai cantar um tema dos Beastie Boys, certo?
Como é que tu sabes? Sabes que eu às vezes, quando chego ao palco, tenho umas vontades súbitas e mudo tudo! (risos)
Então vai haver muitas surpresas?
Quero que seja tudo surpresa, na verdade. Já no Caixinha de Música cantava em muitas línguas, e houve pessoas que escolheram músicas para eu cantar... Gosto de me sentir desconfortável. É bom para crescermos! Por mais que me custe, porque isto sai-me do pêlo, gosto de surpreender as pessoas e de eu própria me poder surpreender com o que poderá acontecer naquele dia.
Fala da sua zona de conforto... qual é ela?
A minha zona de conforto é cantar na minha língua. É cantar fado. Se bem que há muitas músicas que não são portuguesas e eu considero fado. Mas, na verdade, a minha zona de conforto são todas as músicas que me dá prazer cantar. Porque eu gosto é de cantar.
Tem algum espetáculo natalício de referência?
Os vídeos do Nat King Cole a cantar coisas de Natal. E a Ella Fiztgerald, também, mas para mim o Nat King Cole é muito, muito especial. Aquele homem era uma classe, uma elegância com a palavra… uma pinta! Vou muitas vezes ao YouTube ver vídeos dele.
Estes espetáculos são também uma forma de fechar o ano e “arrumar a casa”?
É, arrumar a casa... Há um ano mudei de agência, o que [significou] conhecer toda uma equipa nova, uma data de pessoas e personalidades diferentes, que me vão conhecendo e percebendo a minha forma de trabalhar... As coisas vão ganhando um ritmo, não é de um dia para o outro. O meu segundo disco, “Nua”, saiu em 2016, no ano passado tive um percalço de saúde que me fez parar uns meses... Acho que é o fechar de um ciclo, sim.
Independentemente de gostarem ou não, quase todas as pessoas têm recordações do Natal. Qual foi o seu Natal mais inesquecível?
O Natal é muito mais do que o que as pessoas, de forma fácil, pensam. É muito mais do que as comidas típicas, a que eu dou tanta importância, muito mais do que as datas em si, o 24 e o 25, [vai muito] além da própria religião e das prendas, do consumismo. É outra coisa, muito mais à frente disso tudo. Tem a ver com o espírito de partilha e de cuidado com o outro; as pessoas ficam mais emotivas. Gostem ou não, tenho a certeza que ficam mais atentas ao outro. Ainda outro dia uma amiga me dizia: “não curto nada o Natal”. Mas, passado um bocado, estava a despedir-se de uns amigos nossos, e disse: "bom Natal, beijinhos para a tua família, eles estão todos bem?". Ou seja, há uma atenção diferente pelo outro, e eu acho que isso é uma forma de viver a vida. Eu tento viver todos os meus dias com espírito de Natal. Há uma frase que tenho [sempre por perto]: "nunca percas a oportunidade de pôr um sorriso na cara de alguém!". De perguntar como é que a pessoa está. Às vezes não há tempo, mas no meio da minha loucura mando uma mensagem a dizer: "como estás? Um beijinho grande!". É importante, porque é isso que levamos desta vida. E o Natal, para mim, é isso. Respondendo à tua pergunta, lembro-me de muitos natais quando os meus irmãos eram pequeninos: com 3, 4, 5 anos. Porque quando há crianças o Natal tem outro cheiro, outra alegria.
O Natal é muito mais do que o que as pessoas, de forma fácil, pensam. É muito mais do que as comidas típicas, a que eu dou tanta importância, muito mais do que as datas em si, o 24 e o 25, [vai muito] além da própria religião e das prendas, do consumismo. É outra coisa, muito mais à frente disso tudo. Tem a ver com o espírito de partilha e de cuidado com o outro; as pessoas ficam mais emotivas. Gostem ou não, tenho a certeza que ficam mais atentas ao outro. Ainda outro dia uma amiga me dizia: “não curto nada o Natal”. Mas, passado um bocado, estava a despedir-se de uns amigos nossos, e disse: "bom Natal, beijinhos para a tua família, eles estão todos bem?". Ou seja, há uma atenção diferente pelo outro, e eu acho que isso é uma forma de viver a vida. Eu tento viver todos os meus dias com espírito de Natal. Há uma frase que tenho [sempre por perto]: "nunca percas a oportunidade de pôr um sorriso na cara de alguém!". De perguntar como é que a pessoa está. Às vezes não há tempo, mas no meio da minha loucura mando uma mensagem a dizer: "como estás? Um beijinho grande!". É importante, porque é isso que levamos desta vida. E o Natal, para mim, é isso. Respondendo à tua pergunta, lembro-me de muitos natais quando os meus irmãos eram pequeninos: com 3, 4, 5 anos. Porque quando há crianças o Natal tem outro cheiro, outra alegria.
Onde vai passar o Natal?
Em Barcelos. Com a família: irmãos, pais, tios, cães, periquitos, tudo. É muita gente, somos muitos à mesa. Lá em casa nunca houve Natal farto. Houve muitos natais sem presentes. Mas se calhar é por isso que cresci a pensar que o Natal é muito mais do que isso tudo. Porque há uma coisa que nunca falhou lá em casa: gargalhada a toda a hora. A toda a hora! Alegria a toda a hora! E isso é a grande riqueza. Há pessoas com tudo, que não conseguem rir. Às vezes esta coisa dos presentes, muitos presentes e muito caros, tolhe a visão do que devemos sentir e viver nesta época.
Quando a entrevistámos, este ano, a Aldina Duarte disse que a maior prova de amizade é não lhe virem falar dos concertos ou da vida pública... sente o mesmo?
Eu também já disse isso muitas vezes! Ainda outro dia uma senhora professora da escola primária me abordou ali no Camões, para dizer: “Gisela, no outro dia mostrei a sua entrevista n' O que Dizem os Teus Olhos [Alta Definição, da SIC] aos meus alunos, porque a achei muito inspiradora”. E eu fui para casa ver e realmente há lá uma parte em que digo isso. Claro que a minha família e os meus amigos não descuram aquilo que eu faço, porque o que eu faço sou eu também! É parte de mim. Mas tratam-me de igual para igual, e isso é a maior prova de amor que tenho deles. Eu continuo a ser a Gisa. Às vezes [não tenho tempo] e mando mensagens só a dizer: "estou aqui, gosto de ti". Mas há pessoas que levam isso para o lado errado: "olha esta, vai pedir alguma coisa". Ou: "ainda te lembras dos pobres?". E eu penso: então nunca me conheceste verdadeiramente.
Em Barcelos. Com a família: irmãos, pais, tios, cães, periquitos, tudo. É muita gente, somos muitos à mesa. Lá em casa nunca houve Natal farto. Houve muitos natais sem presentes. Mas se calhar é por isso que cresci a pensar que o Natal é muito mais do que isso tudo. Porque há uma coisa que nunca falhou lá em casa: gargalhada a toda a hora. A toda a hora! Alegria a toda a hora! E isso é a grande riqueza. Há pessoas com tudo, que não conseguem rir. Às vezes esta coisa dos presentes, muitos presentes e muito caros, tolhe a visão do que devemos sentir e viver nesta época.
Quando a entrevistámos, este ano, a Aldina Duarte disse que a maior prova de amizade é não lhe virem falar dos concertos ou da vida pública... sente o mesmo?
Eu também já disse isso muitas vezes! Ainda outro dia uma senhora professora da escola primária me abordou ali no Camões, para dizer: “Gisela, no outro dia mostrei a sua entrevista n' O que Dizem os Teus Olhos [Alta Definição, da SIC] aos meus alunos, porque a achei muito inspiradora”. E eu fui para casa ver e realmente há lá uma parte em que digo isso. Claro que a minha família e os meus amigos não descuram aquilo que eu faço, porque o que eu faço sou eu também! É parte de mim. Mas tratam-me de igual para igual, e isso é a maior prova de amor que tenho deles. Eu continuo a ser a Gisa. Às vezes [não tenho tempo] e mando mensagens só a dizer: "estou aqui, gosto de ti". Mas há pessoas que levam isso para o lado errado: "olha esta, vai pedir alguma coisa". Ou: "ainda te lembras dos pobres?". E eu penso: então nunca me conheceste verdadeiramente.
Muitos dos nossos entrevistados têm falado da sua relação, nem sempre positiva, com as redes sociais. O seu Instagram é muito dinâmico e divertido. Segue algum critério ou partilha o que lhe apetece?
Partilho o que me apetece! Outro dia até me chamaram a atenção: "Gisela, devias pôr mais coisas de música!". Porque são os gatos, é a comida, a música... Mas ao menos é honesto. Esta semana cheguei aos 77 mil seguidores, é incrível! E tenho a certeza que aquelas pessoas sabem o que esperar de mim, nunca as enganei. E quanto mais elas perceberem o meu mundo, mais vão perceber-me quando estiver a cantar. Nunca tive experiências más. Outro dia recebi uma pila! Mas foi a terceira vez que isto me aconteceu, nestes anos todos. Um senhor tirou uma fotografia ao seu dito cujo e achou por bem enviar-ma. (risos) Eu acho que as pessoas têm direito à sua opinião, para o bem e para o mal. E, nas redes sociais, tu abres a tua porta -- aquele quadradinho é um quarto da tua casa. Se eu o abro às pessoas, elas podem dar a sua opinião. Só não aceito que haja insultos entre os seguidores. Nunca aconteceu mas, se acontecer, vou apagar - é uma fração da minha casa. Comigo, se gostam mais ou menos, está tudo bem. As redes sociais estão aí para ficar, fazem parte da nossa vida diariamente. É necessário é saber utilizá-las e não nos deixarmos iludir por aquilo. Teres cinco mil likes numa fotografia não quer dizer que estiveste de facto com cinco mil pessoas. Pode até querer dizer o contrário: que te isolas cada vez mais, sozinha em casa, e aquilo substitui a conversa presencial. E não substitui. Também não é um medidor de amizades. Eu saí do Facebook, há já um ano e meio. Continuo a ter a minha página de artista. O Facebook pessoal existe, mas não publico nada, não vejo o mural das pessoas. E apaguei a aplicação do telemóvel. Outro dia fui ao Facebook no computador e tive de entrar na minha conta pessoal, então vi o mural das pessoas que seguia e senti que era um mundo à parte. As pessoas comunicam por comentários, debatem... eu não sei de nada e soube-me pela vida! Uso o chat, no telemóvel, para trocar mensagens. Mas cada vez mais acho que é muito superficial, quero é estar com a pessoa.
Partilho o que me apetece! Outro dia até me chamaram a atenção: "Gisela, devias pôr mais coisas de música!". Porque são os gatos, é a comida, a música... Mas ao menos é honesto. Esta semana cheguei aos 77 mil seguidores, é incrível! E tenho a certeza que aquelas pessoas sabem o que esperar de mim, nunca as enganei. E quanto mais elas perceberem o meu mundo, mais vão perceber-me quando estiver a cantar. Nunca tive experiências más. Outro dia recebi uma pila! Mas foi a terceira vez que isto me aconteceu, nestes anos todos. Um senhor tirou uma fotografia ao seu dito cujo e achou por bem enviar-ma. (risos) Eu acho que as pessoas têm direito à sua opinião, para o bem e para o mal. E, nas redes sociais, tu abres a tua porta -- aquele quadradinho é um quarto da tua casa. Se eu o abro às pessoas, elas podem dar a sua opinião. Só não aceito que haja insultos entre os seguidores. Nunca aconteceu mas, se acontecer, vou apagar - é uma fração da minha casa. Comigo, se gostam mais ou menos, está tudo bem. As redes sociais estão aí para ficar, fazem parte da nossa vida diariamente. É necessário é saber utilizá-las e não nos deixarmos iludir por aquilo. Teres cinco mil likes numa fotografia não quer dizer que estiveste de facto com cinco mil pessoas. Pode até querer dizer o contrário: que te isolas cada vez mais, sozinha em casa, e aquilo substitui a conversa presencial. E não substitui. Também não é um medidor de amizades. Eu saí do Facebook, há já um ano e meio. Continuo a ter a minha página de artista. O Facebook pessoal existe, mas não publico nada, não vejo o mural das pessoas. E apaguei a aplicação do telemóvel. Outro dia fui ao Facebook no computador e tive de entrar na minha conta pessoal, então vi o mural das pessoas que seguia e senti que era um mundo à parte. As pessoas comunicam por comentários, debatem... eu não sei de nada e soube-me pela vida! Uso o chat, no telemóvel, para trocar mensagens. Mas cada vez mais acho que é muito superficial, quero é estar com a pessoa.
Basta estar algum tempo fora do Facebook para sentir que está toda a gente muito zangada e agressiva...
No outro dia fomos para a Suíça, e o roaming lá é a doer, porque não é União Europeia. Então estávamos todos sem internet. A minha equipa está sempre na brincadeira, mas divertimo-nos tanto, conversámos tanto, foi tão fixe, que agora até temos esta política: vamos começar a deixar os telemóveis no bolso do casaco. Mas adoro as redes sociais para partilhar as coisas dos concertos do Natal, por exemplo. Faço uns desenhos, umas montagens, sinto-me a rainha do Photoshop a desenhar por cima de fotografias minhas... Isso é giro, porque as pessoas percebem que fui mesmo eu que fiz. Eu também sou público.
A parte visual é muito importante nos seus espetáculos. Voltou a convidar o André Teodósio para assinar a cenografia do novo espetáculo...
Mas ele não quis assinar. Disse: "assina tu, que é mais tua do que minha". Eu sonho muito e ele ajuda-me a sonhar. Eu preciso de pessoas que me instiguem a isso. Porque vivemos numa era em que está tudo tão inventado... já ninguém vai inventar a pólvora. Mas podemos fazer de forma diferente, e quanto mais pessoal melhor. Hoje em dia é muito fácil não querer pensar muito e ir copiar a uma coisa pré-feita, que já foi aceite e validada. O André estimula-me, porque eu sou muito criativa e preciso de estar com pessoas para me sentir viva. Eu digo-lhe: "acho que vou pintar a minha cara de cor-de-rosa", e ele: "acho o máximo! Mas olha, podias pôr o cabelo roxo!". Faz-me sair da minha cabeça, escolher, perceber o que quero. Para estes concertos, eu consigo imaginar o que quero ali. E acho que vou conseguir.
No outro dia fomos para a Suíça, e o roaming lá é a doer, porque não é União Europeia. Então estávamos todos sem internet. A minha equipa está sempre na brincadeira, mas divertimo-nos tanto, conversámos tanto, foi tão fixe, que agora até temos esta política: vamos começar a deixar os telemóveis no bolso do casaco. Mas adoro as redes sociais para partilhar as coisas dos concertos do Natal, por exemplo. Faço uns desenhos, umas montagens, sinto-me a rainha do Photoshop a desenhar por cima de fotografias minhas... Isso é giro, porque as pessoas percebem que fui mesmo eu que fiz. Eu também sou público.
A parte visual é muito importante nos seus espetáculos. Voltou a convidar o André Teodósio para assinar a cenografia do novo espetáculo...
Mas ele não quis assinar. Disse: "assina tu, que é mais tua do que minha". Eu sonho muito e ele ajuda-me a sonhar. Eu preciso de pessoas que me instiguem a isso. Porque vivemos numa era em que está tudo tão inventado... já ninguém vai inventar a pólvora. Mas podemos fazer de forma diferente, e quanto mais pessoal melhor. Hoje em dia é muito fácil não querer pensar muito e ir copiar a uma coisa pré-feita, que já foi aceite e validada. O André estimula-me, porque eu sou muito criativa e preciso de estar com pessoas para me sentir viva. Eu digo-lhe: "acho que vou pintar a minha cara de cor-de-rosa", e ele: "acho o máximo! Mas olha, podias pôr o cabelo roxo!". Faz-me sair da minha cabeça, escolher, perceber o que quero. Para estes concertos, eu consigo imaginar o que quero ali. E acho que vou conseguir.
Sonhar é o seu verbo favorito?
Se de um dia para o outro deixar de ter trabalho, não tenho ninguém com um cartãozinho para me ajudar. Para pagar a renda, pôr comida na mesa, para viver. As pessoas têm vergonha de falar em dinheiro, é um tabu, mas temos de falar! Ainda outro dia estava a pensar… a única coisa que tive por garantia desde pequenina foi poder sonhar. Se eu não puder sonhar, eu seco, definho, fico deprimida, cinzenta. Até me olho ao espelho e pareço meio verde!
Mas é um sonhar ativo, digamos assim, por oposição ao sonhar mais romântico e passivo, de quem espera que as coisas aconteçam sem fazer por isso...
A tentativa-erro faz parte do sonho e do nosso crescimento, da nossa evolução. Falando da área artística, quantos grandes artistas já conheceste, que bateram a bota e nunca fizeram nada? Era tudo utópico, ficava tudo na cabeça deles. E de facto tinham muito talento. Eu conheço muitas pessoas que passam a vida a criticar este e aquele: “aquela ideia, grande coisa…”. Mas fez! A diferença é essa. Fez acontecer. A maioria das pessoas tem medo de tentar, de pôr a cabeça no cepo… Têm de ter coragem de assumir os seus gostos, sem vergonha. Esse lado do sonhar tem a ver com isso. Tu tens de sonhar. Para chegar lá, tens de tentar. E vais cair muitas vezes! No meu percurso, enquanto cantora, artista e performer, já falhei e sei que vou falhar mais vezes. Que vou meter o pé na poça. E que não vou agradar a gregos e troianos. Não quero isso! Mas também sei que o meu verdadeiro público e os meus vão estar sempre lá, para o bem e para o mal. Por exemplo, eu sou fãzaça da Björk, desde sempre. E há coisas que ela fez e de que eu não gostei. Mas não deixei de gostar dela. Fez parte do seu trabalho, foi assim que ela evoluiu.
Se de um dia para o outro deixar de ter trabalho, não tenho ninguém com um cartãozinho para me ajudar. Para pagar a renda, pôr comida na mesa, para viver. As pessoas têm vergonha de falar em dinheiro, é um tabu, mas temos de falar! Ainda outro dia estava a pensar… a única coisa que tive por garantia desde pequenina foi poder sonhar. Se eu não puder sonhar, eu seco, definho, fico deprimida, cinzenta. Até me olho ao espelho e pareço meio verde!
Mas é um sonhar ativo, digamos assim, por oposição ao sonhar mais romântico e passivo, de quem espera que as coisas aconteçam sem fazer por isso...
A tentativa-erro faz parte do sonho e do nosso crescimento, da nossa evolução. Falando da área artística, quantos grandes artistas já conheceste, que bateram a bota e nunca fizeram nada? Era tudo utópico, ficava tudo na cabeça deles. E de facto tinham muito talento. Eu conheço muitas pessoas que passam a vida a criticar este e aquele: “aquela ideia, grande coisa…”. Mas fez! A diferença é essa. Fez acontecer. A maioria das pessoas tem medo de tentar, de pôr a cabeça no cepo… Têm de ter coragem de assumir os seus gostos, sem vergonha. Esse lado do sonhar tem a ver com isso. Tu tens de sonhar. Para chegar lá, tens de tentar. E vais cair muitas vezes! No meu percurso, enquanto cantora, artista e performer, já falhei e sei que vou falhar mais vezes. Que vou meter o pé na poça. E que não vou agradar a gregos e troianos. Não quero isso! Mas também sei que o meu verdadeiro público e os meus vão estar sempre lá, para o bem e para o mal. Por exemplo, eu sou fãzaça da Björk, desde sempre. E há coisas que ela fez e de que eu não gostei. Mas não deixei de gostar dela. Fez parte do seu trabalho, foi assim que ela evoluiu.
Outro dia escreveu no Instagram um post sobre a sua tia-avó Arminda...
Partiu há três dias... e eu escrevi o texto no fim de semana passado. Provavelmente, naquele momento ela estava a pensar em mim. A minha tia Arminda, irmã da minha famosa avó Micas, emigrou para França antes do 25 de Abril. Então sempre foi a minha tia da França! Quando a minha avó dizia: "amanhã chega a tua tia!", eu nem dormia, corria logo para casa dela. O fromage! Ela fazia uma massa com manteiga que eu adorava... E eu conversava com os meus primos em português e francês, foi a primeira língua [estrangeira] com que tive proximidade. Eu era pequenina e a minha tia dizia-me assim: "tu vai-te embora daqui, vai conhecer o mundo!". Nem eu sabia que isso me ia acontecer. Ela adivinhou, já sabia! Eu não me consigo esquecer de onde venho. Podem chamar-me saudosista... Eu falo do passado, mas penso no meu futuro. E vivo o meu “agora”, aproveito-o! Não vivo presa ao passado, não me esqueço é dele, o que é completamente diferente. E é muito importante não me esquecer de onde venho. As pessoas seriam mais inteligentes se se lembrassem diariamente de onde vêm. Porque assim eram mais gratas a si próprias, davam-se mais valor, pelo caminho que fizeram. A mim emociona-me sempre muito quando estou no palco e há uma música que me leva a pensar que eu sou uma miúda de Barcelos... Nenhuma equação, fosse a fosse, que fizessem sobre o que viesse a ser o meu destino levaria a que eu fosse uma mulher de sucesso, com uma carreira bonita, como a que tenho até agora. A probabilidade era de 0,01%. Eu venho de uma cidade pequena do norte do país, de uma família muito grande, com muitas dificuldades. O meu caminho era para ter sido outro! E, contra todas as probabilidades, consegui ter a carreira que tenho. [Outro dia] estava em palco, em França, a lembrar-me daquela menina que às vezes ia para a escola sem nada no estômago e que estava sempre a rir, de barriga vazia. Apetecia-me ir lá e dizer: “vai correr tudo bem!”. Emociona-me saber que há muitas crianças que acham que a vida delas já está pré-destinada para um caminho menos bom, e [espero] que, se me virem e me ouvirem, acreditem que é possível. Eu sou a prova disso. Gosto muito de olhar para o meu percurso, acho que todos deviam fazê-lo e ver o que conseguiram. Nem que seja comprar uma puta de uma máquina de lavar louça. Foi uma coisa que tu conseguiste!
Partiu há três dias... e eu escrevi o texto no fim de semana passado. Provavelmente, naquele momento ela estava a pensar em mim. A minha tia Arminda, irmã da minha famosa avó Micas, emigrou para França antes do 25 de Abril. Então sempre foi a minha tia da França! Quando a minha avó dizia: "amanhã chega a tua tia!", eu nem dormia, corria logo para casa dela. O fromage! Ela fazia uma massa com manteiga que eu adorava... E eu conversava com os meus primos em português e francês, foi a primeira língua [estrangeira] com que tive proximidade. Eu era pequenina e a minha tia dizia-me assim: "tu vai-te embora daqui, vai conhecer o mundo!". Nem eu sabia que isso me ia acontecer. Ela adivinhou, já sabia! Eu não me consigo esquecer de onde venho. Podem chamar-me saudosista... Eu falo do passado, mas penso no meu futuro. E vivo o meu “agora”, aproveito-o! Não vivo presa ao passado, não me esqueço é dele, o que é completamente diferente. E é muito importante não me esquecer de onde venho. As pessoas seriam mais inteligentes se se lembrassem diariamente de onde vêm. Porque assim eram mais gratas a si próprias, davam-se mais valor, pelo caminho que fizeram. A mim emociona-me sempre muito quando estou no palco e há uma música que me leva a pensar que eu sou uma miúda de Barcelos... Nenhuma equação, fosse a fosse, que fizessem sobre o que viesse a ser o meu destino levaria a que eu fosse uma mulher de sucesso, com uma carreira bonita, como a que tenho até agora. A probabilidade era de 0,01%. Eu venho de uma cidade pequena do norte do país, de uma família muito grande, com muitas dificuldades. O meu caminho era para ter sido outro! E, contra todas as probabilidades, consegui ter a carreira que tenho. [Outro dia] estava em palco, em França, a lembrar-me daquela menina que às vezes ia para a escola sem nada no estômago e que estava sempre a rir, de barriga vazia. Apetecia-me ir lá e dizer: “vai correr tudo bem!”. Emociona-me saber que há muitas crianças que acham que a vida delas já está pré-destinada para um caminho menos bom, e [espero] que, se me virem e me ouvirem, acreditem que é possível. Eu sou a prova disso. Gosto muito de olhar para o meu percurso, acho que todos deviam fazê-lo e ver o que conseguiram. Nem que seja comprar uma puta de uma máquina de lavar louça. Foi uma coisa que tu conseguiste!
E depois do Natal, começa a sonhar com o ano novo? Os fãs podem sonhar com novidades da sua parte?
Podem sonhar com muita coisa, aviso já, muita coisa! Um turbilhão. Quando vou para a cama, não rezo, mas quando estou a tentar fechar os olhos, para adormecer, penso sempre em coisas que gostava [que acontecessem]. E o que peço sempre, para mim, é que nunca deixe de ser honesta comigo própria e com os meus gostos. Que nunca faça nada para agradar a alguém. É claro que eu quero agradar às pessoas, mas em primeiro lugar tem de ser honesto, tem de ser feito de coração. Se um dia me deixar iludir pela merda das luzes e das palmas, que são tão efémeras, aí vou ficar muito assustada, peço que me deem duas chapadas. Quando estás a trabalhar para agradar a uma pessoa, estás a esquecer-te de outros cinco ou seis ou sete, ou de milhões. A meu ver, em 2019 vêm aí coisas muito boas.
Podem sonhar com muita coisa, aviso já, muita coisa! Um turbilhão. Quando vou para a cama, não rezo, mas quando estou a tentar fechar os olhos, para adormecer, penso sempre em coisas que gostava [que acontecessem]. E o que peço sempre, para mim, é que nunca deixe de ser honesta comigo própria e com os meus gostos. Que nunca faça nada para agradar a alguém. É claro que eu quero agradar às pessoas, mas em primeiro lugar tem de ser honesto, tem de ser feito de coração. Se um dia me deixar iludir pela merda das luzes e das palmas, que são tão efémeras, aí vou ficar muito assustada, peço que me deem duas chapadas. Quando estás a trabalhar para agradar a uma pessoa, estás a esquecer-te de outros cinco ou seis ou sete, ou de milhões. A meu ver, em 2019 vêm aí coisas muito boas.
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