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Salvador Sobral deixa o CCB de coração na mão e pulsação acelerada

Concertos - Junho 27, 2021
Visivelmente orgulhoso das canções que imaginou e concretizou em “bpm”, o novo álbum, Salvador Sobral subiu esta sexta-feira ao palco do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, para um concerto vibrante e coeso. E não precisou de ir buscar ‘Amar Pelos Dois’ para ter o público na mão

25.06.2021 | Centro Cultural de Belém | Lisboa

A personalidade espalhafatosa de Salvador Sobral só verga quando o artista abre a boca para cantar e a sobriedade de uma voz que extravasa os limites da emoção faz a sua magia. Soltando vénias a Buckley nos momentos mais aguerridos e chamando a si a serenidade de Veloso nos mais doces, Sobral entrega-se, em palco, a uma espécie de diálogo com ele próprio que só não deixa ninguém alheado porque é impossível descolar olhos e ouvidos de alguém que tem plena confiança nas suas capacidades. Secundado por uma banda exímia, composta pelo pianista sueco Max Agnas, o guitarrista André Santos, o contrabaixista André Rosinha e o baterista Bruno Pedroso, Sobral mostrou esta sexta-feira ao público lisboeta, no Centro Cultural de Belém, as canções de “bpm”, o seu novo longa-duração.

Em cerca de hora e meia, que começou, tal como o disco, como um ‘Mar de Memórias’ enfeitiçado por teclas em espiral, Sobral serviu, de forma descontraída mas sempre intensa, as canções que orgulhosamente compôs e escreveu a meias com o comparsa Leo Aldrey, um dos convidados especiais do espetáculo. O arrasto sedutor de ‘Fui Ver Meu Amor’; a agitação de ‘Canción Vieja’, com o palco pintado a vermelho-sangue e improvisações bem coordenadas; o hino, meio culpado, à procrastinação ‘Se de Mim Precisarem’; e a valsa de encantar ‘That Old Waltz’ ajudaram a compor a sequência inicial de um concerto que viveu muito do constante pingue-pongue entre palco e plateia.

“Boa tarde a todos. Ontem, a minha mãe dizia que agora vir a um concerto é mesmo uma prova de amor ao artista”, atirou Sobral, dirigindo-se ao público pela primeira vez para deixar uma divertida provocação, “alguma coisa de que não gostem, escrevam num papelinho à entrada que nós retificamos”. Partindo para ‘Medo de Estimação’, que diz ter escrito sobre o medo de morrer que o visita de vez em quando, deixou ainda um recado ao “jornalismo sensacionalista” que, depois da sua operação, em 2017, lhe perguntava se tinha medo de morrer: “sinto mais medo agora, porque estou a gostar muito mais de viver”. Brindado com uma das maiores ovações da noite, sentou-se, depois, ao piano para se entregar, de forma brilhante, a ‘Sangue do Meu Sangue’, “a canção que mais me orgulho de ter escrito na vida”.

Ansioso por oferecer um encore com “surpresa”, ainda se deixou levar pelo dramatismo de ‘Sem Voz’, com o público a arriscar-se, com afinco, num duelo murmurado com o contrabaixo, um ‘Paris, Tokyo II’ resgatado a “Paris, Lisboa”, o álbum que editou em 2019, e um explosivo ‘Paint the Town’. O tempo extra arrancou, então, com Sobral sozinho ao piano na balada ‘Só Eu Sei’, entrando depois em cena a convidada especial Mayra Andrade (“mandei o barro à parede e ela aceitou o convite”), com quem cantou em dueto uma apaixonada ‘La Souffleuse’, também recuperada ao disco anterior, e uma tropical-sedutora ‘Aplauso Dentro’. O final, apoteótico, foi servido com a ajuda da guitarra cinematográfica de ‘Bom Vento’, tema que encerra, igualmente, “bpm”. Num espetáculo vibrante e coeso, que não precisou de ‘Amar Pelos Dois’ para deixar os fãs completamente rendidos, Sobral prometeu, por fim, continuar a escrever canções.


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