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Pedro Flores - Pedro Flores

Records - Outubro 26, 2021
Sony Music / 2021
O fado bateu à porta de Pedro Flores sem aviso, ainda na infância, e ainda sem ter vivido o suficiente para saber do que falavam aquelas vozes imponentes e enfeitiçantes.

Maravilhou-se com uma expressão que o encantou de imediato e que logo intuiu que viria de um recanto qualquer das profundezas da alma e das emoções. Foi aquilo a que se chama paixão à primeira vista. Porque naquelas canções de gente graúda pode dizer-se que, mesmo que inocentemente, Pedro viu o seu futuro.

E como o futuro não se constrói sozinho, Pedro começou a ir aos fados. Só que o futuro, claro, gosta pouco de seguir em linha recta, pelo que ao mesmo tempo que Pedro ia ganhando coragem e vencendo a timidez para arriscar uns fados nas mais conceituadas casas de fado de Lisboa, percebia também que havia sempre outras músicas que gostava de experimentar na sua voz. Esse compromisso com várias paixões musicais simultâneas é uma das marcas na música de Pedro Flores, a que não foge no seu álbum de estreia homónimo, e que espelha na perfeição as noites que foi dividindo entre as visitas às casas de fados, e as noites em que entoava canções de crooners como Frank Sinatra.

Guiado pelas suas referências maiores – Camané, Carlos do Carmo, Carlos Zel, João Ferreira-Rosa ou Ricardo Ribeiro, vai preparando o caminho para este disco de estreia, este “agora ou nunca”, nas suas palavras. Porque se nunca duvidou que este seu sonho de se entregar à música não lhe daria sossego enquanto não o cumprisse, soube esperar pelo apuramento de maturidade para iniciar a sua carreira. Está na hora – sabe Pedro, e basta ouvir este seu disco de estreia para que ninguém o duvide.

Chegada a oportunidade de trabalhar sobre a sua estreia discográfica, Pedro Flores chamou para a produção aquele que considera ser o seu “mentor no fado”: Diogo Clemente (músico e produtor de álbuns de Mariza, Carminho ou Sara Correia). Diogo Clemente era já alguém que sempre o tinha apoiado e incentivado a cantar, com a vantagem enorme de ser não apenas um músico de excepção mas também de conhecer tão bem Pedro que saberia que a sua verdade só seria revelada num disco que partisse do fado e fosse mais além.

Dez anos depois de terem gravado umas primeiras maquetas que não saíram da gaveta, Pedro e Diogo voltaram a juntar-se em estúdio e trabalharam num reportório que homenageia os grandes crooners portugueses de outra época, com vozes que sobrevivem ao teste do tempo, juntando temas popularizados por Tony de Matos (“Cartas de Amor” ou “Só Nós Dois”), Francisco José (“Maria Morena Maria”) ou Rui de Mascarenhas (“Maria Helena”). É a essas canções intemporais que Pedro se entrega agora por inteiro, num disco que é todo ele um monumento erguido à excelência da interpretação e ao espaço criado para deixar a sua voz brilhar.

A esse reportório que canta o amor de forma intensa, vestígios de quando o amor se vivia por carta e não por emojis, Pedro Flores e Diogo Clemente juntaram ainda três inéditos, alinhados com a mesma temática. De Matias Damásio chegou “Última Lágrima” (apresentado em duas versões, uma das quais com o cantor apoiado apenas por piano e cordas), de Agir veio “Leonor”, o próprio Diogo avançou com “Despe-te Agora”. Provas de que o amor, ontem como hoje, se canta de uma mesma maneira, sobretudo quando uma voz, grande e única como esta, sabe cantar por dentro das emoções e levar-nos consigo.



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