Mário Pacheco: “Se deixarei marca no Fado? Honestamente acho que sim”
Interviews - Dezembro 19, 2021
Mário Pacheco tem novo disco, “Livre”: “Se deixarei marca no Fado? Honestamente acho que sim”, disse o músico em entrevista.
Afectuoso, foi sempre de braços abertos e sorriso no rosto que recebeu quem ao Clube de Fado se dirigia, urante 25 anos ele foi o senhor Clube de Fado, conceito que ele próprio criou.
Agora, chegou a vez de lançar o disco ‘Livre‘ e é garantidamente um dos discos mais bonitos do ano. Primeiro porque a arte de Mário Pacheco é única e segundo porque desde o alinhamento e até à concepção final do disco, tudo faz sentido.
Neste disco participam Jacques Morelenbaum (um dos maiores produtores, compositores e autores de arranjos do Brasil, vencedor de um Grammy), Javier Limón (um dos mais consagrados produtores espanhóis com ligações a Buika, Bebo Valdés e Diego ‘El Cigala’, e Mariza, também ele vencedor de um Grammy latino) e Gustavo Santaolalla (produtor e compositor argentino, vencedor de dois Óscares categoria de Melhor Banda Sonora).
Na produção do disco esteve Diogo Clemente, que continua a afirmar-se como um caso raro e claramente destacado da sua geração.
Em entrevista Mário Pacheco contou alguns pormenores sobre este disco e claro do seu percurso.
‘Livre’ é o nome do seu mais recente disco. Esta é a sua fase de maior liberdade?
Sim! Finalmente e após 25 anos após ter criado um conceito inédito de dignificação do Fado; o ‘Clube de Fado’! A este conceito, dediquei a minha vida e abdiquei parcialmente da minha paixão maior: a Música!
Neste disco conta com participações de nomes de elevada qualidade artística como Javier Limón, Jaques Morelenbaum e Gustavo Santaolalla. Foi fácil tê-los no disco?
Sim! Foram de uma generosidade que muito me sensibilizou. Já tínhamos tocado juntos e sinto-me muito honrado por terem afirmado que seria um orgulho participar no meu álbum.
Neste disco gostava de destacar o produtor, Diogo Clemente. O Diogo tem-se afirmado como um dos mais destacados produtores da actualidade. Na sua opinião quais são as características mais marcantes dele enquanto produtor?
O meu amigo Diogo Clemente foi a minha única escolha, porque não tinha dúvidas de que era a pessoa certa. É feito de talento e criatividade. É músico de excepção – totalmente século XXI, e tem uma visão musical muito à frente. Quando lhe mostrei as minhas músicas e lhe disse o que desejava, ele nem hesitou e disse sim!
Como foi a escolha de repertório? Lamenta que algum tema não esteja neste disco?
O repertório composto em 2020 foi o resultado dos tempos, tanto em Portugal como no mundo. Tempos estranhos, tristes… Acho que estes sentimentos estão bem presentes no álbum. Também decidi gravar instrumentalmente algumas das minhas músicas mais conhecidas e divulgadas, especialmente por Mariza, com versões em muitos países – baseado no número de autorizações que me solicitaram.
Durante muitos anos foi o proprietário do icónico ‘Clube de Fado’, em Alfama, dando palco a muitos artistas. Qual o balanço que faz desse tempo?
Tempos fantásticos, de criação e cumplicidades. Como anteriormente afirmei, o meu objetivo maior era dignificar o Fado. Ter os mestres (Alcindo de Carvalho e Maria da Nazaré) como farol dos mais jovens e fazer-lhes sentir que se fossem humildes e honestos poderiam contribuir para que a música que melhor define Portugal – o Fado, se perpetuasse nos tempos. E foram tantos os talentos que lá iniciaram as suas carreiras. E é tanto o orgulho de pensar que de alguma forma contribuí para os seus sucessos, que também com felicidade os considero meus. Sinto-me feliz por eles. Mas a vida é feita de ciclos e senti que o ‘ciclo dourado’ iria acabar, e acabou. Estou dedicado agora à família, amigos e música. Sou LIVRE!
Sou um fã de orquestras. Neste disco conta também com uma. Sente que uma orquestra valoriza a música, dando-lhe outra roupagem?
Para mim não há roupagens. Uma orquestra valoriza sempre a música.
O Fado será sempre um dos seus amores maiores?
Sim! Por tradição familiar, por ter convivido com os grandes vultos do Fado, que tanto me ensinaram, ‘enamorei -me’ pelo Fado. Por aqueles que me trouxeram numa bandeja de ouro um património único. Falo dos fadistas, guitarristas e violistas que construíram esta maravilhosa música – para sempre grato!
Como analisa a evolução do Fado que acaba por em alguns momentos ter várias adições ao que anteriormente se fazia?
Naturalmente – há uma evolução musical com influências de outros músicos e mundos musicais, e muito maior divulgação das mesmas. O Fado como espectáculo é tão pressionado para se tornar ‘pop’ que salvo algumas poucas excepções é forçado a adicionar outros instrumentos que diluem a sua verdadeira intensidade intimista.
Este disco conta com poesia instrumental inspirada em obras de Fernando Pessoa, Amália Rodrigues ou Vasco Graça Moura. Sempre olhei para o Mário como um “tradicional futurista”, ou se preferirmos um intemporal. Sente que a sua marca no Fado perdurará no tempo?
Adoro ‘pintar’ musicalmente poesia. A vida proporcionou-me o contacto próximo com alguns vultos de enorme importância que mudaram a minha vida.
Embora sinta que estou no Fado para dar, acho que nunca retribuirei ao Fado o que ele me deu.
Se deixarei marca no Fado? Honestamente acho que sim. Haverá quem não me aprecie e quem me aprecie – mas deixarei marca. Se os jovens talentosos guitarristas não se acomodarem. Se se inquietarem honestamente e tentarem criar deixarei marca e ficarei muito feliz!
Enquanto músico, o que herdou artisticamente do seu pai, António Pacheco?
O prazer de ouvir os ‘antigos’, tocar, gostar de ensinar os mais jovens – fadistas e guitarristas, e nunca ser vaidoso, nem a qualquer custo dar nas vistas – Ser sempre honesto.
Teve oportunidade de ‘beber’ de mestres como Armandinho, Artur Paredes, Carlos Paredes, Pedro Caldeira Cabral e Fontes Rocha. Foram as melhores fontes que podia ter?
De facto embebedei-me com a Arte de Armandinho e Artur Paredes. Mais tarde, quando os conheci e toquei com eles, inebriei-me com a arte e conselhos de Carlos Paredes, com o profundo conhecimento musical de Pedro Caldeira Cabral e com a genialidade de José Fontes Rocha, que até ao fim da sua vida colaborou no Clube e a todos nos ensinou.
Acompanhou alguns dos nomes maiores do Fado. Qual o artista em que a exigência era maior?
A exigência foi sempre igual. Cada artista tem as suas características e bem acompanhar é muito difícil. Tocar nem tanto, mas acompanhar, com respeito pela música, poema e em especial pelo cantor, é muito difícil e exigente.
Sempre que falei com alguns fadistas sobre si, o olhar deles tornava-se terno e as palavras eram de admiração profunda. O que tem Mário Pacheco para marcar de forma indelével as pessoas?
Tratá-las com respeito, exigência e carinho. (O mesmo que espero para mim).
Espectáculos para apresentar o disco já estão marcados? Como será a sua agenda para 2022, dentro daquilo que nos possa revelar.
A meio de 2022, irei apresentar o álbum no Porto e em Lisboa. Tournées e concertos na Europa estão a ser organizados.
Agora, chegou a vez de lançar o disco ‘Livre‘ e é garantidamente um dos discos mais bonitos do ano. Primeiro porque a arte de Mário Pacheco é única e segundo porque desde o alinhamento e até à concepção final do disco, tudo faz sentido.
Neste disco participam Jacques Morelenbaum (um dos maiores produtores, compositores e autores de arranjos do Brasil, vencedor de um Grammy), Javier Limón (um dos mais consagrados produtores espanhóis com ligações a Buika, Bebo Valdés e Diego ‘El Cigala’, e Mariza, também ele vencedor de um Grammy latino) e Gustavo Santaolalla (produtor e compositor argentino, vencedor de dois Óscares categoria de Melhor Banda Sonora).
Na produção do disco esteve Diogo Clemente, que continua a afirmar-se como um caso raro e claramente destacado da sua geração.
Em entrevista Mário Pacheco contou alguns pormenores sobre este disco e claro do seu percurso.
‘Livre’ é o nome do seu mais recente disco. Esta é a sua fase de maior liberdade?
Sim! Finalmente e após 25 anos após ter criado um conceito inédito de dignificação do Fado; o ‘Clube de Fado’! A este conceito, dediquei a minha vida e abdiquei parcialmente da minha paixão maior: a Música!
Neste disco conta com participações de nomes de elevada qualidade artística como Javier Limón, Jaques Morelenbaum e Gustavo Santaolalla. Foi fácil tê-los no disco?
Sim! Foram de uma generosidade que muito me sensibilizou. Já tínhamos tocado juntos e sinto-me muito honrado por terem afirmado que seria um orgulho participar no meu álbum.
Neste disco gostava de destacar o produtor, Diogo Clemente. O Diogo tem-se afirmado como um dos mais destacados produtores da actualidade. Na sua opinião quais são as características mais marcantes dele enquanto produtor?
O meu amigo Diogo Clemente foi a minha única escolha, porque não tinha dúvidas de que era a pessoa certa. É feito de talento e criatividade. É músico de excepção – totalmente século XXI, e tem uma visão musical muito à frente. Quando lhe mostrei as minhas músicas e lhe disse o que desejava, ele nem hesitou e disse sim!
Como foi a escolha de repertório? Lamenta que algum tema não esteja neste disco?
O repertório composto em 2020 foi o resultado dos tempos, tanto em Portugal como no mundo. Tempos estranhos, tristes… Acho que estes sentimentos estão bem presentes no álbum. Também decidi gravar instrumentalmente algumas das minhas músicas mais conhecidas e divulgadas, especialmente por Mariza, com versões em muitos países – baseado no número de autorizações que me solicitaram.
Durante muitos anos foi o proprietário do icónico ‘Clube de Fado’, em Alfama, dando palco a muitos artistas. Qual o balanço que faz desse tempo?
Tempos fantásticos, de criação e cumplicidades. Como anteriormente afirmei, o meu objetivo maior era dignificar o Fado. Ter os mestres (Alcindo de Carvalho e Maria da Nazaré) como farol dos mais jovens e fazer-lhes sentir que se fossem humildes e honestos poderiam contribuir para que a música que melhor define Portugal – o Fado, se perpetuasse nos tempos. E foram tantos os talentos que lá iniciaram as suas carreiras. E é tanto o orgulho de pensar que de alguma forma contribuí para os seus sucessos, que também com felicidade os considero meus. Sinto-me feliz por eles. Mas a vida é feita de ciclos e senti que o ‘ciclo dourado’ iria acabar, e acabou. Estou dedicado agora à família, amigos e música. Sou LIVRE!
Sou um fã de orquestras. Neste disco conta também com uma. Sente que uma orquestra valoriza a música, dando-lhe outra roupagem?
Para mim não há roupagens. Uma orquestra valoriza sempre a música.
O Fado será sempre um dos seus amores maiores?
Sim! Por tradição familiar, por ter convivido com os grandes vultos do Fado, que tanto me ensinaram, ‘enamorei -me’ pelo Fado. Por aqueles que me trouxeram numa bandeja de ouro um património único. Falo dos fadistas, guitarristas e violistas que construíram esta maravilhosa música – para sempre grato!
Como analisa a evolução do Fado que acaba por em alguns momentos ter várias adições ao que anteriormente se fazia?
Naturalmente – há uma evolução musical com influências de outros músicos e mundos musicais, e muito maior divulgação das mesmas. O Fado como espectáculo é tão pressionado para se tornar ‘pop’ que salvo algumas poucas excepções é forçado a adicionar outros instrumentos que diluem a sua verdadeira intensidade intimista.
Este disco conta com poesia instrumental inspirada em obras de Fernando Pessoa, Amália Rodrigues ou Vasco Graça Moura. Sempre olhei para o Mário como um “tradicional futurista”, ou se preferirmos um intemporal. Sente que a sua marca no Fado perdurará no tempo?
Adoro ‘pintar’ musicalmente poesia. A vida proporcionou-me o contacto próximo com alguns vultos de enorme importância que mudaram a minha vida.
Embora sinta que estou no Fado para dar, acho que nunca retribuirei ao Fado o que ele me deu.
Se deixarei marca no Fado? Honestamente acho que sim. Haverá quem não me aprecie e quem me aprecie – mas deixarei marca. Se os jovens talentosos guitarristas não se acomodarem. Se se inquietarem honestamente e tentarem criar deixarei marca e ficarei muito feliz!
Enquanto músico, o que herdou artisticamente do seu pai, António Pacheco?
O prazer de ouvir os ‘antigos’, tocar, gostar de ensinar os mais jovens – fadistas e guitarristas, e nunca ser vaidoso, nem a qualquer custo dar nas vistas – Ser sempre honesto.
Teve oportunidade de ‘beber’ de mestres como Armandinho, Artur Paredes, Carlos Paredes, Pedro Caldeira Cabral e Fontes Rocha. Foram as melhores fontes que podia ter?
De facto embebedei-me com a Arte de Armandinho e Artur Paredes. Mais tarde, quando os conheci e toquei com eles, inebriei-me com a arte e conselhos de Carlos Paredes, com o profundo conhecimento musical de Pedro Caldeira Cabral e com a genialidade de José Fontes Rocha, que até ao fim da sua vida colaborou no Clube e a todos nos ensinou.
Acompanhou alguns dos nomes maiores do Fado. Qual o artista em que a exigência era maior?
A exigência foi sempre igual. Cada artista tem as suas características e bem acompanhar é muito difícil. Tocar nem tanto, mas acompanhar, com respeito pela música, poema e em especial pelo cantor, é muito difícil e exigente.
Sempre que falei com alguns fadistas sobre si, o olhar deles tornava-se terno e as palavras eram de admiração profunda. O que tem Mário Pacheco para marcar de forma indelével as pessoas?
Tratá-las com respeito, exigência e carinho. (O mesmo que espero para mim).
Espectáculos para apresentar o disco já estão marcados? Como será a sua agenda para 2022, dentro daquilo que nos possa revelar.
A meio de 2022, irei apresentar o álbum no Porto e em Lisboa. Tournées e concertos na Europa estão a ser organizados.
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