Grupo "Fado Clandestino" vai lançar disco com fados em português e francês
Notícias - Abril 04, 2022
O grupo "Fado Clandestino", composto por uma cantora francesa e dois músicos portugueses, vai lançar um EP em setembro, em França, no qual revisita o fado tradicional, com poemas franceses e portugueses e "arranjos livres de convenções".
Lizzie, Filipe de Sousa e Nuno Estevens vão apresentar o seu primeiro ‘EP’ a 28 de setembro, num concerto no Théâtre Comédie Nation, em Paris, dois anos depois de terem criado o projeto musical e de terem feito várias atuações em França.
O projeto chama-se “Fado Clandestino” porque há “uma reapropriação do fado tradicional” que resulta da “ida e volta” entre as culturas portuguesa e francesa, criando “um fado sem fronteiras”, disse à Lusa Lizzie Levée, que assina apenas como Lizzie.
“Aquela ideia de clandestinidade reflete mesmo o nosso lugar no meio do Fado e do ponto de vista musical porque o que fazemos sai das convenções e sai sobretudo das convenções do meio do Fado em França. Este fado não podia também ter nascido em Portugal porque tem muito a ver com a nossa realidade francesa e, portanto, é um tipo de fado que erra entre duas terras e que se quer libertar das convenções”, descreveu a cantora.
O grupo tem vários fados cantados em francês, como “Albatroz”, de Charles Baudelaire, que é cantado ao ritmo do ‘Fado Alexandrino de Joaquim Campos’ para “mostrar o que o fado traz a uma outra língua que não o português e como é que um fado fica influenciado pela língua em que é cantado”.
Em francês cantam, ainda, “Les Yeux d’Elsa”, baseado num poema de Louis Aragon, e “La Prière”, inspirado numa música do cantor Georges Brassens, mas Lizzie considera que a originalidade do grupo se exprime mais nos poemas, nos arranjos e nos pontos de vista do que no facto de cantar fados em francês.
“Quando tocamos o ‘Fado da Sina’, exprimimos um ponto de vista, não tocamos aquilo de forma muito tradicional. Eu acho, por exemplo, que o ‘Fado da Sina’ é um fado um pouco sádico que tem a ver com aquela maneira de querer fazer sofrer o outro. E, portanto, acho que aquela ideia tem uma coisa um pouco rock e tentámos por naqueles arranjos uma coisa que dá um pouco de medo. Agora, não fazemos rock’n roll com aquilo”, explicou.
O nome da banda é, também, o nome de um tema escrito e cantado por Lizzie – com uma ponta de sotaque francês – e musicado para o ‘Fado Margaridas’.
“Fado Clandestino é um poema que fala do exílio. Não é um poema que fala de amor, nem um poema que fala de Lisboa. É um poema que fala do exílio, portanto, já é um ponto de vista: eu, enquanto francesa, sobre a história dos portugueses e aquilo que me toca na história dos portugueses”, descreveu a cantora, sublinhando que “para cantar o fado é preciso ser lusófono” e não apenas português.
O EP, que foi editado graças à plataforma de financiamento participativo Ulule, apresenta ainda o ‘fado cravo’ “Maldição”, “cujo arranjo é ritmicamente diferente” e duas guitarradas compostas por Filipe de Sousa e Nuno Estevens, “Terra e Mar” e “Além Fado”.
Aos 33 anos, a francesa que não tem raízes portuguesas e que cresceu a ouvir Edith Piaf, Barbara e Jacques Brel, fala do fado como “uma paixão” que descobriu, por acaso, “aos 16, 17 anos” num documentário sobre Lisboa em que ouviu Mariza pela primeira vez.
“Uns meses mais tarde, ouvi Mariza a cantar ‘Oh gente da minha terra’ na televisão e fiquei tão perturbada que me apaixonei pela língua portuguesa, pela cultura e pelo fado. Quis aprender português, tenho um mestrado de português e fui fazer Erasmus em Lisboa. A minha maneira de entrar na língua portuguesa era a ouvir fado”, contou.
Em 2015, no seu primeiro disco, “Navigante”, Lizzie apresentava um universo entre a canção francesa, a música ‘folk’ norte-americana e o fado, com uma instrumentação a conjugar contrabaixo, bandolim ‘country’, um clarinete, um violino e a guitarra portuguesa de Filipe de Sousa.
Foi precisamente Filipe de Sousa, o músico que tem acompanhado várias gerações de fadistas em Paris, que a introduziu nas noites de Fado Vadio na capital francesa, onde conheceu também Nuno Estevens, outro português que trocou várias casas de fado em Lisboa por Paris. Os três criaram “Fado Clandestino” em 2016.
O projeto chama-se “Fado Clandestino” porque há “uma reapropriação do fado tradicional” que resulta da “ida e volta” entre as culturas portuguesa e francesa, criando “um fado sem fronteiras”, disse à Lusa Lizzie Levée, que assina apenas como Lizzie.
“Aquela ideia de clandestinidade reflete mesmo o nosso lugar no meio do Fado e do ponto de vista musical porque o que fazemos sai das convenções e sai sobretudo das convenções do meio do Fado em França. Este fado não podia também ter nascido em Portugal porque tem muito a ver com a nossa realidade francesa e, portanto, é um tipo de fado que erra entre duas terras e que se quer libertar das convenções”, descreveu a cantora.
O grupo tem vários fados cantados em francês, como “Albatroz”, de Charles Baudelaire, que é cantado ao ritmo do ‘Fado Alexandrino de Joaquim Campos’ para “mostrar o que o fado traz a uma outra língua que não o português e como é que um fado fica influenciado pela língua em que é cantado”.
Em francês cantam, ainda, “Les Yeux d’Elsa”, baseado num poema de Louis Aragon, e “La Prière”, inspirado numa música do cantor Georges Brassens, mas Lizzie considera que a originalidade do grupo se exprime mais nos poemas, nos arranjos e nos pontos de vista do que no facto de cantar fados em francês.
“Quando tocamos o ‘Fado da Sina’, exprimimos um ponto de vista, não tocamos aquilo de forma muito tradicional. Eu acho, por exemplo, que o ‘Fado da Sina’ é um fado um pouco sádico que tem a ver com aquela maneira de querer fazer sofrer o outro. E, portanto, acho que aquela ideia tem uma coisa um pouco rock e tentámos por naqueles arranjos uma coisa que dá um pouco de medo. Agora, não fazemos rock’n roll com aquilo”, explicou.
O nome da banda é, também, o nome de um tema escrito e cantado por Lizzie – com uma ponta de sotaque francês – e musicado para o ‘Fado Margaridas’.
“Fado Clandestino é um poema que fala do exílio. Não é um poema que fala de amor, nem um poema que fala de Lisboa. É um poema que fala do exílio, portanto, já é um ponto de vista: eu, enquanto francesa, sobre a história dos portugueses e aquilo que me toca na história dos portugueses”, descreveu a cantora, sublinhando que “para cantar o fado é preciso ser lusófono” e não apenas português.
O EP, que foi editado graças à plataforma de financiamento participativo Ulule, apresenta ainda o ‘fado cravo’ “Maldição”, “cujo arranjo é ritmicamente diferente” e duas guitarradas compostas por Filipe de Sousa e Nuno Estevens, “Terra e Mar” e “Além Fado”.
Aos 33 anos, a francesa que não tem raízes portuguesas e que cresceu a ouvir Edith Piaf, Barbara e Jacques Brel, fala do fado como “uma paixão” que descobriu, por acaso, “aos 16, 17 anos” num documentário sobre Lisboa em que ouviu Mariza pela primeira vez.
“Uns meses mais tarde, ouvi Mariza a cantar ‘Oh gente da minha terra’ na televisão e fiquei tão perturbada que me apaixonei pela língua portuguesa, pela cultura e pelo fado. Quis aprender português, tenho um mestrado de português e fui fazer Erasmus em Lisboa. A minha maneira de entrar na língua portuguesa era a ouvir fado”, contou.
Em 2015, no seu primeiro disco, “Navigante”, Lizzie apresentava um universo entre a canção francesa, a música ‘folk’ norte-americana e o fado, com uma instrumentação a conjugar contrabaixo, bandolim ‘country’, um clarinete, um violino e a guitarra portuguesa de Filipe de Sousa.
Foi precisamente Filipe de Sousa, o músico que tem acompanhado várias gerações de fadistas em Paris, que a introduziu nas noites de Fado Vadio na capital francesa, onde conheceu também Nuno Estevens, outro português que trocou várias casas de fado em Lisboa por Paris. Os três criaram “Fado Clandestino” em 2016.
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