Amália Rodrigues no Japão
Discos - Agosto 15, 2022
Se uma travessia para o outro lado do mundo em 1970 em nada se comparava
com as epopeias da literatura clássica, estava ainda longe o imediato
das viagens de hoje.
A 14 de Agosto desse ano Amália ruma a Copenhaga, de onde parte no dia seguinte para Bangkok. Na madrugada do dia 18 aterra em Osaka e só no dia 21 de Agosto chega a Tóquio.
In media res. Por falar em epopeias, é no meio da carreira, em pleno apogeu vocal, que Amália se estreia no Japão.
Neste recital, felizmente preservado em disco, apresenta um programa no qual, para além dos géneros em português (o Fado, o Folclore, as Marchas de Lisboa, a Canção), visita, ainda mais do que o habitual, grandes sucessos seus em francês e em italiano, revelando-se aos japoneses como a mais versátil intérprete da música mediterrânica. E, no meio das opulentas versões dos seus êxitos internacionais, anunciadas em voz terna, não deixa de nos oferecer uma raridade: um fado do repertório da sua irmã Celeste, “É Noite na Mouraria”. Fado que nunca gravou em estúdio mas que tinha já cantado nos três recitais que deu em Bucareste, na Roménia, em Março do ano anterior.
Há que falar também em descobertas. Se para Amália o ano de 1970 começara com a paixão do público italiano, o Verão marcaria o nascer do suave e sofisticado amor do público japonês. A naturalidade e o requinte do cantar de Amália, ampliados pela ritualização do seu estar em palco, logo fascinaram os japoneses.
皆さん こんばんわ (Minasan Konbanwa) – as primeiras palavras cantadas por Amália neste recital. Humanista e universal como era, Amália absorvia sempre o espírito das suas plateias e com ele comungava – compare-se a excitação de um espectáculo gravado em Itália em Janeiro deste mesmo ano com a sedução imanente deste disco ao vivo no Japão.
Os convites a Amália para cantar no Japão remontam ao final dos anos 50 e intensificam-se na década seguinte. Foi o sucesso de “Barco Negro”, no filme Les Amants du Tage, em 1955, que despertou o interesse dos japoneses por Amália. Pouco depois, os seus discos conheciam já edições fabricadas no Japão. Para conseguir vê-la ao vivo, não foi sem alguma ansiedade que o público nipónico esperou mais de dez anos.
Por fim, a 20 de Agosto de 1970, estreia-se em Osaka, no auditório da Expo 70. A sua presença no Japão aguça o interesse de um empresário japonês, que aproveitando essa viagem a convida para um programa de televisão na NHK e para dois recitais em dois teatros de Tóquio. O extraordinário êxito obtido por Amália fez com que a editora japonesa Odeon, então parceira da EMI, decidisse gravar um disco ao vivo durante o segundo recital. No Sankei Hall, a 2 de Setembro de 1970, nesta edição apresentado na sua integralidade.
Amália voltaria ao Japão em diversas temporadas, até 1993, quando, no auge da sua comovente fragilidade, o Japão reconheceu nela, por uma vez derradeira, a inalcançável Rosa Negra.
In media res. Por falar em epopeias, é no meio da carreira, em pleno apogeu vocal, que Amália se estreia no Japão.
Neste recital, felizmente preservado em disco, apresenta um programa no qual, para além dos géneros em português (o Fado, o Folclore, as Marchas de Lisboa, a Canção), visita, ainda mais do que o habitual, grandes sucessos seus em francês e em italiano, revelando-se aos japoneses como a mais versátil intérprete da música mediterrânica. E, no meio das opulentas versões dos seus êxitos internacionais, anunciadas em voz terna, não deixa de nos oferecer uma raridade: um fado do repertório da sua irmã Celeste, “É Noite na Mouraria”. Fado que nunca gravou em estúdio mas que tinha já cantado nos três recitais que deu em Bucareste, na Roménia, em Março do ano anterior.
Há que falar também em descobertas. Se para Amália o ano de 1970 começara com a paixão do público italiano, o Verão marcaria o nascer do suave e sofisticado amor do público japonês. A naturalidade e o requinte do cantar de Amália, ampliados pela ritualização do seu estar em palco, logo fascinaram os japoneses.
皆さん こんばんわ (Minasan Konbanwa) – as primeiras palavras cantadas por Amália neste recital. Humanista e universal como era, Amália absorvia sempre o espírito das suas plateias e com ele comungava – compare-se a excitação de um espectáculo gravado em Itália em Janeiro deste mesmo ano com a sedução imanente deste disco ao vivo no Japão.
Os convites a Amália para cantar no Japão remontam ao final dos anos 50 e intensificam-se na década seguinte. Foi o sucesso de “Barco Negro”, no filme Les Amants du Tage, em 1955, que despertou o interesse dos japoneses por Amália. Pouco depois, os seus discos conheciam já edições fabricadas no Japão. Para conseguir vê-la ao vivo, não foi sem alguma ansiedade que o público nipónico esperou mais de dez anos.
Por fim, a 20 de Agosto de 1970, estreia-se em Osaka, no auditório da Expo 70. A sua presença no Japão aguça o interesse de um empresário japonês, que aproveitando essa viagem a convida para um programa de televisão na NHK e para dois recitais em dois teatros de Tóquio. O extraordinário êxito obtido por Amália fez com que a editora japonesa Odeon, então parceira da EMI, decidisse gravar um disco ao vivo durante o segundo recital. No Sankei Hall, a 2 de Setembro de 1970, nesta edição apresentado na sua integralidade.
Amália voltaria ao Japão em diversas temporadas, até 1993, quando, no auge da sua comovente fragilidade, o Japão reconheceu nela, por uma vez derradeira, a inalcançável Rosa Negra.
Frederico Santiago
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