Katia Guerreiro - Mistura

Tiago Bettencourt produziu os temas Pergunta Atrevida, Já Não Me Perco no Mar e Que Passo Queres dar. Pedro
de Castro, por seu turno, produziu os restantes sete: Mistura, Lisboa Perdeu a Voz, Vida de Fado, Esqueci-me da Alegria, Cais da
Saudade, O Santo António da Aldeia e Espelho Teu.
O álbum será comercializado
em formato de livro, com um QR Code que dá acesso à gravação, e várias
notas da fadista sobre os temas, além da identificação dos autores e
acompanhadores.
Mistura abre o álbum e dá o título ao projeto, com música
de Pedro de Castro, denominada Fado Alma. Mistura é um poema de
Maria Luísa Baptista, falecida em 2016, e que desde sempre faz parte do
repertório da fadista com temas como Asas, Muda tudo, até o mundo e Tenho uma saia rodada. Neste disco assina ainda Esqueci-me da
Alegria, poema musicado por Pedro de Castro (através do Fado Maria
Luísa).
O álbum totaliza 12 temas, entre eles Espelho
Teu, com letra e música de Rita Redshoes, Cais da Saudade, de Pedro
Rapoula, com música de Pedro de Castro, Não me Perco no Mar, letra e
música de Hélder Moutinho, Vida de Fado, de João Monge e Zeca
Medeiros, e Que Passo Queres Dar, letra e música de Tiago Bettencourt.
Katia Guerreiro reconheceu que, entre os temas escolhidos,
perpassa um certa crítica aos caminhos que o género fado tem tomado,
nomeadamente através de Lisboa Perdeu a Voz, de Manuela de Freitas,
musicado por Tiago Curado, e Pergunta Atrevida, de Carlos Mendonça
(1939-2016), musicado por Pedro de Castro (Fado das Biscoiteiras).
O
poema de Carlos Mendonça questiona “se não há tempos de outrora/ por
serem tempos passados”, porque se continua a cantar “ais à Mouraria”, e
se “fala de um Bairro Alto/ atrevido e apinhado/ mas lá até o basalto/
anda mais sofisticado”.
No poema de Manuela de Freitas, Katia Guerreiro canta que
“já nem se ouve o fadista”, entre “bateria, acordeão/, projeções [e]
fogo de vista”, e daí que o “fado se fosse embora”, mas talvez “esteja
escondido nalguma viela escura”.
Katia Guerreiro defendeu
“que toda a música sofre evoluções, naturalmente. A própria Amália
[Rodrigues] foi um grande motor de evolução no fado”, mas ressalvou:
“Quando falamos de fado não nos podemos esquecer que é uma identidade
cultural e, a partir do momento que o fado começa a misturar-se, ou a
apresentar-se exclusivamente com registos que não são da sua origem, a
determinada altura começamos a ficar um bocadinho desanimados e
preocupados com o futuro que o fado possa começar a levar”.
As
composições apresentadas neste disco, mesmo as de caráter mais
tradicional - e há novos fados tradicionais neste disco -, são
compostas, não da forma simplista como eram compostos há 100 ou 150
anos, mas têm uma estrutura e estética musicais que são muito
contemporâneas e muito diferentes e evoluídas em relação àquilo que o
fado era. E há as escolhas poéticas que têm naturalmente a ver com a
atualidade, uma poesia mais contemporânea e mais intemporal que não
sejam as historiazinhas de bairro - isso já se abandonou há algum
tempo.
Da
lista dos cerca de 200 fados tradicionais existentes, Katia Guerreiro
canta o Fado Mocita dos Cacaróis, de Alfredo Marceneiro, num poema de
Manuela de Freitas, “Xaile Negro”.
Do
alinhamento faz parte “O Santo António da Aldeia”, um tema datado de
1953, “ao jeito de folclore”, de autoria do poeta popular Feliciano da
Silva, de 92 anos, que Pedro de Castro, musicou. O poema veio ter às
mãos da fadista pelo neto de Feliciano da Silva, que é amigo de Katia
Guerreiro e, inicialmente, era previsto ser gravado para fazer uma
surpresa ao autor no dia de apresentação de um livro seu, o que não
aconteceu, e acabou por ser incluído neste projeto.
Neste álbum, Katia Guerreiro é
acompanhada por Pedro de Castro e Luís Guerreiro, na guitarra
portuguesa, João Mário Veiga e André Ramos, Francisco Gaspar, na viola
baixo e contrabaixo, e conta ainda com as participações de Rui Veloso,
na guitarra elétrica, em Mistura, e de Tiago Bettencourt, na viola e
piano, em Que Passo Queres Dar.