Tecnologia faz regressar Amália ao palco do Coliseu dos Recreios
De acordo com os produtores, o espetáculo "Amália, Dona de Si" inclui diversos temas em que o principal intérprete e os músicos que o acompanham interagem com a voz de Amália Rodrigues, algo só possível com tecnologia que, há uma década, não existia.
"A construção de cada um dos temas tem aqui algo que só a tecnologia nos podia dar. Temos a voz da Amália, que é retirada dos originais, que nós colocamos através de algoritmos em software e nos permite tocar ao vivo com a voz. Com os andamentos originais, mas com os instrumentos de hoje", disse à agência Lusa o pianista Pedro Ferreira.
E como é cantar com Amália, ao mesmo tempo do que ela, sem Amália estar, fisicamente, em palco? O cantor Diogo Carvalho resumiu a "emoção" de o fazer, mesmo se os ensaios são diferentes de uma apresentação ao vivo do musical que se estreou em 2021, no Centro de Artes e Espetáculos (CAE) da Figueira da Foz e passou por São Paulo, no Brasil, em novembro de 2022.
"Normalmente nos ensaios nada nos toca, mas em palco, estava a cantar o primeiro tema, o "Medo", e quando entrou a voz dela, instalou-se um ambiente completamente diferente. Mas não é só a mim, quase de certeza absoluta que isso também aconteceu com o público", resumiu Diogo Carvalho.
Musicalmente, "Amália, Dona de Si" é um olhar para a carreira de uma artista "que desconstruiu aquilo que era um bastião chamado fado, aquilo que ela própria ajudou a elevar", continuou Pedro Ferreira.
O que o novo musical pretendeu fazer "foi, também, de alguma forma, trazer essa desconstrução" para o palco, substituindo a viola por um piano, adicionando um contrabaixo, mas mantendo a guitarra portuguesa.
"Nunca poderíamos tirar a guitarra portuguesa, nem ela o fez, embora tenha havido uma fase em que apareceu um saxofone e outros instrumentos que tiraram o lugar da guitarra portuguesa nos comentários melódicos, o que é interessante. E depois daí, também, as excelentes polémicas que a Amália ia provocando", notou Pedro Ferreira.
Nessas polémicas, continuou, a própria Amália "tirava as suas conclusões e qual o caminho a seguir".
Já o guitarrista Ricardo Silva reforçou essa importância da guitarra portuguesa, quer no musical de que faz parte, quer na carreira da cantora e fadista portuguesa.
Para além da reinterpretação de temas icónicos de Amália Rodrigues, "Amália, Dona de Si" apresenta um tema original, cantado por Diogo Carvalho, que encerra o espetáculo.
"Quando olhamos para a sua história de vida, que está aqui tão bem escrita, musicalmente também tínhamos a missão de trazer algo de novo. Lançamos um original, que se chama 'Amália, Pelos Caminhos do Teu Nome', que quer trazer esses sons de hoje, essa forma também de compor para as gerações mais atuais", revelou Pedro Ferreira.