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O fado no Brasil: olhar contemporâneo

Distantes de Portugal e abaixo da linha do Equador, temos valiosas vozes e músicos fadistas que proporcionam conexões e viagens repletas de emoção para o Atlântico Norte ou que talvez representam uma viagem antípoda.

No centro das atenções hodiernas, podemos destacar as vozes de Ana Carla Lemos, Amanda Botelho Mendes, Lorena Monteiro, Júlia Machado, Ciça Marinho, Sandra Fidalgo, Vinícius Rocha, Maria de Lourdes, Elyana Martins, Francisco Bandarra, Fafá de Belém, Gloria de Lourdes; a guitarra de Wallace Oliveira e outros artistas que poderiam ser lembrados. Aqui seria impossível, por razões metodológicas, expô-los nessas linhas.

Convém salientar que, na região central do Brasil, a título de exemplo, o fado é destacado em restaurantes portugueses de Brasília, no Distrito Federal, sustentado por músicos residentes na capital do país. Há, pois, um movimento próprio para apresentar a sonoridade de Portugal, carregada de sentimentos que traduzem a alma lusitana, com uma realidade na agenda do lugar que promove intercâmbios norteados pelo sucesso da canção “Patrimônio Imaterial da Humanidade”.

Em Goiás se sobressai a composição “Fado de Vila Boa”, do cantor e compositor António de Pádua da Silva, artisticamente conhecido como “Pádua Goiano”, em parceria com Nasr Chaul. Dessa maneira, demonstramos que tal canção corre nas veias de artistas brasileiros inspirados por outras conexões que deixam descortinar uma certa similitude com suas raízes do cerrado e da Música Popular Brasileira (MPB).

Na literatura goiana, a palavra “fado” também se faz presente nas poesias “Todas as Vidas” e “Estâncias”, escritas respectivamente por Cora Coralina e Leodegária de Jesus, as quais destilam o modo de ser na antiga capital goiana, a comoção e a inquietação. Os sentimentos marcam o lugar, simbolizam e qualificam o destino das poetisas, ao colocarem o fado como pertencente aos becos das margens do rio Vermelho.

Os exemplos citados expressam que o vocábulo “fado” passa a trilhar os caminhos da poesia e música na paisagem urbana e turística do interior do país, o que revela um sentimento de orgulho, saudade, nostalgia e materialização das emoções por meio de um território que evoca a literatura e o cerrado com sentidos obtidos por meio das memórias vivenciais de quem conhece a região.

Nesse entremeio, mais especificamente na região litoral, escrever sobre o fado e não lembrar da lusitana Amália Rodrigues é como deslisar no front de uma cuesta, ao deixar um imenso desnível nessas linhas e escrever sem fazer jus à maior voz do fado. Assim afirmamos que, a partir da metade do século XX, Amália cantou vários temas de compositores e poetas brasileiros, gravou músicas e, ao longo tempo, deixou em nosso território uma história inexaurível para fortalecer a presença do fado em diferentes paragens dessa terra.

Também não menos intensas são as atuais apresentações de fado que ocorrem nas mídias sociais. Como exemplo, podemos frisar o “Roda-roda vira podcast”, de São Paulo, que proporciona o devido respeito e visibilidade a esse elemento cultural, ao abrir caminhos para uma arte que estava restrita a poucos lugares vinculados à luso-brasilidade. Nesse sentido, o “Roda-roda vira podcast” é, sobretudo, um espaço que muito tem a dizer-nos acerca do fado e os diversos valores da cultura portuguesa.
Portanto, se existe o rock brasileiro, confesso que, a partir dos nomes e exemplos citados neste breve texto e de outros que poderiam ser sublinhados com louvor, existe uma aliança abaixo da linha do Equador com o fado, que revela um carácter da nossa brasilidade. Alegamos que a nova onda de excelentes fadistas no Brasil tem contribuído sobremaneira para o avivamento da música e cultura portuguesa. Contudo, a presença dos artistas em diferentes paisagens brasileiras faz de nós meros apreciadores do fado um pouco mais nobre no âmbito cultural.


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