Uma mulher fadista de superlativos: Carminho em Bueño
Concertos - Setembro 25, 2023
Casa de Cultura | Bueño - Espanha | 21.09.2023
Carminho é uma mulher e uma cantora de aumentativos, ou melhor, de superlativos. E aqui estava ela em Bueño, que também é um lugar superlativo, embora, por ser tão próximo, tão familiar, talvez não lhe demos o valor que merece.
Veio cantar fados na inauguração do Centro de Arte de Bueño, ao ar livre, exatamente quando o outono começou; pois, como mencionei, em poucos minutos a temperatura ambiente baixou drasticamente, instigada por uma brisa desagradável, em questão de dez minutos. No entanto, Carminho estava lá, envolta por alguns minutos numa nuvem de vapor produzida pela atmosfera decorativa do colossal cenário. Aliás, os músicos perderam um pouco da sua presença naquele espaço imenso e não conseguiram ter o destaque e protagonismo que geralmente têm nestes espetáculos de fado; de facto, nem chegaram a tocar nenhuma "guitarrada", que é uma peça musical inteiramente instrumental, que geralmente é magnífica e virtuosística.
Carminho preencheu tudo: a emoção, a elegância, os comentários sugestivos em espanhol "portugalizado" e com um desejo genuíno de conquistar a nossa simpatia. Ela começou por cantar "O quarto", um fado clássico de Alfredo Marceneiro, intitulado "Pagem" (o pagem), que arrepiou... Seguiram-se duas baladas que tinham pouco de fado, mas felizmente ela voltou ao verdadeiro fado com "Santa Luzia", a "Marcha de Alcântara de 1969", uma maravilha de alegria... Pois, embora o fado tenha a fama de ser triste, aqui em Espanha não o é, pode também ser alegre e, na verdade, pode até ser efervescente; como, por exemplo, "Oiçá-la, ó senhor Vinho", "A Rosinha dos Limões", "Pechincha", "Passeio Fadista", "Júlia Florista" e outras marchas de fado que são interpretadas nas ruas das festas lisboetas de Santo António, em junho.
Carminho já tinha estado em Oviedo, especificamente no Teatro Filarmónica, num dos concertos do ciclo "Divas do Fado", que, em dois ou três outonos há mais de uma década, trouxe excelentes fadistas acompanhadas por músicos de grande qualidade. Que, a propósito, deveriam ser repetidos num outro ciclo semelhante, que certamente seria um sucesso.
A fadista enfrentou as condições climáticas adversas e continuou a cantar cada vez melhor, até interpretar um último fado sem amplificação sonora, que arrepiou o público tremendo de frio, mas com os corações a arder...
Ángel García Prieto