Brigada Victor Jara - Ceia Louca
A tradição já não é o que era, e
recomenda-se que assim seja! Senão, tomemos como exemplo o último trabalho
discográfico da Brigada Victor Jara,
um dos grupos mais importantes do panorama musical português e uma referência
incontornável.
Passados 30 anos de recolha,
preservação e divulgação do património etnomusicológico de norte a sul de
Portugal, patente numa vasta discografia, o tão aguardado Ceia Louca apresenta-se como um amadurecimento na estética musical
do grupo, com um toque de modernidade e sofisticação, ao mesmo tempo que faz
ressoar as batidas percutivas da tradição, como um latejar vital da cultura dum
povo.
Diversidade é a palavra que
melhor define este banquete servido tanto à beira-mar, como no interior dos
vales e das montanhas, levando-nos a imaginar trilhos antigos ou ritos
esquecidos no imaginário popular. De facto, a Brigada Victor Jara propõe-nos
uma viagem musical ao resgatar temas tradicionais de vários pontos geográficos:
desde as ilhas da Madeira e dos Açores, até Trás-os-Montes, passando pelas
terras do Algarve e das Beiras. Esta linha da tradição só é rompida pelo único
tema original e instrumental do disco: Arruada.
A diversidade sonora, contrabalançando tempos e ritmos, acordes e melodias, também
se faz sentir nas colaborações vocais de distintos músicos portugueses,
provenientes de diferentes estilos musicais, nomeadamente o rock, o pop, o fado
e a música popular. Por isso, não estranhem ouvir a voz rasgada de Jorge Palma
a cantar uma Chamarrita Zaragateira
açoreana, ou a doçura fadista de Cristina Branco em tom de Embalo madeirense, para não falar da imensidade vocal de Catarina
Moura, intérprete do grupo e membro do projecto feminino Segue-me a capella,
que, por sua vez, também colabora em Cantiga
Bailada.
O manjar não podia estar melhor
preparado, deixando-nos cair, loucamente, no pecado da gula de querer mais...