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Duarte: “Gostava de continuar por aqui, com a minha música, para o que vier”

Entrevistas - Fevereiro 01, 2025
Duarte celebra 20 anos de carreira: “Gostava de continuar por aqui, com a minha música, para o que vier”, assinalou.

Hoje, sábado, actua no Teatro Garcia de Resende, em Évora, num espectáculo que passará em revista a sua carreira e terá temas do mais recente disco editado.

Com um percurso já bem vincado no Fado, Duarte tem granjeado admiração no público, com destaque para o internacional, visto que tem actuado fora de Portugal.

Nesse sentido, o fadista concedeu uma entrevista em que aborda este percurso e também o mais recente disco.

Duarte: “senti sempre como necessário pensar e cantar os meus dias e os dias daqueles que passam na minha vida”

Duarte, começo por questionar quanto valem estes 20 anos, naquilo que a entrega à música e no processo criativo?

Valem um lugar de prazer. Valem um lugar de maior tranquilidade no que se refere à coisa esperada por outros“, referiu.

Acrescentou ainda: “Valem as relações que se foram vivendo. Valem o pensamento crítico e o amor às artes“.

Creio, corrige-me se for incorrecto, que acabas por marcar uma identidade muito própria no Fado ao longo do teu percurso. Consideras que durante algum tempo foste incompreendido?

Obrigado antes de mais pela visão sobre a identidade marcada e desenvolvida. Só podemos ser compreendidos pelo outro se esse outro se permitir ou propuser a conhecer-nos. Se no entanto nada lhe for dado a conhecer, não vai nem reconhecer, nem compreender. Um determinado caminho terá sempre lugares de compreensão e incompreensão. Conhecimento e desconhecimento. Assim também foi o meu.

Nos últimos trabalhos, na minha opinião, acabaste por ter uma postura mais crítica e refletiva, até, sobre o mundo e a forma como vês a música, o fado em particular. Há essa necessidade de exteriorizares as emoções de uma forma mais vincada?

Quanto a mim, senti sempre como necessário pensar e cantar os meus dias e os dias daqueles que passam na minha vida. Não há reflexão nem pensamento crítico sem emoções e essas naturalmente vão fazer parte do processo criativo.

Em 20 anos muita coisa mudou, no Fado e no mundo. Aquilo que te pergunto é o que sobra do Duarte de início de carreira e o que mudou em ti?

Talvez não sobre nada. Talvez tenha sido um caminho de acrescento e não de sobra ou perda. Sou também aquilo que fui vivendo e sentindo. A minha gratidão à Maria da Fé será assim de alguma forma infinita. Não havia este Duarte sem ela ou sem Sr. Vinho.”

Hoje [1 de Fevereiro] actuas no Teatro Garcia de Resende, em Évora. Creio que seja uma sala especial para ti e questiono que concerto estás a preparar em termos de repertório?

É sempre especial tocar em casa. Vamos ter um concerto com os temas marcantes dos meus primeiros cinco discos e vamos tocar também temas deste novo “Venham Mais Vinte”. O concerto acaba assim por ter em vista uma exposição do caminho andado.

Terás convidados especiais, já foram anunciados, e pergunto-te qual foi o motivo para esta escolha?

Grupo de Cantares de Évora, Pedro Calado, Miguel Monteiro, Rita Dias e Mara. Pessoas que de alguma forma passaram, fizeram e estiveram comigo nestes 20 anos. Pessoas que fizeram ou fazem parte daquilo que sou enquanto artista.

Ao longo destes 20 anos, é justo dizer que tiveste mais reconhecimento no estrangeiro (onde esgotaste inúmeras salas e tiveste várias críticas elogiosas da imprensa) do que em Portugal?

É factual que toco mais vezes fora de Portugal do que em Portugal. Não sei se tem que ver com reconhecimento ou não. Contudo, só podemos sentir um trabalho reconhecido se, antes desse reconhecimento, o trabalho tiver sido dado a conhecer.

Que importância dás neste momento ao que o público possa esperar de ti ou até de algum distanciamento, caso exista, da imprensa ao teu trabalho?

Não me queixo nem do público nem da imprensa. Tenho tido sorte quer com um, quer com outro. Quanto ao esperado por outros, importa-me cada vez menos. Não faço nem crio pelo que os outros esperam de mim.

Numa recente entrevista, à Lusa, afirmas que este é um disco de risco. Porque é que o consideras assim e qual o objectivo quando o decides tornar num disco de risco?

Eu não tive por objetivo ou decisão fazer um disco de risco. Os meus objetivos foram três: fazer um disco de reflexão sobre um caminho artístico; convidar amigos de outras áreas musicais que não do fado para essa festa tentando não perder a minha identidade enquanto artista; e cantar sobre o conceito de vulnerabilidade. A ideia de risco surge numa primeira abordagem por parte da crítica aquando da escuta do objecto pela sua temática, diversidade, contemporaneidade e afastamento ao mainstream.

Ao longo destes 20 anos, além dos vários palcos que pisaste, é impossível não falar do Senhor Vinho. Qual a importância desta casa de fado no teu percurso e, por consequência, da ligação a nomes como Maria da Fé?

Continua a ser para mim por excelência um lugar de crescimento e desenvolvimento artístico. A minha gratidão à Maria da Fé será assim de alguma forma infinita. Não havia este Duarte sem ela ou sem Sr. Vinho.

Venham Mais 20 é o nome do teu mais recente disco. Posso considerar que há uma vontade, apesar dos desafios que foste enfrentando, em continuar. Que Duarte queres ser e o que te falta ainda fazer?

Não quero, não pretendo, nem me faz sentido ser outro Duarte. Gostava de poder continuar a sentir o prazer que me dá o processo criativo, bem como o significado das relações vividas nesse mesmo processo. Gostava de continuar por aqui, com a minha música, para o que vier. Seja lá isso o que for.

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