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Guitarra portuguesa: a história, a construção, a importância e o futuro

Tudo isto é fado! - Fevereiro 20, 2025
Tem um som cativante que deixa qualquer um rendido. Acompanha os fados e faz-nos viajar através da sua melodia. Há poucas coisas mais portuguesas do que ela.

Mas afinal o que faz da guitarra portuguesa tão especial? Óscar Cardoso e Pedro Caldeira Cabral respondem.

Há mais de 50 anos que Óscar Cardoso tem trabalhado no restauro e construção de instrumentos de corda. É um, se não o, guitarreiro mais conhecido do país e, apesar do passar do tempo, continua a considerar-se um apaixonado e louco, por não ter medo de inventar coisas novas, fazer experiências. Chegou a esta atividade por influência do pai, o construtor Manuel Cardoso e, neste momento, passa o legado para o filho.

O pai queria que o filho estudasse, mas rapidamente percebeu que este seguiria o seu caminho. “Não largava as madeiras. Ele começou a perceber isso e fizemos uma bancada para mim!”, explica. “Sempre gostei de fazer coisas malucas! Umas experiências… Ele dizia que eu era louco, mas até me incentivava. Contava-me muitas histórias sobre o mestre dele… Eu ficava louco! Depois fui parar aos instrumentos, claro. Nunca mais parei. É a minha vida”, continua.

Antes de construir começou a reparar. Já tinha aprendido a trabalhar com as ferramentas. “Até que chegou a altura que o meu pai me disse que eu ia começar uma viola. Uma guitarra clássica. Comecei a construir guitarras clássicas e, só anos mais tarde, comecei a fazer guitarras portuguesas”, adianta Óscar Cardoso.

Paixão, criatividade e exigência

Segundo o mesmo, para construí-las é preciso começar cedo. Pelo menos com 12 ou 13 anos. E também é importante aprender a tocar um instrumento “para se ter uma noção daquilo que a pessoa está a fazer”. “Do som, das notas, afinação de notas. Para uma pessoa que faça instrumentos e que não saiba tocar é muito mais difícil perceber a linguagem dos músicos. Aquilo que eles querem”, garante.

Em termos materiais, Óscar Cardoso acredita que atualmente “qualquer madeira é boa, desde que a pessoa a saiba analisar – a resistência, a elasticidade, as suas vibrações”. “É preciso saber como vamos trabalhar a madeira para que ela tenha um som igual ao de uma madeira melhor”, sublinha. As cordas compra feitas numa fábrica no norte de Portugal.

Interrogado sobre que tipos de guitarras portuguesas existem, o guitarreiro admite que, para si, são duas: a de Lisboa e a de Coimbra. “Há quem diga que também existe a guitarra do Porto… Essas guitarras depois são variantes das outras”, frisa.

A principal diferença está na “forma”. A de Lisboa é um bocadinho mais arredondada. A de Coimbra é mais em formato de pêra. “Depois a construção também é um bocadinho diferente. Enquanto na guitarra de Lisboa só se faz o braço depois da caixa estar feita, na guitarra de Coimbra faz-se primeiro o braço”, acrescenta. Óscar Cardoso acredita que “o instrumento é o diálogo constante entre o construtor e o músico. “Sem o músico o construtor não evolui e o músico não evolui sem o construtor”.

Conhece tão bem o seu próprio trabalho que consegue distinguir imediatamente os seus instrumentos quando os vê na televisão. “Porque um construtor tem um tipo de som, um timbre único. Eu sei bem o timbre dos meus instrumentos. Mas não é fácil! Não é toda a gente que o consegue!”.

Um construtor corajoso


Em 2010 fez uma guitarra portuguesa de dois lados. Mais tarde, numa outra invenção, fez uma guitarra portuguesa de um lado e clássica do outro. “Foi uma loucura daquelas que me vieram à cabeça. Lembrei-me de fazer isso. Uma coisa única. É interessante porque podes tocar coisas bastante diferentes, são dois instrumentos num. Eu gosto de chocar os músicos! Fazê-los pensar. Os músicos às vezes interrogam: ‘Será que isto tem som?’. Depois tocam e ficam fascinados, muito admirados com as minhas ideias”, partilha.

O construtor defende que a guitarra está sempre em evolução. Não o modelo, mas as várias variantes. “Acredito que isso também se deve a todas as experiências que eu fiz. Acho que atualmente todos os construtores andam a beber disso, apesar de não gostarem muito de mim. Não sou muito bem visto no meio, porque estou sempre a inventar e a trocar tudo… Eles não têm coragem. Eu faço experiências e não tenho medo que aquilo não resulte. Aliás, quando não resulta, fico muito feliz porque descubro coisas incríveis. Por norma os construtores pensam que vão estragar o instrumento, estragar a madeira”. Por isso, o guitarreiro não vê grandes inovações e construtores com grandes revoluções a nível acústico nas guitarras.

Para si, o som da guitarra portuguesa é um som único no mundo. “Tem muito a ver com a sensibilidade e com a nossa parte cerebral. A parte cerebral do ser humano fica rendida a esse som. Há qualquer coisa nele que se identifica com a parte cerebral”.
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