Duarte no Coliseu Club, vinte anos de fado, saudade e destino
Concertos - Março 12, 2025


Coliseu Club - Lisboa - 11.04.2025
Na noite de 11 de março, o Coliseu Club, nova sala inserida no Coliseu dos Recreios, abriu as suas portas ao fado e à celebração de um percurso singular.
Duarte, na companhia de Pedro Amendoeira na guitarra portuguesa, João Filipe na viola de fado e Carlos Menezes no baixo, trouxe consigo a densidade emocional do fado, o peso da palavra cantada e a viagem de duas décadas dedicadas à música.
Na plateia repleta estiveram admiradores, amigos e familiares, entre os quais se destacou Maria da Fé, mais do que uma presença, uma figura tutelar, a quem Duarte dirigiu palavras de profundo reconhecimento. Foi Maria da Fé quem lhe abriu as portas do Sr. Vinho, e esse gesto de confiança ecoou, nesta noite, nas palavras e na emoção com que o fadista lhe retribuiu.
O concerto desenrolou-se como uma tapeçaria onde cada fio tinha uma história a contar. Estado Limite (com João Filipe na guitarra elétrica) abriu a noite, como um primeiro suspiro de um fado que se impõe elétrico. Seguiram-se Não Inventes, Reviravolta, Mais do Mesmo e Dizem, cada uma trazendo consigo um fragmento de inquietação ou contemplação, entrelaçando a tradição com um olhar atento sobre o presente.
Covers revelou outras cores na voz de Duarte, com uma letra crítica refinada de algum subtil humor. Depois, Sobretudo Cinzento, Maria da Rocha e Rapariga da Estação trouxeram a essência das histórias quotidianas, de rostos e destinos que se perdem e encontram-se.
Em Quadras de um Dia Sozinho e Terra da Melancolia, o tempo pareceu suspender-se. O silêncio do público, atento a cada sílaba, transformou-se no espelho da densidade do que se cantava. Mistérios de Lisboa e Não Importou Que Ficasse trouxeram novos contornos à noite, conduzindo ao desfecho onde Saudades Trazes Contigo e Vou-me Embora pareceram evocar a inevitabilidade da partida.
O fado encontrou o seu apogeu em Estranha Forma de Vida, um instante de entrega absoluta, onde a essência do género se condensou num só momento. Para encerrar, o público ainda recebeu uma última Reviravolta, como um eco de tudo o que fora cantado.
O Coliseu Club revelou-se uma sala promissora para a música ao vivo no coração de Lisboa. Uma noite onde se celebrou não apenas um percurso, mas a própria alma do fado – entre a saudade e a entrega, entre a memória e o que ainda está por vir.
Por fim, assinalar o trabalho de António Martins no desenho de Luz e Cândido Esteves no som.