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Cristina Branco - Ulisses

Records - Novembro 13, 2006
Universal Music / 2005
Ulisses de “perfeito coração”. Ulisses viajante e viagens porque estórias de amor; viagens com Portugal na ponta – como a árvore que subitamente levanta voo sem esquecer que tem uma raiz pendurada.

“Meu sonho voa além da poesia”, os sonhos musicados de Cristina voam além de qualquer plataforma imaginável. Não é que o vento e o sal da poesia não viajem também, mas falta-lhes as velas indestrutíveis de Ulisses – indiscutivelmente [para este coração arrebatado em sete] o álbum português do ano.

Cristina Branco pisa, com sandálias de desejo e voz de cereja, os segredos dos mais arrojados cavaleiros-andantes. Pisa com ternura até espremer todo o cristal do vinho. Ulisses é, como “quarto de danças”, um espelho virado para o mar. Completo, profundo e misteriosamente belo.

A base é uma superfície sólida, um triângulo infinito: voz que vive numa caixa de lápis de cor e de chocolates, guitarra portuguesa arranhada com uma inacreditável paixão e o piano a arrepiar caminho entre as nuvens [caminho bem feito desde os tempos agitados pelo experimentalismo de Amália Rodrigues, que queria o piano no fado, e o agora tolerante-momento]. E, por falar em deuses, Amália havia de gostar de conhecer Ulisses (e de ouvir Gaivota), não tenho dúvidas.

“A voz tolhida e franca” em Navio triste não arrepia nem comove, deixa uma profunda cicatriz de lágrima, abala de forma intolerável a imunidade lógica de qualquer humano. Ulisses é isso.

Cristina Branco não é fadista, é cantora completa. E apaixonada pelo que canta. Choro arrepia e comove (“ai barco que me levasse aos tesouros conquistados”), traz dentro “toda a saudade do mundo” – a árvore com asas não esquece a raiz.
Ulisses é cumplicidade. Primeiro, instrumental – piano e guitarra passam ruídos a ferro, deixam a lindeza sonora irrepreensível. Segundo, arrebatadora complementaridade [arrepia e comove, novamente]: Cristina e Custódio Castelo (notável compositor e sublime intérprete de guitarra portuguesa, de importância nuclear na música apresentada por Cristina Branco) encarnam, em disco e em palco, as asas de uma mesma borboleta, livre e sonhadora.

Ulisses sonha em qualquer língua, é cantado em inglês, castelhano, francês, português com sotaque do outro lado do Atlântico, sempre na sombra da embriaguez lusitana. Ulisses é poesia – há poetas com casa dentro de cada palavra.
Ulisses é a navegação de amor infinito, uma mão onde tudo cabe, é “as aves todas do céu”.


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