Quem é afinal o autor do "Fado Puxavante"?
Quando, nas minhas incursões à Biblioteca Nacional, encontrei este
artigo, pensei que o conteúdo do mesmo levantava (como levanta) algumas
questões relacionadas com o Fado, tão actuais como há 60 anos atrás.
No entanto, para mim, a mais importante e urgente de todas é a da credibilidade, isenção e rigor de alguns investigadores de Fado, do qual este documento é prova inequívoca, atribuindo autorias a quem não as tem! Aqui, concretamente, trata-se do Fado Puxavante, cujo autor que vem mencionado nas mais importantes obras sobre Fado que se escreveram até hoje é exactamente aquele que não é! É caso para perguntar se daqui a 50 anos o autor do Menor com Versículo ainda será Alfredo Marceneiro! No Fado, como em tudo – o seu a seu dono!
Então aqui fica um pequeno contributo para que se corrija a história, afinal a verdade vem sempre ao de cima. O seguinte excerto foi extraído da Guitarra de Portugal (Quinzenário Porta-Voz do Fado), 1946:
Quantos autores tem o “Fado Puxavante”?
Esboçou-se recentemente um conflito entre várias pessoas do meio fadista por causa do antigo “Fado Puxavante”, cujo autor já não pertence ao número dos vivos e, supomos, não foi conhecido de nenhum dos fadistas actuais, mesmo dos já retirados, porquanto nada se sabe da sua origem, nem tão pouco da sua família.
Sabe-se apenas mas vagamente, que tinha a alcunha de “Puxavante”, residiria em Lisboa, na Esperança, há talvez uns bons 50 anos e que fez um fado de melodia castiça e cheia de beleza que baptizou com a sua própria alcunha, fado esse que ainda hoje se canta e sempre se cantou.
Até aqui nada de extraordinário…
O pomo da discussão, que degenerou em conflito aberto, com luta de interesses em jogo, nasceu deste pequeno pormenor: o acompanhamento musical que os nossos guitarristas adoptaram para o referido fado é precisamente o mesmo do que o nosso colaborador – poeta, autor de fados e antigo cantador Pedro Rodrigues criou há uns 20 anos (Pedro Rodrigues quando cantava acompanhava-se à guitarra) para um fado da sua autoria, que Júlio Proença gravou em 1929 na marca “Odeon”, com a letra “Três beijos”. Por sua vez, no mesmo ano e marca, Joaquim Campos gravou o “Fado Puxavante” com a letra “Estações do ano”, salvo erro.
Mas os anos correram sem nada de anormal a assinalá-los… quanto a este assunto.
Chegou-se à actualidade. Mais do que nunca, o Fado estabeleceu-se como uma profissão, onde todos os que trabalham dentro dela querem, legitimamente, que lhes sejam pagos os seus esforços.
Existe uma Sociedade de Autores que superintende nas questões dos direitos de autoria. – Se bem ou mal, não interessa agora focar – é assunto para outra oportunidade. Os boletins onde é uso registar-se os nomes dos autores de letras e músicas executadas dão entrada nessa Sociedade e – todos o sabem – nem sempre honestamente assinalados. Daí uns receberem o que aos outros pertence. Tem que haver lesados e beneficiados. A Sociedade de Autores é que nunca chega a ser lesada porque cobra logo à cabeça as suas percentagens. Havendo prejudicados tem que haver delinquentes. Quem são eles?
De quem é afinal a culpa?
Talvez do sistema…
Isto dava pano para mangas…
Mas voltemos ao “Fado Puxavante”.
Pedro Rodrigues, numa carta que nos enviou com pedido de publicação, o que não podemos fazer por absoluta falta de espaço, acusa o Júlio Proença de reivindicar para si a autoria do respectivo fado. Por sua vez, Júlio Proença, a quem abordámos, esclarece ser falsa essa acusação e se alguma vez o seu nome apareceu ligado a tal música, não é sua a responsabilidade, porquanto não tem culpa que os seus colegas lhe atribuam a respectiva autoria. Afirma que canta publicamente o “Fado dos três beijos” e o “Puxavante”, dando os direitos do primeiro a Pedro Rodrigues e assinalando nos boletins como “popular” o segundo.
Fomos procurados por Joaquim Campos, que nos declarou ter 46 anos de idade e que aos 11 já cantava o “Fado Puxavante”. Acrescentou que a melodia desse fado foi por si ligeiramente alterada, mas nega ser seu autor, embora saiba que nalguns boletins aparece, indevidamente, o seu nome ligado a esse número. Endossa a responsabilidade para quem preenche os tais boletins. Nestes já foi visto o nome do guitarrista José Marques também como autor da famigerada melodia.
Quantos pais tem, afinal, a malfadada criança?...
Pedro Rodrigues, na sua carta, apenas reivindica a parte musical, ou melhor, o acompanhamento musical, que é inteiramente seu.
E esse é executado sempre e sempre, tanto faz que se cante o “Puxavante” ou o “Três beijos”.
Tem meia razão, pelo menos o Pedro Rodrigues… E, com um bocadinho mais de esforço, podíamos dar-lhe a outra meia razão… É questão de ouvirmos o Manuel Calisto e mais alguns cantadores, que cantam a primeira parte do “Puxavante” e a segunda do “Três beijos”, misturadas no mesmo conjunto… o que representa cantar dois meios fados…
E vá lá a gente ser prior duma freguesia destas…
Então aqui fica um pequeno contributo para que se corrija a história, afinal a verdade vem sempre ao de cima. O seguinte excerto foi extraído da Guitarra de Portugal (Quinzenário Porta-Voz do Fado), 1946:
Quantos autores tem o “Fado Puxavante”?
Esboçou-se recentemente um conflito entre várias pessoas do meio fadista por causa do antigo “Fado Puxavante”, cujo autor já não pertence ao número dos vivos e, supomos, não foi conhecido de nenhum dos fadistas actuais, mesmo dos já retirados, porquanto nada se sabe da sua origem, nem tão pouco da sua família.
Sabe-se apenas mas vagamente, que tinha a alcunha de “Puxavante”, residiria em Lisboa, na Esperança, há talvez uns bons 50 anos e que fez um fado de melodia castiça e cheia de beleza que baptizou com a sua própria alcunha, fado esse que ainda hoje se canta e sempre se cantou.
Até aqui nada de extraordinário…
O pomo da discussão, que degenerou em conflito aberto, com luta de interesses em jogo, nasceu deste pequeno pormenor: o acompanhamento musical que os nossos guitarristas adoptaram para o referido fado é precisamente o mesmo do que o nosso colaborador – poeta, autor de fados e antigo cantador Pedro Rodrigues criou há uns 20 anos (Pedro Rodrigues quando cantava acompanhava-se à guitarra) para um fado da sua autoria, que Júlio Proença gravou em 1929 na marca “Odeon”, com a letra “Três beijos”. Por sua vez, no mesmo ano e marca, Joaquim Campos gravou o “Fado Puxavante” com a letra “Estações do ano”, salvo erro.
Mas os anos correram sem nada de anormal a assinalá-los… quanto a este assunto.
Chegou-se à actualidade. Mais do que nunca, o Fado estabeleceu-se como uma profissão, onde todos os que trabalham dentro dela querem, legitimamente, que lhes sejam pagos os seus esforços.
Existe uma Sociedade de Autores que superintende nas questões dos direitos de autoria. – Se bem ou mal, não interessa agora focar – é assunto para outra oportunidade. Os boletins onde é uso registar-se os nomes dos autores de letras e músicas executadas dão entrada nessa Sociedade e – todos o sabem – nem sempre honestamente assinalados. Daí uns receberem o que aos outros pertence. Tem que haver lesados e beneficiados. A Sociedade de Autores é que nunca chega a ser lesada porque cobra logo à cabeça as suas percentagens. Havendo prejudicados tem que haver delinquentes. Quem são eles?
De quem é afinal a culpa?
Talvez do sistema…
Isto dava pano para mangas…
Mas voltemos ao “Fado Puxavante”.
Pedro Rodrigues, numa carta que nos enviou com pedido de publicação, o que não podemos fazer por absoluta falta de espaço, acusa o Júlio Proença de reivindicar para si a autoria do respectivo fado. Por sua vez, Júlio Proença, a quem abordámos, esclarece ser falsa essa acusação e se alguma vez o seu nome apareceu ligado a tal música, não é sua a responsabilidade, porquanto não tem culpa que os seus colegas lhe atribuam a respectiva autoria. Afirma que canta publicamente o “Fado dos três beijos” e o “Puxavante”, dando os direitos do primeiro a Pedro Rodrigues e assinalando nos boletins como “popular” o segundo.
Fomos procurados por Joaquim Campos, que nos declarou ter 46 anos de idade e que aos 11 já cantava o “Fado Puxavante”. Acrescentou que a melodia desse fado foi por si ligeiramente alterada, mas nega ser seu autor, embora saiba que nalguns boletins aparece, indevidamente, o seu nome ligado a esse número. Endossa a responsabilidade para quem preenche os tais boletins. Nestes já foi visto o nome do guitarrista José Marques também como autor da famigerada melodia.
Quantos pais tem, afinal, a malfadada criança?...
Pedro Rodrigues, na sua carta, apenas reivindica a parte musical, ou melhor, o acompanhamento musical, que é inteiramente seu.
E esse é executado sempre e sempre, tanto faz que se cante o “Puxavante” ou o “Três beijos”.
Tem meia razão, pelo menos o Pedro Rodrigues… E, com um bocadinho mais de esforço, podíamos dar-lhe a outra meia razão… É questão de ouvirmos o Manuel Calisto e mais alguns cantadores, que cantam a primeira parte do “Puxavante” e a segunda do “Três beijos”, misturadas no mesmo conjunto… o que representa cantar dois meios fados…
E vá lá a gente ser prior duma freguesia destas…
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