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João Chora

Fadistas - Actualizado em Maio 24, 2012
Compõe ao piano, o seu primeiro instrumento eleito, as primeiras músicas para apresentação em alguns festivais da região.

Corria o ano de mil novecentos e cinquenta e nove. A Primavera contava apenas com cinco dias. O inverno rigoroso e a cheia dava lugar a um campo que se vestia de multiplo colorido. Excepcionalmente foi tudo muito cedo. Era uma quinta feira. Por sinal, santa, de paixão. Quase Páscoa. Vinte e seis de Março. O menino nasceu são e escorreito, como então se dizia. Benza-o Deus! Exclamavam as vizinhas ao vê-lo em casa, na então rua dos Carrapiteiros, no caminho para o campo, na vila da Chamusca. Jerónimo Chora era um homem feliz ao ver o seu clã reforçado por mais um varão. Por essa altura já o José Manuel, o primogénito, teria acabado o ensino primário. Por entre as couves verdejantes e as laranjeiras em flor, o menino, baptizado com o nome de João José, foi crescendo assim como os seus cabelos cor de oiro. Infância feliz e despreocupada, vivida entre o campo e o Tejo, ali tão perto, com as atenções normais e naturais de pais e irmão.

De caminho para a escola e no regresso, os seus olhitos brilhavam de contentamento e de admiração ao ver o Mestre equitador, ali mesmo ao lado de sua casa, no picadeiro, com ares de alta escola. Da aproximação à relação foi um ápice. E eis que o menino se encontra montado num cavalo perante os ensinamentos e os cuidados de Mestre José Maria Pedroso. Era vê-lo, quando adolescente, passeando a cavalo, daí ficar conhecido por “João Cavaleiro”.

O pai Jerónimo, dado ás coisas simples da terra, mas invadido pela cultura teatral, era o ponto das revistas locais “Na Cepa Torta” e “Salsifré” de grande aceitação popular. As cantigas brotavam com naturalidade da sua garganta, e em casa, “sem ser fadista nem nada”, trauteava as cantigas de toda uma vida.

Nos inicios da década de setenta, o jovem João, embalado pela musica e o canto, aos domingos, na missa, fazia ouvir a sua voz, ao lado de seu primo, também ele João, como solista do côro da igreja matriz.... “Adeste, fideles, laeti triumphantes”, “Noite de Paz, Noite de Luz”. A “Maestrina” Nazaré Santos ampara-o nos primeiros passos musicais. Na sua casa, junto ao seu velho piano, João recebe os primeiros conhecimentos. As suas mãos, dotadas de longos dedos, percorrem com afã as teclas brancas e prêtas desse seu primeiro instrumento eleito.

A escola secundária complementava com as aulas de educação musical. O solfejo, os compassos binários e quaternários, as colcheias e as semifusas... de solista vocal a organista.

Sempre de cuidada apresentação, o cabelo devia estar sempre aparado e cuidado. Na barbearia do Mestre Joaquim Salvador chega-lhe o gosto pelo fado e pela viola de acompanhamento. Mestre Salvador dispõe-se a ensiná-lo. O dedilhar, o pisar as cordas de encontro aos trastos. As posições de ré, dó, fá, mi, sol... os dedos longos facilitam. O polegar bate com regularidade os bordões, as unhas dos longos dedos puxam as cordas de metal, substituidas mais tarde pelas de nylon. Suaviza-se, encanta-se e acompanha-se cantando.... “Canoa, conheces bem...” “Quando ela passa...”.

Os bailes nas sociedades culturais e recreativas sucediam-se. Os bailes de carnaval, os da pinha, pela Páscoa, de aniversários das sociedades, os de passagem de ano... Os grupos de baile proliferavam. O virtuosismo reconhecido no acordeão, passado a orgão de botões, leva Vitor Moedas a constituir um grupo conhecido por “Sadeom + 2”. Um elemento na bateria e, consequentemente, um vocalista que tocava viola. João Chora passa da pista de dança para o palco onde se faz ouvir cantando os ultimos sucessos musicais, ritmando uma viola eléctrica. “Hey, meu amigo Charlie, Charlie Brown”, “Sou filho unico, tenha a minha casa para olhar... não posso ficar...”

Mas a vida nem sempre nos dá alegrias. O Natal de 1975 é envolvido por muita tristeza e uma profunda consternação. Vinte dias antes, a partida precoce de sua mãe, D. Vitória, fazia vestir de luto o jovem João.

A vida estudantil leva-o até ás cidades de Santarém e de Torres Novas.

Em finais da década de setenta é convidado, conjuntamente com Joaquim Salvador, para acompanhar Manuel da Silva Santos na gravação de um EP, primeiro disco gravado, artesanalmente, na Chamusca. “ Chamusca das nossas vidas...”, “Um cartaz onde há imagens...”.

Já, por essa altura, integrando uma tertulia de fadistas amadores da Chamusca, acompanha à viola José Pinhal, Artur Simões, Silvina de Sá, Manuel da Silva Santos e outros jovens fadistas. Ganha bastante experiência de palco. Refina a sua maturidade como musico.

Convidado para uma pequena digressão a Alemanha num grupo de amigos, aí canta, para gáudio dos emigrantes portugueses, algumas canções populares.

Nos inicios da década de oitenta, numa sequência lógica do aparecimentos dos Grupos de Musica Popular Portuguesa, “Brigada Victor Jara”, “Ronda dos Quatro Caminhos”, integra o “Grupo Gente” na Chamusca. Faz, para além de inúmeros espectáculos em Portugal, a sua primeira digressão a França em 1984.

Vence por duas vezes o Festival da Canção da Chamusca, tendo também participado nos festivais da canção do Entroncamento e Torres Novas.

Mas é o fado que o fascina. Pelo Ribatejo faz inumeros espectáculos acompanhando os guitarristas e amigos José Inês, Raimundo Seixas, José Manuel Bacalhau, Custódio Castelo, Luis Petisca, José Carlos Marona, Paulo Leitão ou Bruno Mira. Reparte palco com grandes violas de fado nomeadamente, Carlos Velez, Gilberto Sillva, Carlos José Garcia, Alexandre Silva, Rui Girão e Pedro Pinhal. Em meados da década de oitenta o fado sucede habitualmente em Almeirim na “Tendinha” e Entroncamento no “Jockey Bar”.

Frequenta as casas de fado de Lisboa e aí dá-se a conhecer. Primeiro como acompanhante à viola e, de quando em vez, é convidado a cantar. Conhece José Luis Nobre Costa e Mestre Joel Pina, António Pinto Basto, Carlos Zel, D. Vicente da Câmara, Maria da Fé e Margarida Bessa, entre muitos outros.

Tem, ao longo dos anos de actividade, apoiado e incentivado, ajudando a lançar muitos nomes do fado, nos seus inicios, convidando e dando-os a conhecer em inumeros espectáculos como por exemplo Isabel Rosa, Teresa Tapadas, Cristina Branco, Helena Leonor, Joana Amendoeira, Diamantina ou Ana Moura.

Graças á sua maneira muito pessoal de interpretar o fado com a sua voz melodiosa, redonda, quente, o seu particular jeito de transmitir o amor, a casticidade do seu Ribatejo, os poemas de toda uma vida, decide romper fronteiras, alargando e enriquecendo os seus horizontes artisticos, ao ser convidado a actuar em diversos países a saber:

França em 1987, 2001, 2005 e 2008. A Macau e Hong-Kong em 1990. Bélgica em 1992. Suíça em 1995 e 2010. Venezuela em 1998,1999 e 2000. E.U.A. em 2001, 2002, 2004 e 2005. Na Holanda realiza sete concertos entre Janeiro e Fevereiro de 2002. Polónia em 2003. Canadá em 2004. Espanha em 2005, 2008 e 2009. Cabo Verde em 2006. Brasil em 2007 e 2008. Hungria, na cidade de Budapeste, em 2008. Canadá (Montreal), em 2009.

Decide-se pela área da Produção de Espectáculos, as que são de realçar, entre muitas outras: A organização da Semana do Ribatejo para a Expo 98, a convite de António Pinto Basto, com o espectáculo “Ribatejo Fadista” com Fado, Fandango e Poesia. “Fado a Duas Vozes” no Auditório Municipal de Coruche, em 2001. “Fado: Poesia cantada e dançada” no CCB em 2002; Festas da Bênção do Gado, em Riachos – Torres Novas, em 2004. “Fado: Canto D'Alma” nas Festas da Semana da Ascensão na Chamusca em 2003. “Do Fado ao Fandango” na Feira do Vinho de Alpiarça em 2004. “Fado com Tradição” nas Festas do Sardoal em 2004 e 2005. “Alma em Tom Maior em Concerto” realizando 10 concertos (no país) de apresentação do novo Cd em 2006. “Ciclos da Primavera”, Espectáculos em 5 freguesias do concelho de Montemor-o-Novo em 2007 e 2008. "Do Fado ao Fandango" em Alvega (Abrantes) em 2007. "Do Fado ao Flamenco" - Marinhais – 2008. "Meu Povo, Minha Gente" - Chamusca (Ascensão) em 2009.

A sua discografia é composta por: “Fados e Baladas” em 1996 com produção de José Cid. “Golegã Cantada” em 1998 onde participa com dois fados inéditos da autoria de João José Nogueira. “João Chora” em 1999 com especial relevo para o “Fado Ribatejo” da autoria de Pedro Barroso, escrito especialmente para a sua voz. “João Chora ao vivo na Chamusca” em 2001. “Farda a Meu Lado” em 2004 onde participa no Cd editado pelo Grupo de Forcados Amadores da Chamusca por ocasião do seu 30º aniversário. “Alma em Tom Maior” em 2006 com produção de Custódio Castelo.

João Chora tem cerca de 30 anos de actividade artistica. Desde a musica sacra, de baile, à popular, ligeira e ao fado, poder-se-à dizer que João Chora é um artista multifacetado. No ano que completa meio século de vida, João Chora inova e renova-se, sendo um dos artistas mais queridos do grande público e dos verdadeiros amantes do fado. É sempre um privilégio para quem o vê e o ouve, sinónimo de qualidade e de grande profissionalismo.

João Chora um Fadista de ontem, de hoje e do amanhã.


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Comentários
#1 Lena Santos 2014-08-12 15:49 Olá João, Boa Tarde.
Gostava de entrar em contacto consigo.
Assunto: Participação num momento de Fado do próximo dia 30 Agosto em Santiago do Cacém.
Para lhe comunicar mais pormenores sobre o evento, necessito de falar consigo e pedia-lhe o favor de me enviar, logo que possível, para o meu email o seu contacto telefónico.
O meu contacto móvel é: 910 548 404
Muito Obrigado
Com os melhores cumprimentos
Lena Santos (Fadista)
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