E o Fado aconteceu nas Astúrias...
Archive - Julho 27, 2008
Todos os fados, se o são de verdade, falam de saudade, que é "um modo
de viver a ausência, sabendo que passará", nas palavras de Camané, um
fadista brilhante e consagrado, o primeiro fadista do grupo a actuar...
Mariza, Carlos do Carmo, Camané
Praça de Touros - Gijon - 27/07/08
A programação do Teatro Jovellanos continua, com muito acerto, girando em torno do fado e, no domingo passado ofereceu um programa que prometia à partida e que de facto acabou por entusiasmar um público decidido a deixar-se levar pelo encantamento lusitano.
Todos os fados, se o são de verdade, falam de saudade, que é "um modo de viver a ausência, sabendo que passará", nas palavras de Camané, um fadista brilhante e consagrado, o primeiro fadista do grupo a actuar, com um repertório de fados "castiços" - "Fado menor do Porto", "Cravo", "Corrido"-...cada um melhor que o anterior!
E neste clima de fado e saudade foi-se fazendo este canto, esta música, estes gestos que chegam a todos os que têm a sorte de poder assistir aos seus espectáculos, onde se transmite essa doce nostalgia com um sopro da alma. Com o fado "Loucura" , passou o testemunho a Mariza que se apresentou alta, elegante, sinuosa como um junco que se balanceia ali no Bibio , junto ao mar.
Mariza tem uma voz luminosa e um coração de artista apaixonada, capazes de transmitir a todo o auditório esse "estado de espirito" - com palavras de Amália Rodrigues - dos sentimentos profundos e poéticos do fado, que ela sabe elevar ao expoente do espectáculo, com o seu estilo, dança, brilho, sintonia e simpatia. Cantou, muito bem, o fado"Primavera" ou "Oiça lá senhor vinho - este com ritmo de malhão - e também outras cantigas que não são fados como a "Rosa branca", uma espécie de canção com ares fadistas, do seu mais recente CD, "Terra". Ao começar "Duas lágrimas de orvalho" (...) entrou Carlos do Carmo, um senhor em palco, um artista pleno de elegância, com uma voz potente, viril, morna.
Carlos do Carmo, que se estreou em Gijon, é uma figura quase lendária do fado, filho de Lucília do Carmo, uma das principais fadistas do séc. XX. Começa a sua carreira artística em 1964 e dsde então foi acumulando sucessos na sua Lisboa natal, até ser referência da música Lusa em todo o mundo. Pelo seu imenso conhecimento e valía artística pode-se considerar que é um nome na história desta música portuguesa, por ter sido um dos principais fadistas que, depois da Revolução dos Cravos, devolveu ao fado o seu prestígio e ainda soube criar um clima de inovação necessário para que a tradição seduzisse os mais novos, os muitos jovens valores fadistas.
E Carlos do Carmo também seduziu o público com fados-canção tipicos do seu repertório, como "Gaivota", e sobretudo "Lisboa menina e moça", que ensinou o publico a trautear e acompanhar, com muita simpatia e num castelhano formidável.
Acabaram o três cantando o famoso de Amáli/aMarceneiro, "Estranha forma de vida" entre o publico presente na praça de Bibio. E depois de um larguissimo aplauso acabaram por voltar cada um deles com mais um fado, para depois nos deixarem com a saudade de mais fados que um dia chegarão.
Angel Garcia Prieto
Asociación de Amigos del Fado de Asturias
Tradução e adaptação : Portal do Fado
Asociación de Amigos del Fado de Asturias
Tradução e adaptação : Portal do Fado
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