O fado tem sangue novo... a norte
Arquivo - Novembro 29, 2008
Já foi um importante pólo da alma fadista, mas, após os anos 70, viu encerrar todas as casas de fado. A cidade fervilha ainda de vozes e músicos que querem recuperar a dinâmica perdida, recuperando um edifício no centro histórico.A alma fadista está viva em Braga, latente e pronta a renascer das cinzas. Apesar de tascas e adegas não terem resistido ao passar do tempo, fazendo desaparecer nomes como a Casa Velha, no Bom Jesus ou o Cantinho do Fado, na rua do Forno, junto à Sé, antigas e novas gerações de músicos e fadistas, bem como simples admiradores que gostam de cantar o fado vadio, são matéria humana suficiente para manter acesa a chama da tradição.
Há umas boas dezenas de fadistas conhecidos no meio, mais de 30, que, à falta de um circuito específico, emprestam e vendem o seu talento em eventos esporádicos, um pouco por todo o País. A Associação Cultural Organizadora de Festivais Amadores (ACOFA), presidida por Karter Mendes, tem sido uma fulcral mola impulsionadora, organizando há oito anos, a Grande Noite do Fado, que hoje tem lugar no Parque de Exposições de Braga, a partir das 21h30.
Além desta iniciativa com calendarização anual, o circuito fadista tem-se mantido activo à custa das Juntas de Freguesia (Celeirós, Lomar, S.Victor, Tenões, Ferreiros), restaurantes e bares, que, pontualmente, organizam iniciativas neste domínio e vão convidando os nomes mais conhecidos da região. Violas, guitarristas e cantores aproveitam todos os convites, mantendo vivo um estado de alma que não se desgarra da pele.
"Braga teve muita tradição fadista nos anos 50. Queremos recuperá-la, embora tenhamos consciência que um espaço com concertos diários não subsistiria. Queremos redecorar um edifício no centro histórico que possa ser casa de fados ao fim-de-semana e restaurante normal no quotidiano. As pessoas do Minho gostam muito de fado", explica Karter Mendes.
Ao momento, apenas a Adega Lusitana, no largo do Pópulo, corporiza uma essência fadista.
Num circuito mais ou menos restrito onde são reconhecidos nomes como Maria do Céu, Mafalda Rodrigues, Teresa Baixo, Ana Luísa ou Marisa da Luz, entre tantos outros, uma voz jovem é apontada como a revelação do momento: Isilda Miranda, de 15 anos, arrebatada, num repente, por uma paixão que veio para ficar.
"Acho muito bela a forma simples com que a guitarra e a viola acompanham a letra de um fado", diz, iluminada por um sonho que não deixará cair. Foi a mãe que, sem querer, lhe emprestou esta forma de vida, depois de lhe dar uns DVD´s de fado. Desde então, tenta conquistar o seu espaço. Tem uma voz grande numa idade pequenina. "Vou aos eventos de fado e peço para me deixarem cantar, mesmo sem ser convidada", conta. A mãe reconhece: "A primeira vez que a ouvi cantar em público, fiquei surpreendida. Não sabia que ela cantava assim".
A jovem fadista foi "apadrinhada" por Manuel Lima, incontornável mestre de guitarra da cidade, que acompanha grande parte dos fadistas de Braga em concertos da especialidade, quase sempre acompanhado pelo filho Henrique, que dedilha a viola, numa união cúmplice.
Isilda participará na Grande Noite do Fado, integrando uma lista de 16 fadistas. "São grandes vozes. Não vou para ganhar. Participar já é um grande incentivo", diz na sua simplicidade pueril. O fado tem sangue novo.
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