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Cristina Branco: 'A canção é um crime que fica para sempre associado a nós'

Entrevistas - Fevereiro 28, 2009
A viver uma nova etapa de vida, a fadista prepara-se para editar ‘Kronos’, um álbum dedicado ao tempo e cheio de energias.

O novo álbum, ‘Kronos’, versa sobre o tempo. Que importância tem este tema para si?

É algo que faz parte da vida de todos nós. Talvez tenha sentido a necessidade de cantar sobre o tempo, porque já lá vão dez anos de discos, com dois de permeio (um em homenagem a Zeca Afonso e outro a Amália Rodrigues), que foram mais de reflexão. Este é um novo momento.


Porque foi necessária essa reflexão?

Por várias razões. Precisei de parar para pensar e para retemperar forças. Porque eu separei-me e o grupo também se separou e eu quis algum tempo para me situar novamente como pessoa e enquanto cantora. Tinha de recomeçar de novo e tinha de perceber para onde ia. Mas esse processo acabou por influenciar muito aquilo em que se tornou este disco.

 

Este disco fala-nos do tempo presente, do futuro.

Este é outro momento. Estamos sempre em crescimento, passamos por etapas muito diferentes. Esta é a forma como me sinto agora. Tem a ver com o tal recomeçar e com o facto de ter tomado as decisões que se revelaram as mais acertadas no futuro. Sou permeável a tudo aquilo que faço, aquilo que vivo e a música dá-me esse retorno.

 

Uma década de discos, 12 anos de carreira. Que balanço faz?

São positivos, obviamente. Tem os seus momentos de exaustão mas sempre foi muito gratificante cantar os temas que cantei, dos autores que amava. Vivi momentos muito bonitos e aqueles que foram menos bons também me ensinaram muita coisa.

 

Desafiou uma série de gente conhecida para escrever para si. Foi gratificante gravar o resultado?

Muito. Por um lado não é um corte com o passado, mas uma continuação do que tinha feito nos dois álbuns anteriores no sentido em que voltei a rodear-me das palavras das pessoas que admiro. Só que, desta vez, fui corajosa e convidei-os para escreverem para mim sobre a temática do tempo e, desse modo, também é algo completamente novo. Talvez o Manuel Alegre, que escreveu uma canção, seja aquele que mais me aproxima do passado, na medida em que ele também escreveu para Amália Rodrigues.

 

É perfeccionista em estúdio?

Muito. De uma forma exagerada, ao ponto de ser quase uma obsessão. À conta disso, eu e o meu produtor, o Ricardo Pais – que é outro perfeccionista – tínhamos discussões horríveis em estúdio. Mas acredito que também não faz sentido fazer música de outra forma. Uma canção é para o resto da vida, é um ‘crime’ que fica para sempre associado a nós.

 

No texto que acompanha o disco, comparou a sua carreira a uma procura constante, um 'desassossego'. Porquê essa inquietação?

Porque este é um trabalho com o qual vivo em contradição, com o qual tenho uma relação de amor e ódio. De amor, porque não me vejo a fazer outra coisa que não seja cantar, não vivo sem o palco. De ódio, porque esta é profissão que me afasta das coisas e das pessoas que amo, dos meus filhos. Essa dicotomia está sempre presente e sempre estará na vida de qualquer artista, ou de quem quer que tenha de ausentar--se por muito tempo.


Foi novamente mãe há pouco tempo.

Há vinte dias. Está a ser muito bom. A Margarida é muito calma, muito sossegada. Está aqui ao meu colo durante toda a entrevista e nem sequer se faz notar.

 

Como vai ser agora, já que está prestes a iniciar uma nova digressão?

Começo já na próxima semana. Desta vez vai ser diferente, porque vamos todos em família: vai a Margarida, o Martim [filho mais velho, com três anos] e o Tiago [marido]. Acho que vai ser uma experiência única e muito positiva para todos.

 

É uma extensa digressão, durante a qual visitará paragens muito distantes. Há algum país em relação ao qual tenha especial expectativa?

Há dois que vou visitar pela primeira vez, como acontecerá em Abril, quando actuar em Macau. Tenho alguma curiosidade sobre a reacção do público asiático, porque é um povo com uma cultura e atitude muito diferentes da nossa. Depois, no final do ano, faço também um périplo pela América Latina. Esse é um público que já conheço e que é sempre muito caloroso, mas tenho especial curiosidade por uma cidade que vou visitar pela primeira vez: Guadalupe, no México.

 

Lida bem com as viagens?

Lido pessimamente mas é porque não gosto de me afastar de casa por muito tempo. Vamos ver se agora corre melhor.

 

Vai para a estrada com os mesmos músicos dos últimos álbuns. São uma segunda família?

De certa forma sim. Já nos conhecemos muito bem, somos muito cúmplices. Vai ser uma verdadeira trupe cigana.

 

O primeiro single, ‘Bomba-Relógio’, tem letra e música de Sérgio Godinho. É um dos seus ídolos?

É, tal como todos os outros que também colaboram: o Vitorino, o José Mário Branco, o Rui Veloso, a Amélia Muge, todos. A canção foi escolhida para single por ser muito especial, além do Sérgio ser um daqueles nomes grandes da música, que cresci a ouvir e por quem nutria admiração. Desta vez pedi-lhe para escrever para mim este ‘Bomba-Relógio’, que é muito vibrante, muito alegre. Não deixando de ser um fado, quase não parece. Acho que este é um daqueles temas vencedores, que me deixa extremamente orgulhosa.
Correio da Manhã



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