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Entrevistas - Dezembro 19, 2006
«À flor da pele» apresenta maioritariamente composições dos músicos que a acompanham. Isto reflecte a vontade de criar uma linha musical homogénea?
Sim. E aconteceu de uma forma muito natural. Ao longo dos últimos dois anos, começaram a surgir estas músicas novas. Apesar de ser bastante tradicionalista e gostar de preservar músicas muito antigas, acredito que é possível apresentar músicas novas com uma matriz tradicional.

Rui Vieira Nery afirmou, a propósito do seu primeiro disco, que a sua intenção não era “fazer uma revolução”...
Mesmo este disco, apesar das músicas novas, não foi feito com o intuito de originar uma revolução. Apesar de gostar muito de preservar o fado tradicional, é importante trazer novas melodias. Aliás, isso é algo que tem sido feito desde sempre, caso contrário o fado não teria evoluído. Não é uma revolução, é uma continuidade.
O fado despertou na minha vida aos seis anos, e sempre ouvi os fadistas mais velhos. Depois, comecei a comprar livros, a investigar sobre a história do fado. Assim, esta paixão prende-se muito a esse lado tradicional.

No entanto, «À flor da pele» junta fados tradicionais a poemas de vários escritores. É uma forma de se afastar desse lado mais tradicional?
É possível ser-se tradicional mesmo cantando estes poetas jovens. O poema do José Luís Peixoto surge com uma música tradicional bastante antiga, mas com um arranjo novo. É difícil explicar este lado tradicional. Está na essência daquilo que nós, todos aqueles que construímos este disco, sentimos. Esse lado tradicional sente-se através da forma intensa como vivemos o fado e que é, simultaneamente, muito simples. Cantamos numa casa de fados e, por isso, estamos próximos deste ambiente mais tradicional.

Contudo, as afinidades musicais do José Luís Peixoto são bastante diferentes do fado...
O José Luís já teve algumas participações com a Naifa, um projecto que espelha uma vertente de fusão com o fado. De certa forma, ele também está a descobrir a escrita para o fado. E foi muito importante ver que é possível fazer estas propostas e que os poetas têm vontade de escrever para o fado. A Amália cantou poetas contemporâneos da sua época de ouro. Agora também é possível recuperar isso, com os poetas de hoje. É importante cantar a mensagem de hoje.

A partir de 2000 iniciou uma colaboração regular com o Clube do Fado, umas das mais prestigiadas casas de fado de Lisboa, onde faz parte do elenco. São os sítios de excelência para cantar fado?
Num palco, seja ele de um teatro ou de um auditório, ou até mesmo ao ar livre, é possível acontecer o fado, porque existe uma comunicação muito forte com o público. No entanto, no ambiente muito intimista de uma casa de fados, em que quase sentimos a respiração das pessoas, o olhar, a emoção passa muito mais rapidamente. A magia do fado acontece em pleno. Cada noite é uma noite diferente. Gosto muito de cantar numa casa de fados. É uma forma de expressão da qual não prescindo, apesar de estar cada vez mais a cantar em vários palcos, em diferentes países, gosto sempre de manter a minha freqüência numa casa de fados. Sempre que é possível, lá estou [risos].

No entanto, o lançamento de «À flor da pele» foi feito na Fnac do Chiado. É uma cedência a razões comerciais?
É muito importante dar a conhecer esta música a cada vez mais pessoas, e a um público mais jovem, que muitas vezes está presente nesses locais, o que traz muitas vantagens. Cada vez mais os jovens estão a aderir ao fado, e até a cantar e a aprender a tocar, por exemplo, guitarra portuguesa.

Nesse sentido, considera que se vive uma espécie de “moda” do fado?
Espero que não seja uma moda. Apesar de porventura existirem alguns projectos que possam ter enveredado por este caminho pelo facto de o fado estar a ser muito falado, este interesse crescente começou há cerca de dez anos atrás. Com o Paulo Bragança, o Camané… mas tem vindo a solidificar-se cada vez mais, com o surgimento de novos valores. Por isso, penso que não vai ser uma moda. Caso contrário, acabaria, e penso que isso não irá acontecer. O tempo será o verdadeiro juiz, quem permanecer não será por causa da moda.

Sente-se parte da chamada “nova geração do fado”?
Embora seja jovem, já canto regularmente há 13 anos. E com certeza que sou parte da nova geração do fado. É difícil caracterizar esta nova geração, existem estilos muito diferentes, até porque cada fadista deve procurar um estilo próprio em vez de copiar alguém. Mas penso que temos uma geração de ouro no fado neste momento. E não falo por mim [risos].


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