António Calvário integra coletânea de fados gravados entre 1956 e 1979
“Maria Lisboa” (David Mourão-Ferreira/Alain Oulman), fado criado por Amália Rodrigues, foi gravado em 1966 por Calvário, dois anos depois de ter ganhado o Festival RTP da Canção.
A gravação mais antiga, de 1956, é de Celeste Rodrigues, “Pode ser mentira” (Frederico de Brito). Ainda desta década, o CD integra três gravações: “Adeus Mouraria” (Artur Ribeiro), por Carlos Ramos, de 1957, e de 1959 os fados “Um resto da Mouraria” (Carlos Conde/Martinho d’Assunção), por Alfredo Duarte Jr., e “Lisboa Bairrista” (Lopes Victor/M. d’Assunção), por Alice Maria.
“Estas coletâneas são essenciais, para hoje termos uma perspetiva do fado, com diferentes intérpretes, cada um com o seu próprio estilo”, disse à Lusa o estudioso de fado Luís de Castro.
“Os fadistas nesta época tinham o brio de tornarem a interpretação original, criando o seu estilo, não imitando ninguém, e defendendo um repertório exclusivo”, acrescentou o consultor do Museu do Fado.
Em declarações à Lusa, Luís de Castro afirmou que este “será dos
períodos mais ricos e criativos do fado, desde a confirmação absoluta de
Amália, que já tinha ultrapassado fronteiras, até ao surgimento de
nomes e de uma produção criativa fortíssima”.
Referindo-se à escolha de nomes, Luís de Castro afirmou que “estão
alguns de referência, como Amália, Alfredo Marceneiro, Fernando Farinha
ou Fernanda Maria”.
Fernanda Maria surge em dois duetos, respetivamente com Alfredo Marceneiro, “Bairros de Lisboa” (1960), e com o filho deste, Alfredo Duarte Jr., “A Lucinda Camareira” (1960)
“A Fernanda [Maria] é um dos casos mais sérios do fado, ombreando com os nomes de sempre, como Amália, Maria Teresa de Noronha ou Hermínia Silva. Senhora de uma dicção limpa e uma voz clara de grande extensão, dando a devida intencionalidade a cada uma das palavras da letra”, disse.
De Amália Rodrigues foi escolhido o tema “Júlia Florista” (Joaquim
Pimentel/Leonel Vilar), gravado em 1967, e de Hermínia a escolha foi um
tema gravado em 1971, “As Ginjas com Ela” (Carlos Alberto França).
Entre os nomes masculinos sobressai, além de Marceneiro, Fernando
Farinha, que foi “um dos mais populares artistas portugueses, e o
primeiro fadista eleito, por votação popular, rei da rádio”. De Fernando
Farinha foi escolhido o fado “S. João de Alfama” (Francisco Radamanto),
gravado em 1972.
Os acompanhantes são Raul Nery, Joel Pina, Júlio Gomes e Domingos
Camarinha, “nomes incontornáveis da cena fadista”. Em alguns casos, a
ficha técnica do CD inclui os acompanhantes, “uma informação essencial,
pois uma boa interpretação não depende em exclusivo do intérprete, tanto
mais numa canção como o fado, que envolve tão poucos intervenientes”.
O CD inclui ainda Ada de Castro, António dos Santos, António Mello
Corrêa, Fernanda Baptista, Helena Tavares, António Mourão, Beatriz da
Conceição, Filipe Pinto, “conhecido como o ‘marialva do fado’”, Frei
Hermano da Câmara, que interpreta um poema de Fernanda de Castro, Maria
da Nazaré e João Ferreira Rosa.
Dos 21 temas escolhidos 11 são da década de 1960, que é a mais
representada. A mais recente gravação data de 1979, “Fado do 31”, um
êxito de revista recriado por António Mello Corrêa.