Carlos do Carmo ao vivo em Portimão
Concertos - Setembro 23, 2012
Um génio a cantar poemas de outro génio, com quem manteve uma relação de amizade muito intensa. Para musicar os poemas de Ary, procurou pessoas talentosas, mas que não estavam ligadas ao fado.
Teatro Tempo - Portimão - 14 Setembro 2012
Compositores que escreveram para ele os primeiros fados das suas vidas, como Paulo de Carvalho, Fernando Torno, António Vitorino de Almeida, ou José Luís Tinoco. E foi esta excelente fusão que trouxe, há quase 4 décadas, uma lufada de ar fresco à canção nacional.
«Um homem na cidade» foi uma pedrada no charco, em 1976. Hoje, é considerado um clássico. Em Portimão, 36 anos depois, interpretou 17 das 33 composições do poeta no seu reportório. Incluindo algumas que já não cantava, há muito.
Filho de uma das maiores intérpretes fadistas de todos os tempos, Carlos do Carmo cresceu no meio e privou, de tenra idade, com os maiores cantores, músicos, compositores e poetas de fado. Gravou o primeiro disco com 9 anos, embora só se tenha tornado profissional muitos anos depois. Canta fado tradicional com todo o rigor exigido. E foi este conhecimento profundo que lhe permitiu inovar, melhorando a canção, tornando-a apelativa também para uma grande faixa de público que dizia não gostar de fado.
Num «Tempo» com lotação esgotada, foi contando a história por detrás de cada composição, feita para ele.
Educado, afável e comunicador nato, dentro e fora do palco, respeitando o público e agradecendo o apoio que este lhe dá, é a anti-vedeta no seu expoente máximo. Muitos daqueles que aprendem e cantam os seus fados, deveriam também aprender e seguir as suas maneiras.
Quando lhe perguntamos se há fado pré-Carlos do Carmo e pós-Carlos do Carmo, disse-nos não saber responder e explicou: «a minha atitude perante o fado tem a ver com a minha atitude perante a vida. No fundo, na minha cabeça, estão as vivências musicais com muita gente, muitos países; e isso dá a cor ao meu fado. Quando estou a cantar o fado, tudo isso está dentro da minha cabeça e é projetado para fora. Sem prejuízo de uma coisa: quando estou a cantar fado tradicional, o chamado fado castiço, isso para mim é o ABC. E canto-o à minha maneira. O que tenho é uma diversidade muito grande de repertório.
Não sou uma pessoa muito conformada. Procuro descobrir; procuro a relação certa com os poetas e os músicos; crio laços de afinidade, que depois se refletem no que canto, porque eles escrevem para mim. Conheço as histórias e sinto o que canto».
E continua: «não esquecer que eu ainda apanhei alguns grandes mestres do fado tradicional, como o Frederico de Brito. O problema é que essas pessoas tinham desaparecido, tinham morrido ou estavam muito velhinhos, e era preciso encontrar saídas. Sem prejuízo do respeito que se deve ao fado tradicional, devemos fazer apostas».
Carlos do Carmo mencionou ao «barlavento» a coincidência do tema que cantou no «Tempo» com o momento crítico que Portugal vive. Logo, o espetáculo teve uma descarga emocional que permitiu perceber que a cultura, a poesia, a vida são tão importantes que não nos podemos desligar disso, nem baixar os braços.
«São 900 anos de história e temos gente muito boa em todas as áreas e temos de superar este desânimo. E esta noite, com a minha voz diminuída pela rouquidão, que é uma coisa raríssima em mim, quis deixar essa alegria, o valer a pena viver e estar com a vida».
O militante de esquerda deixou aos leitores do «barlavento» um misto de queixume e esperança: «quero ver se o meu povo se alegra um pouco, se as coisas melhoram para o povo a que pertenço. Estou deveras inquieto. Mas os portugueses sempre souberam sair dos momentos difíceis. Hoje, nenhum país vive isolado. Esta ligação global existe, mas os portugueses que deram mundos ao mundo não vão perder o pé. Este é o momento mais delicado, mas os portugueses não vão perder. Isto é difícil, é duro e estamos perante uma situação que eu não esperava. A gente que dirige é de uma dureza e desumanidade que nunca esperei ver após o 25 de Abril. Mas vamos sair disto por cima».
Sobre o estado do país e a solução, acrescentou: «ser de esquerda é uma coisa muito ampla. Ser de direita é um direito que as pessoas têm. Uma direita inteligente merece-me todo o respeito. A esquerda portuguesa tem de contrariar este processo histórico. Tem de perceber que, dividida, não vai a nenhum lado. Tem que saber ter a humildade de, cada um no seu setor, juntar-se e pensar, antes de mais nada, no povo desta terra. O que vier a seguir são detalhes».Barlavento online
Teatro Tempo - Portimão - 14 Setembro 2012
Compositores que escreveram para ele os primeiros fados das suas vidas, como Paulo de Carvalho, Fernando Torno, António Vitorino de Almeida, ou José Luís Tinoco. E foi esta excelente fusão que trouxe, há quase 4 décadas, uma lufada de ar fresco à canção nacional.
«Um homem na cidade» foi uma pedrada no charco, em 1976. Hoje, é considerado um clássico. Em Portimão, 36 anos depois, interpretou 17 das 33 composições do poeta no seu reportório. Incluindo algumas que já não cantava, há muito.
Filho de uma das maiores intérpretes fadistas de todos os tempos, Carlos do Carmo cresceu no meio e privou, de tenra idade, com os maiores cantores, músicos, compositores e poetas de fado. Gravou o primeiro disco com 9 anos, embora só se tenha tornado profissional muitos anos depois. Canta fado tradicional com todo o rigor exigido. E foi este conhecimento profundo que lhe permitiu inovar, melhorando a canção, tornando-a apelativa também para uma grande faixa de público que dizia não gostar de fado.
Num «Tempo» com lotação esgotada, foi contando a história por detrás de cada composição, feita para ele.
Educado, afável e comunicador nato, dentro e fora do palco, respeitando o público e agradecendo o apoio que este lhe dá, é a anti-vedeta no seu expoente máximo. Muitos daqueles que aprendem e cantam os seus fados, deveriam também aprender e seguir as suas maneiras.
Quando lhe perguntamos se há fado pré-Carlos do Carmo e pós-Carlos do Carmo, disse-nos não saber responder e explicou: «a minha atitude perante o fado tem a ver com a minha atitude perante a vida. No fundo, na minha cabeça, estão as vivências musicais com muita gente, muitos países; e isso dá a cor ao meu fado. Quando estou a cantar o fado, tudo isso está dentro da minha cabeça e é projetado para fora. Sem prejuízo de uma coisa: quando estou a cantar fado tradicional, o chamado fado castiço, isso para mim é o ABC. E canto-o à minha maneira. O que tenho é uma diversidade muito grande de repertório.
Não sou uma pessoa muito conformada. Procuro descobrir; procuro a relação certa com os poetas e os músicos; crio laços de afinidade, que depois se refletem no que canto, porque eles escrevem para mim. Conheço as histórias e sinto o que canto».
E continua: «não esquecer que eu ainda apanhei alguns grandes mestres do fado tradicional, como o Frederico de Brito. O problema é que essas pessoas tinham desaparecido, tinham morrido ou estavam muito velhinhos, e era preciso encontrar saídas. Sem prejuízo do respeito que se deve ao fado tradicional, devemos fazer apostas».
Carlos do Carmo mencionou ao «barlavento» a coincidência do tema que cantou no «Tempo» com o momento crítico que Portugal vive. Logo, o espetáculo teve uma descarga emocional que permitiu perceber que a cultura, a poesia, a vida são tão importantes que não nos podemos desligar disso, nem baixar os braços.
«São 900 anos de história e temos gente muito boa em todas as áreas e temos de superar este desânimo. E esta noite, com a minha voz diminuída pela rouquidão, que é uma coisa raríssima em mim, quis deixar essa alegria, o valer a pena viver e estar com a vida».
O militante de esquerda deixou aos leitores do «barlavento» um misto de queixume e esperança: «quero ver se o meu povo se alegra um pouco, se as coisas melhoram para o povo a que pertenço. Estou deveras inquieto. Mas os portugueses sempre souberam sair dos momentos difíceis. Hoje, nenhum país vive isolado. Esta ligação global existe, mas os portugueses que deram mundos ao mundo não vão perder o pé. Este é o momento mais delicado, mas os portugueses não vão perder. Isto é difícil, é duro e estamos perante uma situação que eu não esperava. A gente que dirige é de uma dureza e desumanidade que nunca esperei ver após o 25 de Abril. Mas vamos sair disto por cima».
Sobre o estado do país e a solução, acrescentou: «ser de esquerda é uma coisa muito ampla. Ser de direita é um direito que as pessoas têm. Uma direita inteligente merece-me todo o respeito. A esquerda portuguesa tem de contrariar este processo histórico. Tem de perceber que, dividida, não vai a nenhum lado. Tem que saber ter a humildade de, cada um no seu setor, juntar-se e pensar, antes de mais nada, no povo desta terra. O que vier a seguir são detalhes».Barlavento online
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Comentários
#1
teresaandorinha
2012-10-03 22:39
Senhor Carlos do Carmo:muitas saudades de PORTUGAL, muitas saudades de respirar su aire, de escuchar su idioma, tan amable,su música la tengo casi toda en mi casa, en todos los viajes nos venimos cargados…el último viaje este janeiro a Porto, mucha tristeza por ver lo mal que lo están pasando, aquí en España también se está pasando mal…al menos los portugueses no tenéis problemas de separatismos¡qu é envidia!.Ojalá tengamos saúde para ir una vez más.Beijinhos.
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