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António José de Bragança

Letristas - Fevereiro 05, 2018
Ao longo da história, o fado popularizou-se no seio das classes trabalhadoras mas não só.

Alguma nobreza mostrou também desde sempre, um interesse pronunciado no género, permitindo que este galgasse livremente as fronteiras sociais. De facto, o mito fundamental do fado, que remonta à década de 1820, tem a ver com o caso de um amor ilícito entre uma prostituta, Maria Severa e o Conde de Vimioso, aristocrata que se destacou nas touradas e apreciava o fado. 

Muitos foram os aristocratas que se renderam ao fado, desde nobres do século XIX como Dom José Almada e Lencastre ou o Conde de Castelo Melhor aos cantores contemporâneos como Maria Teresa de Noronha e Vicente da Câmara, que enveredaram por uma destacável carreira no fado.

Dom António José Manuel de Bragança está familiarmente relacionado com Vicente da Câmara, e o seu interesse pelo fado remonta aos anos da sua juventude. Nascido em 1895, Dom António logo seguiu os passos de seu irmão Dom Pedro de Bragança, que aos dez anos de idade era conhecido pelas suas aventuras, bem como pelas suas excentricidades. Dom Pedro era muito hábil na caça e touradas, mas também tinha um especial talento para a escrita, talento esse que resultou na gravação de alguns discos com Raul Nery na guitarra portuguesa e Júlio Gomes na guitarra clássica. 

Quanto a Dom António, foi desenvolvendo as suas capacidades literárias e logo emergiu como um poeta magnífico, escrevendo as letras de alguns clássicos do fado como o "Fado Rosário" e o "Fado das Horas", este último celebrizado por Maria Teresa de Noronha, para quem D. António era um dos seus letristas favoritos.

Os poemas de Dom António de Bragança, são geralmente inspirados pela espontaneidade e leveza da poesia popular, mas escritos com uma certa elegância. Muitos deles exploram o omnipresente tema do amor, mas outros são altamente auto-referenciais e tentam descrever o significado do fado. Por exemplo, Eduardo Sucena no livro "Lisboa, o fado e os fadistas" (edições Vega, 1992), afirma que o "Fado da Verdade" é uma defesa do fado contra a feroz crítica do género, evidenciada por Luís Moita no seu famoso livro "Fado, Canção de Vencidos" (1936).
A ligação com o livro de Moita, uma coleção de palestras nas quais ele culpa o fado por muitos dos problemas sociais que assolaram Portugal na época, é óbvia e a resposta muito poética de Dom António na segunda estrofe fala por si mesma:

É heresia, é pecado
Dizer tal coisa do fado
Fazer tal afirmação
Se o fado é triste cantar
Ele apenas faz chorar
A quem tem um coração

Dom António de Bragança faleceu em 1964, aos 69 anos, deixando um importante legado poético, onde se incluem alguns clássicos do fado, que ainda hoje fazem parte do repertório de muitos fadistas. Dom António sempre será lembrado como um dos maiores poetas do "fado aristocrático".


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