Pedro Moutinho - Casa d'água
Discos - Dezembro 29, 2023
Num tempo em que “tudo é disperso, nada é inteiro”, Pedro Moutinho
faz-nos regressar às coisas essenciais como a “Casa”, ou a “Água”.
São estes os significativos nomes dos dois EPs que antecederam a edição do seu novo álbum, Casa d'água. O fado é casa naquilo que tem de património cultural e é água naquilo que correndo nele, o devolve às margens, em ligação com outros géneros musicais e com a contemporaneidade.
Pedro Moutinho transmite-nos magistralmente esta ideia, cantando. Aqui, mais do que em qualquer trabalho anterior, é uma voz de quatro elementos feita. Voa por cima das duas metades do álbum, combinando Casa e Água, de variadíssimas maneiras, num fogo ardendo, num vento soprando, numa terra acolhedora de frutos de todas as estações. Neste novo álbum, o seu fado ampliou-se naquilo que sempre teve de elementar e devolve-nos essa magia tanto mais exposta quanto mais profunda, pondo-nos num estado de escuta onde a natureza do mundo se confunde com o humano sentir e onde ouvir é ver de dentro para fora e de fora para dentro um riquíssimo tecido de sombras e transparências que comunicam connosco até ao tutano dos sentidos e dos sentimentos.
É nesta constelação de relações que ambos os EPs se complementam, não por serem uma soma de coisas diferentes, mas por trazerem aos mesmos elementos outros olhares, que já na Casa viajam, para depois na Água, viajarem para mais longe ainda, até novas sonoridades e géneros.
Se na CASA, restos de cantigas, leves sabores a fado, saudades e rezas, passeiam por vielas antigas e bairros mal-afamados, pela luz do dia ou pelo escuro da noite, se nós cegos não podem ser desatados trazendo os corações apertados, já aqui se sente a viagem no jogo da dança dos olhares e na água de que são feitas, também, as casas de chão transparente com varandas para o mar, casas de amores ausentes, onde o sentido da viagem é o da espera, com nomes escritos nas ondas.
Se na Água, os voos fazem correr, como num rio, as sombras no chão e mais se tornam indefinidos os sentimentos, por presenças não vistas, confundindo a noite e o dia, o que se deixa ver ou se esconde, o que foge ou o que fica, também aqui um sentimento de casa transparece no cimo de um monte, nos olhos que percebem quem lhes quer bem, no lugar onde nos viram passar.
Se a Casa tem o chão quente e seguro do fado tradicional, como o que decorre de Martinho d'Assunção, Alfredo Duarte Marceneiro, Raul Portela, Alberto Correia e também, já na viragem dessa tradição, um inédito de Amélia Muge, com palavras de João Monge, Mª Rosário Pedreira e Teresinha Landeiro, na ÁGUA, Carminho, João Correia, Mário Laginha e Pedro de Castro, trazem da margem novos temas flutuando na corrente de novos encontros, com palavras de Amélia Muge, Florbela Espanca, Francisca Cortesão e Teresinha Landeiro.
Pedro Moutinho transmite-nos magistralmente esta ideia, cantando. Aqui, mais do que em qualquer trabalho anterior, é uma voz de quatro elementos feita. Voa por cima das duas metades do álbum, combinando Casa e Água, de variadíssimas maneiras, num fogo ardendo, num vento soprando, numa terra acolhedora de frutos de todas as estações. Neste novo álbum, o seu fado ampliou-se naquilo que sempre teve de elementar e devolve-nos essa magia tanto mais exposta quanto mais profunda, pondo-nos num estado de escuta onde a natureza do mundo se confunde com o humano sentir e onde ouvir é ver de dentro para fora e de fora para dentro um riquíssimo tecido de sombras e transparências que comunicam connosco até ao tutano dos sentidos e dos sentimentos.
É nesta constelação de relações que ambos os EPs se complementam, não por serem uma soma de coisas diferentes, mas por trazerem aos mesmos elementos outros olhares, que já na Casa viajam, para depois na Água, viajarem para mais longe ainda, até novas sonoridades e géneros.
Se na CASA, restos de cantigas, leves sabores a fado, saudades e rezas, passeiam por vielas antigas e bairros mal-afamados, pela luz do dia ou pelo escuro da noite, se nós cegos não podem ser desatados trazendo os corações apertados, já aqui se sente a viagem no jogo da dança dos olhares e na água de que são feitas, também, as casas de chão transparente com varandas para o mar, casas de amores ausentes, onde o sentido da viagem é o da espera, com nomes escritos nas ondas.
Se na Água, os voos fazem correr, como num rio, as sombras no chão e mais se tornam indefinidos os sentimentos, por presenças não vistas, confundindo a noite e o dia, o que se deixa ver ou se esconde, o que foge ou o que fica, também aqui um sentimento de casa transparece no cimo de um monte, nos olhos que percebem quem lhes quer bem, no lugar onde nos viram passar.
Se a Casa tem o chão quente e seguro do fado tradicional, como o que decorre de Martinho d'Assunção, Alfredo Duarte Marceneiro, Raul Portela, Alberto Correia e também, já na viragem dessa tradição, um inédito de Amélia Muge, com palavras de João Monge, Mª Rosário Pedreira e Teresinha Landeiro, na ÁGUA, Carminho, João Correia, Mário Laginha e Pedro de Castro, trazem da margem novos temas flutuando na corrente de novos encontros, com palavras de Amélia Muge, Florbela Espanca, Francisca Cortesão e Teresinha Landeiro.
Amélia Muge
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