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Carlos do Carmo afirma "estranhar" atitude de Vítor Duarte Marceneiro

Arquivo - Fevereiro 11, 2008
O fadista Carlos do Carmo afirmou hoje à Lusa "estranhar a atitude" do neto de Alfredo Marceneiro, Vítor Duarte, que reclama os direitos de autor do "Fado da Saudade", distinguido com um Prémio Goya.

"Estranho esta atitude de uma pessoa que conheço há muitos anos e que podia consultar-me directamente e discutir a questão da autoria comigo", disse o fadista.

Carlos do Carmo assinala que a música para a qual Fernando Pinto do Amaral escreveu um fado em versículo "surgiu a pedido de Carlos Saura [realizador do filme] que pretendia dar um olhar sobre o fado".

Segundo o fadista, com 45 anos de carreira, e que conviveu com Alfredo Marceneiro, "o fado menor em versículo pode ter vários direitos autorais de vários estilos, consoante quem o canta".

"Haverá - prosseguiu - um fado menor em versículo de Marceneiro como um fado menor em versículo de Joaquim Campos ou de outros".

"O apêndice musical que é criado à melodia do fado menor é específico de quem o faz, residindo aí a sua criatividade, sem prejuízo de Alfredo Marceneiro ter feito a sua autoria", argumentou.

"Como admirador profundo de Alfredo Marceneiro nunca iria omitir a sua autoria", sublinhou o fadista, que se empenhou na concretização do filme.

Carlos do Carmo editou recentemente um álbum que inclui quatro fados da autoria de Alfredo Marceneiro.

"Nunca reclamei a autoria, é um fado menor em versículo que é uma forma musical de que o povo se apropriou, e a que cada um dá o seu estilo", frisou.

    O "Fado da saudade", com letra de Pinto do Amaral, abre o filme "Fados", de Carlos Saura, sendo Carlos do Carmo acompanhado à guitarra por José Manuel Neto, à viola por Carlos Manuel Proença e à viola-baixo por Marino de Freitas.

Carlos do Carmo afirmou que esta reivindicação não coloca em causa a atribuição do Prémio Goya, recebido no passado dia 03, que foi "um prémio para o fado" e, enfatizou, "o conteúdo poético é completamente novo".

"Foi um prémio para o fado, não o recebi em nome pessoal. Sou incapaz de usurpar quaisquer direitos de autor", asseverou.

O investigador Vítor Duarte, neto de Alfredo Marceneiro, reivindicou hoje para o seu avô a autoria e cobrança dos respectivos direitos do "Fado da saudade" (letra de Fernando Pinto do Amaral), e pôs em causa a distinção do Prémio Goya.

"Os direitos de autor deste tema não foram pagos, a ficha técnica do filme e da banda sonora não dizem que o autor é o meu avô", disse Vítor Duarte Marceneiro.

Segundo Vítor Marceneiro, o "Fado da saudade" é um fado menor em versículo, cuja autoria é de Alfredo Marceneiro, data de 1926 e está registado na Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).

O fado menor em versículo tem como base um fado menor, que tem mais de cem anos e é de autor desconhecido, argumentou o investigador de fado.

"O fado ["Fado da saudade"] está muito bem cantado no filme, a letra é muito boa, não é isso que está em causa, mas a música não foi composta de propósito para o filme", observou Vítor Marceneiro, que reclama a cobrança de direitos de autor pelo uso da música, tanto na banda sonora como no filme.

O neto de Alfredo Marceneiro informou hoje a SPA e a Academia de Cinema de Espanha, que atribui os Goya, sobre essa omissão da autoria da música de "Fado da saudade".

Com esta acção, Vítor Marceneiro põe também em causa a atribuição do Prémio Goya a este fado como Melhor canção original.

Contactado pela agência Lusa, o produtor de "Fados", Ivan Dias, disse que o "Fado da saudade" "é um fado menor em versículo com arranjos dos músicos que acompanham Carlos do Carmo".

Fonte da administração da SPA afirmou à Lusa que o fado menor com versículo está registado naquela cooperativa.

A mesma fonte acrescentou que qualquer utilização deste fado deve ter autorização da SPA e que a mesma não foi pedida para este fado de Alfredo Marceneiro.

Em declarações à agência Lusa, Julieta Estrela de Castro, da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, referiu que "o fado menor cantado em versículo é um estilo de música que é cantado por muitas pessoas, mas o Alfredo Marceneiro musicou-o daquela maneira".

"Digo isto e é a minha opinião pessoal - repisou - : a versão que Carlos do Carmo cantou não é original, já foi muito cantada. A Beatriz da Conceição já cantou, o Chico Madureira também já cantou".


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