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Ana Moura: que "loucura" de fadista!

Concertos - Novembro 22, 2011
Causa algum embaraço referir-mo-nos a um concerto e dizer que tudo estava perfeito. Já não há concertos assim. Há apenas a destacar um par de detalhes neste concerto que a impressionante Ana Moura ofereceu no sábado à noite no teatro Filarmónica.

Quando a música é tão bela, a iluminação, o som e o cenário são tão perfeitos, arre mulher!, não mandes o público fazer coros ou bater palmas. Deixa-nos estar! deixa-nos a sós com essa voz de veludo que impulsiona a tua alma de intérprete única. Deixa que escutemos o "maestro" Custódio Castelo, esse "pura raça de guitarra portuguesa" que disfruta e nos faz apreciar como poucos o sabem fazer. Deixa que nos levemos no sussurro da viola baixo de Filipe Larsen, em sintonia delicada com o ritmo da viola de fado de Carlos Garcia.

Ana Moura, vestida de negro, apresentou um "punhado" de fados e canções resgatadas de uma carreira fulgurante. Não apenas do seu último disco "Leva-me aos fados" mas também do seu primeiro trabalho e outros que foram grandes sucessos até hoje. Começou "à capela" com a marcha de Marceneiro: "Esta noite" para ir entrelaçando com outras "jóias" incrustadas em instrumentais impressionantes. Desfilaram os fados corridos: "Fado vestido de fado" e essa preciosidade do seu primeiro disco: "Não hesitava um segundo". Haverá algo de mais extraordinário que escutar um português dizer que troca um poema de Pessoa por qualquer palavra de sua amada? Pois assim é essa canção fascinante de Tozé Brito, que depois daria lugar a um dos êxitos do seu último disco: "Caso arrumado", uma pequena história de trios amorosos e fados que fazem milagres. Depois seguiram-se o "Fado da procura", "Porque não nos encontramos ultimamente" composto por Amélia Muge ou o fado Magala: "Porque teimas nesta dor". A meio do concerto foi a vez de entrar em cena a magia da guitarra portuguesa de Don Custódio. Que beleza, que poder, vendo-o marcar ritmo e compasso com seu corpo, dedilhando com energia contagiante as cordas de sua guitarra. Apresentou um belo exemplo da sua maneira de tocar, compor, de fazer vibrar um dos símbolos do fado. Este instrumental fundir-se-ia de forma genial com "Oh guitarra" de Jorge Fernando, um tema um pouco melancólico em disco que aqui converteu numa peça mais animada.

Chegou depois o momento "No expectations", um tema tocado pelos "Stones" e que é a prova de que as fronteiras do fado ainda não estão esgotadas, e também não faltou o genial "Búzios", uma pequena história de amores e destinos. Não faltou a memória de Amália Rodrigues com "Vou dar de beber à dor", nem uma versão impressionante de "Loucura". Não é Lucilia do Carmo, é Ana Moura. Estamos já de olhos postos no futuro, olhando o calendário, tentando sintonizar-nos com vozes como esta que junto com os seus músicos fazem tudo parecer tão afinado, tão refinado e delicado…Depois "Leva-me aos fados" - anda, canta tu sozinha rapariga….- e um vira: "Bailinho à portuguesa" com ecos do folclore lusitano. Uma noite perfeita do principio ao fim com um fadista "de primeira", uma "fora-de-série", por arte simpatia e entrega.Miguel A. Fernandez


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