Portal do Fado

Caro Francisco,

É sempre um prazer poder aprender da voz de quem mais sabe Obrigada por partilhar a sua experiência e conhecimento!

Um abraço,
Sara Vidal

Caro fFrancisco

Politizando um bocado este assunto, é ou não evidente, que houve um aproveitamento politico do fado por parte do "Antigo Regime"? Camané numa entrevista reconheia que algumas casas de fado no "Antigo Regime" eram frequentadas por pessoas ligadas ou pelo menos identificadas a esse mesmo regime. Era também próxima a relação entre estas pessoas e os donos das casas de fado. Por causa deste "aproveitamento" e porque temos o hábito de misturar tudo no mesmo saco houve fadistas que sofreram na pele esta associação ao "Antigo Regime. É também frequente falar-se (e escrever-se) que Amália foi também "usada" pelo Regime. Não vi o filme Amália mas creio haver lá uma parte onde se "foca" este assunto.

Em todo o caso é evidente e porque a história nos ensina, que os regimes totalitaristas tendem a "apropriar-se" de uma certa parte da cultura, mais folclórica ou tradicional para propagandear as suas ideias, o que é lógico pois esta cultura toca o grosso da população e assim torna mais eficaz a propaganda.

Gostaria de saber o que o meu amigo tem a dizer sobre isto.

Concordo bem com o que disse. O fado nao deve de ter policas! Acho que e' uma expressao mais profunda e natural do nosso povo.

Infelizmente na apreciação que faz sobre a situação que se vivia antigamente, ela corresponde inteiramente à verdade.
A determinada altura, mais concretamente no início dos anos 60, havia infiltrações no meio do fado e, sobre tudo nas casas típicas. Essa infiltração manifestava-se não só por "agentes da Polícia do Estado" disfarçados de assíduos frequentadores, como, infelizmente, aproveitando a situação económica de alguns artistas para que, a troco de um complemento financeiro, estes se tornassem em exímios informadores.
Eu refiro acima os anos 60, pois é nessa que determinados poetas mais visados pelo regime, começaram a fazer letras para que, alguns intérpretes, as veiculassem através de gravações. Referi por exemplo, o Alexandre O'Neill, David Mourão Ferreira, Pedro Homem de Mello, José Carlos Ary do Santos, João Fezas Vital, Manuel Alegre, Natália Correia, etc.
O Camané, muito embora não tenha passado por essa fase dado ser ainda jovem, tem toda a razão em focar essa realidade, pois é pura verdade.
Quanto ao aproveitamento da Amália pelo antigo regime, isso era lógico, pois representava mais Portugal do que o próprio Governo. No entanto, pelas razões que são por demais óbvias, dada a sua origem, também ajudou bastantes militantes do Partido Comunista.
O aproveitamento da cultura popular, sempre foi apanágio dos regimes musculados.
É sempre através da arte, da música popular e outras manifestações, que certas ideologias são propagadas. Nós sabíamos antecipadamente, quais os poetas que não eram censurados e os que, manifestamente, o eram.
Contudo, o fado perdura, e é, não lhe dando qualquer caris político, que ele sempre perdurará.
Com amizade e um abraço amigo.
Francisco Pessoa

Bom, pode dizer-me quem foram e o que deixaram ao fado e no que estiveram envolvidos Martinho da Assunção pai (poeta bombista)?
João Maria dos Anjos (fadista, que fez a musica com o mesmo nome)?
Adriano dos Reis, e muitos, muitos outros anarcas, sindicalistas que estiveram cá no fado e que deixaram letras (que cantavam) completamente de intervenção. O fado sempre contou e cantou tudo...è preciso algum cuidado com o que se afirma...Que a sua opinião seja de não se cantar fados de intervenção e que para as comemorações do 25 de Abril elas não façam falta tudo bem agora afirmar que fado nunca foi de intervenção, não posso concordar.
Como lhe digo o fado sempre contou e cantou tudo.
Os meus cordiais cumprimentos

Caro amigo Taranta (peço desculpa pelo adjectivo, mas é o seu pseudónimo)
Penso não me ter explicado correctamente na observação que fiz sobre letras de intervenção.
Contudo, não deixarei de responder à sua amável crítica e, dentro do que conheci na minha trajectória pelo fado, cerca de 50 anos, o que dele e nele aprendi.
O Professor Martinho da Assunção, que conheci bastante bem e que me acompanhou algumas vezes quando tocava no Faia, nunca conheci nele nada que fosse de contestação ou de intervenção. Era um homem extremamente simpático, correcto e exemplarmente educado. Aliás, que eu saiba, nunca compôs poemas. Apenas compunha e muito bem música e que nos legou um vasto património musical. Que e o pai tenha sido o que diz…creio que os filhos não podem nem devem pagar pelos erros dos pais!
O João Maria dos Anjos, nasceu no final do Século XIX e faleceu nos anos 50, o que se sabe dele é que era um boémio que acompanhava e cantava fado e deixou algumas músicas que foram celebrizadas posteriormente, por diversos intérpretes de fado.
Nada sei ou conste que ele fosse contestatário. No entanto, aceito a sua opinião, pois deverá, certamente, ter elementos que atestem essa tese.
Adriano dos Reis, não conheço. Não podemos conhecer tudo na vida!!! Mas também aceito a sua opinião que será certamente fundamentada.
No entanto, o que mais gostaria de lhe transmitir e, retornando ao primeiro parágrafo, a minha intervenção no fórum a respeito de fados de intervenção, apenas teve como objectivo transmitir aos mais jovens, que o fado é a expressão CULTURAL de um povo e não a expressão ideológica deste. Por isso, penso que não devemos misturar o nosso fado com canções de intervenção ou protesto.
Peço-lhe que tome esta resposta como explicação construtiva e não de réplica pela réplica!
Com amizade.
Francisco Pessoa