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A Fundação Manuel Simões, através da Estoril Discos, edita pela primeira vez em CD um conjunto de fados interpretados por Maria da Conceição, considerada a criadora em Portugal do tema "Mãe preta".

 

"Mãe preta", de Caco Velho e Piratini, tornar-se-ia mundialmente célebre pela voz de Amália com um poema novo de David Mourão-Ferreira, "Barco negro".

"Este não foi aliás o único êxito de Maria da Conceição que a grande Amália recriou e tornou seu pelo mundo inteiro. Também a célebre 'Casa portuguesa' é uma criação sua", recordou à Lusa a fadista Julieta Estrela, membro do conselho consultivo do Museu do Fado.

 

Julieta Estrela afirmou que Censura política obrigou a fadista a alterar a letra, designadamente o verso "enquanto que a chibata batia no seu amor/ mãe preta embalava o filho branco do senhor", por "enquanto na senzala trabalhava o seu amor/ mãe preta embalava no filho branco do senhor".

"Eram tempos muito complicados", sublinhou a fadista.

 

No registo agora reeditado, Maria da Conceição interpreta a versão não censurada.

O estudioso de fado Luís de Castro referiu à Lusa que "o êxito da 'Mãe preta' foi tal que Maria da Conceição abriu uma casa de fados em Alfama, Lisboa, com esse nome, no Beco do Azinhal".

Os 12 temas deste CD foram gravados em 1958, precisamente no ano seguinte ao regresso da fadista do Brasil, onde tinha "deslumbrado", segundo o jornal Voz de Portugal.

 

Segundo a publicação, só nesta digressão de seis meses é que Maria da Conceição soube quem eram os autores de "Mãe preta", uma canção "que corria Portugal".

A fadista actuou na televisão brasileira e nas rádios Tupi e Tamóio.

Maria da Conceição, natural do Porto, começou a cantar em 1946, designadamente na casa de fados Júlia Mendes e no Salão Monumental, partindo, entretanto, para Angola.

 

De regresso a Lisboa, em 1952, traz na bagagem "Mãe preta" de quem não sabia os autores, e "Casa portuguesa" de Reinaldo Ferreira e Artur Fonseca, que tinha sido um sucesso numa revista em Moçambique.

 

Os dois temas tornaram-se famosos internacionalmente na voz de Amália Rodrigues.

O CD inclui, além do original "Mãe preta", 11 outros temas todos gravados em 1958, entre eles, "Triste viuvinha", "Menina tagarela" ou "Luz dourada".

Na gravação agora recuperada para digital, a fadista é acompanhada à guitarra portuguesa por Casimiro Ramos e à viola por Miguel Ramos.

"Habitualmente - recordou Luís de Castro - a fadista era acompanhada à guitarra pelo seu marido, António Bessa, e à viola por Carlos Neves".

 

"A Maria da Conceição beneficiou desses êxitos, de tipo fado com refrão, tendo começado no entanto pelo fado tradicional. Marcou um tempo e uma época e é bem vinda e interessante, a recuperação de temas que interpretou", rematou Julieta Estrela.