CD editado por Mário Moita revela inédito de Alberto Janes
O luar é meu amigo o inédito de Janes que dá o título ao CD/Livro, numa edição de autor, é apresentado na próxima quarta-feira ao final da tarde, no Museu do Fado, em Lisboa, com a presença do secretário de Estado da Cultura, Mário Vieira de Carvalho.
O poema de Alberto Janes data de 1953 e foi musicado por Mário
Moita, que se dedica há vários anos a harmonizar fados para o piano.
O interesse de Moita pelo fado ao piano deve-se ao seu
professor de piano, Fortunato Murteira, que passava para pauta as
melodias de Alberto Janes, autor de «Foi Deus», «É ou não é», «Oiça lá
senhor vinho» ou «Vou dar de beber à dor», que foram êxitos na voz de
Amália Rodrigues.
Os primeiros fados ao piano datam de 1870, quando Portugal importou os primeiros instrumentos, explicou à Lusa o músico.
No livro, editado em conjunto com o CD, um capítulo é dedicado
às partituras de fado, sendo «uma das mais antigas a do fado Müller»,
disse Mário Moita.
Referindo-se às adaptações para piano, Mário Moita afirmou que
«ganham-se umas coisas perdem-se outras, mas no global o balanço é
musicalmente muito positivo».
«Uma das maiores dificuldades é captar o ritmo e o trinar da
guitarra portuguesa, mas há fados que ganham um outro fôlego», referiu.
Entre os temas que interpreta ao piano, além do inédito de
Alberto Janes, Mário Moita canta um outro original - «Aos amigos de
Lisboa» de Manuel Sérgio - e recria temas como «Coimbra», «Lisboa à
noite» e «Recado a Lisboa».
A maioria dos temas foi gravada no Convento da Orada, em
Reguengos de Monsaraz, terra natal do músico, enquanto três outros
temas, nomeadamente o inédito de Alberto Janes, foram gravados no
Auditório Lopes Graça, em Almada.
Relativamente ao livro, editado em português e inglês, é
dividido em quatro capítulos, contou com a colaboração de Vânia Moita e
é prefaciado pelo escritor Moita Flores.
Além do capítulo dedicado às partituras para piano, há um
relativo à evolução do fado desde 1870, um outro aos instrumentos que
acompanham o fado (guitarra portuguesa, viola e piano), e um último
dedicado a Amália Rodrigues que reatou o acompanhamento ao piano, por
Alain Oulman, no álbum «Busto» (1962).
«Amália inovou e abriu ao fado outras respirações sonoras,
levando esta canção aos mais longínquos palcos, numa altura em que nem
se falava de globalização, tendo sido até à década de 1980, a nossa
única embaixadora», disse.
O livro é ilustrado por pintores alentejanos, nomeadamente Elídio
Tavares dos Vantos, Victor Caimeirão, Policas, Carlos Dias e D.
Espanca.
Além deste seu trabalho de arranjos melódicos, Mário Moita tem
procurado cruzar as sonoridades herdeiras da tradição musical
al-andaluz.
Neto de uma andaluza, o músico explora também uma musicalidade
de sonoridades afins entre as tradições musicais fadistas, alentejanas
e andaluzes.
Sendo «o único artista português a actuar todos os anos no
Japão», Mário Moita conta apresentar lá este seu novo trabalho no
próximo ano.
Em Maio próximo apresentará «O luar é meu amigo» no Teatro Nacional de Brasília.
Diário Digital / Lusa