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Hoje - Amália Hoje

Discos - Abril 25, 2009
La Folie Records / 2009
Atenção. Este não é um álbum de versões. Esqueçam-se as guitarras portuguesas e os xailes negros. Amália Hoje não é um tributo mas antes uma leitura que, praticamente, esquece o fado.

Foi esse, aliás, o desafio proposto a Nuno Gonçalves (o compositor dos The Gift). Importar o sentido pop de Amália Rodrigues para os dias de hoje. E quão pop era a «diva» nas melodias e harmonias que envolviam palavras sentidas e melancólicas.

Em 2009, nem Nuno Gonçalves quer ser Alain Oulman nem Sónia Tavares pretende imitar a própria Amália Rodrigues. O que está aqui em causa é um colectivo, os Hoje, que convocam ainda um mutante Paulo Praça (já andou pelo rock mas ultimamente tem estado na pop) e um Fernando Ribeiro cada vez mais confortável fora de território heavy.

A lógica de banda é semelhante à dos Humanos mas com pontos de partida diferentes. Enquanto o repertório de António Variações era desconhecido, algumas canções de Amália Rodrigues aqui revistas são verdadeiros «clássicos".

Grande parte das «novas» canções têm semelhanças óbvias com os The Gift. Desde logo, pelos arranjos de cordas, ainda que com um travo a nacional-cançonetismo que faz aqui todo o sentido. De resto, o disco é arrojado na forma como cria uma distância infinita face a clássicos como Gaivota ou Formiga Bossa Nova. Só que essa ausência de compromisso com o passado nem sempre produz resultados interessantes.
 
Os arranjos épicos, quer de Foi Deus, quer de Gaivota, atiram ambas as canções para território excessivamente próximo dos The Gift. Em sentido oposto, Formiga Bossa Nova é a grande surpresa do disco, com Fernando Ribeiro a vestir a pele de João Gilberto. Amália falha onde não podia: na previsibilidade. Nuno Gonçalves afastou o fantasma de Amália mas não o dos The Gift.

Contudo, não deixa de ser uma experiência ouvir um Abandono a soar a Arcade Fire. Seria esta a Amália de 2009?


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Comentários
#1 Bruno A. T. 2009-05-11 20:30 Não é um álbum fantástico, mas merece um enorme aplauso pela coragem e por tão destemida acção.
Ainda assim, os arranjos musicais estão deveras suberbos… Talvez o defeito seja a habituação das letras às guitarras clássicas e portuguesas, que não torne o trabalho totalmente apetecível!
Citação
-1 #2 jonas 2009-05-24 19:04 Que o disco Amália Hoje foi um fiasco, é inegável dizê-lo, por muito que se argumente que foi um acto arrojado e de coragem. Mas de que vale o arrojo e a coragem do artistinha se ele morre, ao fim e ao cabo?

Se calhar seria já tempo de aceitar que o disco apesar das suas boas intenções não "correu lá muito bem" e não vale apena estar aqui a apontar as razões.

Sabe-se sim que esta foi mais uma manobra de marketing, para embolsar mais uns troquinhos á custa da já muito "massacrada" Amália Rodrigues. É incrivel como Amália ainda hoje faz encher os bolsos a tanta gente! Não haja dúvidas que a única razão para tantas homenagens, tributos e afins, só pode ser o negócio!

Numa entrevista dos mentores do projecto Amália Hoje, Nuno Gonçalves diz:
"Porque Amália não era só fado. Ela era um grande símbolo pop. Do mais pop que pode haver."

Meu Deus… e começa aqui o rol de disparates. Sim Amália era pop, mas não no sentido "inglês" do termo, era poular no sentido de trazer para o fado as nossas raizes populares e folclóricas, vejam-se o caso dos "fados" Malhão de S. Simão" ou "Oiça lá ó Sr. Vinho". Agora digam-me o que é que isto tem ver com as "inglesices pop" das músicas de Amália Hoje?

Adiante o mesmo Nuno Gonçalves diz:
"porque, afinal, o heavy metal e o gótico não estão assim tão longe do fado, já que ambos os géneros têm muito aquele culto da palavra, da poesia e da melancolia."
Assim como têm o folk, o rock, o reggae, o jazz, a soul, a bossanova, qualquer estilo de música que tenha uma mensagem a transmitir se preocupa com a palavra e a poesia.
Enfim… um argumento forçadiho este!

O rol de declarações ridículas não acaba por aqui, diz Paulo Praça (vocalista dos Plaza)a propósito da faceta pop de Amália:
"…Das últimas imagens que me lembro da Amália ela estava com os óculos mais fashion que eu já vi. ". Bombástico, profundo, intrigante até! E o penteado também era fashion? E as roupas? Quem a vestia? Ives Saint Laurent? Christian Dior ou Chanel?

Mas Paulo Praça, um ilustre, não se fica por aqui:

"E consta que, muitas vezes, ela gravava a altas horas da madrugada nos estúdios da Valentim de Carvalho

Fernando Ribeiro ? Tás a ver, isso é muito rock (risos).

Paulo Praça ? Aí está outra afinidade entre os Hoje e a Amália. Nós também funcionámos muito nessa base do gravar pela madrugada dentro. "

Afinidades só com Amália? Então e com com os padeiros, os polícias, os médicos e farmacêuticos de serviço, os pescadores, etc… que também trabalham pela madrugada dentro?

Eu pergunto: será esta imagem tão superficial e patética que as novas gerações têm de Amália? Que imagem de Amália querem deixar passar os Hoje, se nos "bombardeiam" com declarações tão fúteis e insípidas como as que acabamos de ler?
Como é possível trabalhar "sobre Amália" sem se conhecer Amália?

Este disco no fundo só revela uma total falta de conhecimento, e sobretudo aprofundamento do que foi e representa Amália como mulher, artista e símbolo de uma nação e cultura!

A entevista pode ser lida aqui.
Citação
+2 #3 magnotico 2009-05-25 01:37 Caro jonas,

Certo é que o projecto não alcançou tamanha popularidade quanto se esperava, porém, continua no top de vendas da FNAC e da AFP… Estranho, não? Bem, no entanto, tal como referiu, "não correu lá muito bem". Talvez até tenha razão. Subentende-se que, afinal, também "não correu assim tão mal". Mas não deixo de acreditar que tenha muito a ver com a referida marketização das coisas. Mas quem não o faz? Estamos num mundo capitalista, meu caro! Cada um que se amanhe por si. Sim, porque nos E.U.A. não fazem o mesmo com o Elvis ou com o Sinatra… Pois não?

Já agora, o que significa o pop inglês? A palavra mãe diz tudo… Popular. É música popular, como tal, têm de se ter em conta as distinções tradicionais, é certo. E Amália sim, foi pop, não só pelo facto de trazer à voz da grafonola o fado e o folclore tradicional (que, por si só, já foi um atentado consoante os puristas da altura) - recordemos, ainda, o quão quiseram enxovalhar a imagem da dita diva ao cantar os poetas, na era de Alain Oulman! E é isso que os artistas "pop" dos nossos dias também procuram. Excentricidade, tendo em conta os argumentos temporais, não se esqueça disso!

Quanto à comparação que o Nuno Gonçalves enuncia, óbvio que não iria focar todos os tipos de música que se atribuem à melancoli e à poesia. Fê-lo porque, e se a sua cultura não reconheceu, Fernando Ribeiro é vocalista de um banda de rock gótico.

Em alguma coisa haveria de concordar consigo, e refiro-me às declarações do Paulo Praça, obviamente desnecessárias e sem motivo algum de existência!

Quanto à imagem que nos dias de hoje se transmitem acerca de Amália não são de hoje. O fado, desde algumas décadas, deixou de ser apreciado pelos mais jovens. Hoje, os que apreciam dividir-se-ão em dois aspectos. Os que realmente gostam, e tanto ouve Mísia, Gonçalo Salgueiro, Katia Guerreiro, entre outros, como ouvem Amália, Hermínia Silva, Fernando Farinha, Alfredo Marceneiro, Carlos Zel, e por aí adiante. E há os que apenas acham que fado é cool porque sim. E depois há, também, os que ouvem Mariza… Que não sei bem onde incluir.

Além do mais, se rectificarmos bem a linha do tempo, só após a morte de Amália é que o fado voltou a ser ouvido com maior frequência. Poder-se-à criar algumas ideias… Não estaria Amália a estagnar o fado? Como a própria cantou, "Sabe-se lá, quando a sorte é boa ou má…".

Quanto ao sumário, apenas lhe gostaria de aconselhar a não ser tão "Velho do Restelo". A música não é uma arte estagnatária, até porque se assim fosse, nem às obras clássicas barrocas teriamos chegado! A evolução das coisas toma-se pelo experimentalism o e, quer gostemos ou não, só nos cabe aceitar. A evolução do tempo tratará do resto! Descanse que ninguém matará o fado ou a imagem da senhora dona…!
Citação
#4 jonas 2009-05-25 03:07 Caro magnotico, vê-se que é uma pessoa com opinião própria e que na medida do possível defende aquilo em que acredita, por isso permita-me, é sempre com agrado que discuto ideias consigo!

No que respeita ao seu comentário deixe-me dizer-lhe que os tops de vendas não são um atestado da qualidade da obra vendida, como bem sabe… olhe a pimbalhice que anda nos tops!

Eu sei bem quem é o Fernando Ribeiro, sei muito bem o que é o gótico o heavy metal, o trash o death e todos os sub-géneros do heavy metal e muito me espanta que se consiga encontrar melancolia num género como o heavy metal (generalizando) , já agora, será que alguem consegue mesmo perceber o que eles dizem? Se eu não consigo perceber o que dizem como posso afirmar que existe poesia?

Olhe que se engana muito quando diz que sou "velho do restelo" antes pelo contrário sou até bem "progressista", e olho a evolução do fado com bons olhos, só não sou apologista de uma evolução desregrada e sem critério (veja o que fez o Carlos Saura). Evolução e progresso não é o mesmo que miscigenação. Não basta ao fado misturá-lo com "rap" e aplicar-lhe uns inglesismos quaisquer para fazer dele um "coisa" moderna.

É esta falta de rigor, de conceito e de bom gosto que eu critico. Como bem se disse, neste projecto conseguiram afastar-se de Amália mas não conseguiram desprender-se dos Gift. Se formos a ver é muito mais coerente e consistente o que fez a Yolanda Soares (independenteme nte de se gostar ou não) do que este projecto que mais não é que a aplicação facilitista de uma roupagem "gift" às músicas de Amália.

Não são precisos projectos destes para revitalizar o Fado ou ressuscitar a imagem de Amália. Como bem disse Miguel Esteves Cardoso "O Fado é uma das músicas que os portugueses fazem bem, que realmente sabem sentir e julgar. Não precisa de ser recuperado, nem curado, nem reabilitado, nem salvo. O Fado já está salvo há muito tempo."
Citação
#5 nimba 2009-05-25 11:16 Convém antes de mais, definir o conceito pop dentro do movimento social e artistico que caracterizou a obra de alguns artistas plásticos do séc. XX.
O movimento pop tinha realmente por objectivo cultivar uma arte para as massas em oposição ao hermetismo da arte intelectual. Para isso serviu-se das inovações dos media para o conseguir: a reprodução em série, a fotografia e o cinema. Em certa medida Amália foi um artista pop, porque conseguiu "chegar ao povo", ela própria o diz: «Os versos que os poetas escrevem são para serem cantados e conhecidos. Os poetas pertencem ao povo: eu sou do povo.»
A música pop em Inglaterra ( de que os Beatles são se calhar o melhor exemplo) tem características muito particulares. Em termos gerais, é uma música simples, melódica, com letras ligeiras (Yellow Submarine, Love me do), o que em certa medida é uma antítese do próprio fado.

O marketing hoje em dia não é mais do que a aplicação dos conceitos pop e neste sentido o projecto justifica-se, tudo o resto parece-me ser um desconhecida e equivocada apropriação do termo.
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-1 #6 Maria José Machado 2009-05-25 13:17 Olá,

Assisti ontem na Fnac à apresentação/divilgação do cd Amália Hoje, so quero aqui deixar os meus parabéns, vocês são fantásticos foi divinal…
Confesso que só "hoje" consegui ouvir Amália embora esta tenha sido um grande ícon do Fado, mas foram vocês que me fizeram ouvir estas letras da Amália com os arranjos músicais perfeitos… mais uma vez os meus parabéns, espero que tenham muito sucesso… espero não… tenho a certeza de que vão ter.
As sensações e emoções que provocam em quem vos ouve é tão profunda que nem me atrevo a explicar por palavras algo que se sente desta maneira.

Um bem haja para todos vocês.
Maria José Machado
Citação
#7 tcsantos 2009-05-30 12:25 Aqui estão as duas versoões de um dos temas - Gaivota. Um deles faz arrepiar…

http://www.youtube.com/watch?v=EiDcL2pFwtA
http://www.youtube.com/watch?v=_FlTqOmU0AA
Citação
#8 ruben magno 2009-08-19 08:26 Desculpa não ser da tua opin~ião mas dá para perceber que de musicas não percebes muito, se assim fosse saberias que Amalia Hoje é de facto um Album Fabuloso, os portugueses deviam dar mais viva á musica portuguesa Citação
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