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Ricardo Parreira - Nas veias de uma guitarra

Records - Agosto 11, 2009
HM Música / 2009
Ricardo Parreira, vinte anos, o mais novo de uma linhagem de guitarristas (é filho de António Parreira e irmão de Paulo Parreira), cresceu fascinado por Carlos Paredes.

E atento à sonoridade do homem que tocou com ele durante 25 anos e participou em todos os seus discos, acompanhando-o à viola: Fernando Alvim. Em 2003, estava Ricardo no Conservatório, Alvim apareceu por lá, para tocar com os alunos. Conheceram-se. Mais tarde, em Agosto de 2005, surgiu a oportunidade de tocarem juntos numa sessão de guitarradas que antecedeu um concerto de Camané na Casa da Música, no Porto.

Hélder Moutinho, também fadista e produtor do espectáculo, fez a sugestão a Pedro Burmester que achou que achou a ideia "genial". Ricardo, por sua vez, achou "bestial". E Fernando, hoje com 72 anos, sentiu-se "muito honrado com a proposta" e aceitou. "Deu-me muito incentivo tirar os acompanhamentos que fiz há tantos anos, coisas que já não tocava há muito tempo. Além disso, fazê-lo com alguém da nova geração dá-me uma sensação de regresso ao passado. E o Ricardo tem muito talento, consegue ter garra a tocar as coisas".

Depois do concerto, a 12 de Agosto, Fernando convidou Ricardo a ir lá a casa quando quisesse. "Escolhíamos os temas e ele ia-me dando opiniões sobre como devia tocar as peças", diz o jovem guitarrista. O disco, "Nas Veias de Uma Guitarra", foi o passo seguinte. Levou dois anos a preparar e quatro tardes a gravar. Escolheram um repertório misto, parte de Coimbra (Artur Paredes, Carlos Paredes), parte de Lisboa (Armandinho, José Nunes, Francisco Carvalhinho).

Fernando Alvim incluiu também um tema de sua autoria, "Encantamento". "Dediquei-o, há muitos anos a uma amiga minha, a Maria do Rosário, que hoje é a minha companheira. Como ela também toca guitarra clássica, achei interessante que ela também entrasse no disco.
O arranjo foi feito pelos dois, ela toca a primeira guitarra [viola] e eu toco o acompanhamento."

Para Ricardo, "foi um sonho realizado: tocar com o músico que tocou com o meu compositor preferido e que também compôs com ele." Para Fernando Alvim, foi uma espécie de renascimento. Ele, que nunca deixou de tocar, sentiu um grande prazer em voltar a um reportório que muito o marcou e onde ele deixou também a sua marca. "Procurei imprimir aos acompanhamentos que fazia algumas harmonias que, para a época, achei que eram um bocadinho avançadas.

Com o Carlos Paredes, por exemplo." Isto porque Alvim era também, e ainda é, um ouvinte atento e interessado de jazz e de música clássica. "Desde sempre fui um grande admirador de jazz e aquelas harmonias entraram-me muito na cabeça." O facto de ser acompanhador e não solista deve-se a gostar "muito da parte harmónica, dos acordes. Sempre tive uma grande admiração por aquele guitarrista do Count Basie, o Freddie Green. Fascinava-me." Fernando Alvim que trabalhou na Petrogal, de 1961 a 1985, participou em mais de meia centena de discos, uns em nome próprio (do Conjunto de Guitarras de Fernando Alvim), em todos os de Carlos Paredes [nos últimos, a meias com Luísa Amaro] e em gravações de nomes tão diversos como o Duo Ouro Negro, Teresa Paula de Brito, João Maria Tudella, Manuel Freire, Carlos do Carmo, Pedro Caldeira Cabral, Francisco Fanhais, Mísia ou os Sitiados.

Com Amália, gravou "Formiga Bossa Nova", de O’Neill e Oulman, "porque na altura os violas de fado não sabiam acompanhar bossa nova" e ele não só sabia, porque aprendera, como gostava muito. Nos dois primeiros EP de Carlos Paredes (1962 e 1963), o nome de Fernando Alvim aparecia com destaque na capa. "Naquela altura eu era quase tão conhecido como o Carlos Paredes porque tocava na Emissora Nacional, no programa ‘Nova Onda’ e em programas de fados e guitarradas." Mas não é hábito dar-se destaque aos violistas, como reconhece Ricardo Parreira: "Fiz uma homenagem a um violista e ainda não tinha sido feita nenhuma. São eles que nos aturam, fazem tudo por nós mas não são devidamente valorizados." Alvim aprecia o gesto, lamentando que nestes anos se tenham esquecido "milhentos óptimos acompanhadores, como o Martinho da Assunção ou o Paquito."

"Nas Veias de Uma Guitarra": um belíssimo disco de música portuguesa e a extraordinária revelação de um virtuoso (apesar de muito jovem) executante da guitarra portuguesa.
Em recensão crítica ao CD, Nuno Pacheco escreve: «Ouvindo os originais a par das recriações, fica a prova de que Ricardo quis respeitar os autores mas não copiá-los; pelo seu fraseado procura distinguir-se por uma austera delicadeza e até recolhimento, o que não lhe tira mérito ou brilho (isso é claro, por exemplo, ao comparar-se a "Serenata" de Paredes, efusiva e arrepiante, com a que Ricardo recriou.

Já Alvim, na segura malha de graves que ao lado da guitarra se escuta, mantém na viola a linguagem brilhante que sempre o caracterizou. Tributo a Alvim, este disco é também a estreia de um promissor guitarrista e a prova de que a arte pode aproximar gerações. Nuno Pacheco, in "Público": Suplemento "Ípsilon"


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