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Celeste Rodrigues: "Quando se é irmã do máximo é muito dificil ser-se alguém"

Archive - Outubro 24, 2015
No segundo dia do DocLisboa demos destaque à musica, com o filme "Celeste".

O filme é de Diogo Varela Silva, em que a fadista fala das sete décadas de carreira e o realizador de como tudo aconteceu. Em "Celeste" foi possível ver e ouvir os 70 anos de carreira contados na primeira pessoa, com testemunhos de Camané, Ricardo Pais e Manuel Mozos. Este documentário foi produzido e realizado pelo seu neto Diogo Varela Silva. "Cinco anos depois do 'Fado Celeste' e em jeito de homenagem pelos seus 70 anos de carreira, revisto o filme, tentando liberta-lo de algum formalismo que tinha assumido esta ligação familiar e a cumplicidade que nos une", escreveu o realizador no resumo de apresentação do filme.

A fadista revela no documentário que gosta mais de "cantar agora do que quando tinha 20 anos", pois foi preciso "ter vivido para perceber as coisas". Celeste Rodrigues começou a cantar o fado, como "profissional no Casablanca" (posteriormente Teatro ABC, no Parque Mayer). Para a fadista "hoje em dia as casas de fado já não são o que eram", no seu tempo "cantávamos por gosto" e no final "ia-mos todos para o Cacau da Ribeira". Referiu que prefere a casa de fados ao palco porque "consigo ver e sentir o público", acrescentando que "damos muito mais de nós na casa de fados do que no palco"

Em conversa com um dos grandes nome do fado, Camané, Celeste Rodrigues explicou que "não aprendeste a cantar com os outros, mas sim a sentir".

Celeste Rodrigues foi certamente prejudicada por ser irmã de Amália. Se assim não fosse conseguia ter o seu destaque e a sua projecção, embora a fadista refira que "tive muita sorte, cantei muitas vezes nos EUA, Luxemburgo e outros países". No entanto "quando se é irmã do máximo é muito difícil ser-se alguém". Mas também referiu que "para mim a família tem mais importância que a carreira".

Para Ricardo Pais, Celeste Rodrigues "é uma das maiores preciosidades do fado". O encenador convidou-a para trabalhar no Teatro Nacional de S. João, em 2005, na peça "Cabelo Branco é Saudade", onde também entraram Argentina Santos, Alcindo de Carvalho e Ricardo Ribeiro.

Ao longo dos 70 anos de carreira gravou 59 discos, tendo o primeiro sido gravado em 1950 com o grande sucesso "Olha a mala", "um sucesso que durou doze anos". Celeste disse "não gosto de gravar, podia ter feito muitos mais, mas sou muito preguiçosa". Aos 90 anos, continua a cantar, pois "continuar a cantar, faz-me viver".

Diogo Varela Silva explicou que "esta versão partiu de um desafio do festival, mais propriamente do Augusto Seabra que me convidou para em conjunto comemorarmos os 70 anos da Celeste". Sobre a dificuldade de realizar este documentário, uma vez que é neto da fadista, disse ao Jornal Hardmusica "foi, talvez, a coisa mais difícil que fiz até hoje, por haver esta proximidade toda". Varela Silva explicou "somos muito próximos, estamos sempre muito juntos uns dos outros, eu estou todos os dias com ela, ou almoço ou janto com ela, é raro o dia em que eu não a vejo, portanto ao fim e ao cabo ela estava a contar-me tudo o que eu já sabia, e ela dizia, mas tu já sabes isso tu estás a chatear-me com essas perguntas porquê?" Embora possa não aparentar Celeste Rodrigues "é muito tímida, portanto havia essa luta constante por causa da proximidade. Se calhar se fosse alguém de fora era mais fácil". O documentário foi realizado em Lisboa, propositadamente. Pois segundo o realizador "ela apesar de não ter nascido cá, ela é uma pedra de Lisboa, muitos anos a cantar Lisboa". Diogo Varela Silva esteve na sala durante a exibição do documentário e referiu ao Jornal Hardmusica que "acho que as pessoas gostaram , pelo menos teve palmas a meio, o que não é normal". Frisando que "fico contente pessoalmente e fico contente por ela, porque ao fim e ao cabo estou a contar a vida dela". Sobre uma eventual exibição do documentário fora do DocLisboa, Diogo disse-nos "fiz este filme, estou a produzir um filme de outro realizador, ao mesmo tempo tive que montar este filme, não tive tempo para parar um bocado e pensar, talvez outros festivais, vou parar e pensar no caso".

Diogo Varela Silva está, neste momento, a produzir um filme de João Pedro Rodrigues que deverá concluir em Março de 2016. "É um filme muito aguardado do João Pedro, é um filme que já está, estamos a aguardar desde 2011, estou muito contente por estar neste projecto e tem todas as condições para ter o melhor filme dele", sublinhou o produtor.

Sobre a politica cultural Diogo disse ser uma "fantochada. Um governo que não tem Ministério da Cultura mostra o que ele acha da cultura. Acho uma vergonha as politicas culturais e de educação".

O filme voltará a ser exibido no próximo dia 29 de Outubro pelas 18:00 no Cinema Ideal e contará com a presença do realizador.


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