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Hélder Moutinho: "Nunca falo de fado com os meus irmãos"

Interviews - Janeiro 03, 2009
Ao 3.º disco, Que fado é este que trago?, o cantor arrisca uma viagem imaginária pelo fado. Falamos também com o manager, o produtor e irmão de Pedro Moutinho e Camané.

Como se sente chegado a este terceiro disco de originais?

Sinto-me muito feliz porque consegui uma equipa fantástica. Aliás, este disco surge por causa da teimosia dessa equipa (risos), que veio ter comigo e me disse que eu não podia passar a vida a fazer a gestão das carreiras de outros artistas e que estava na altura de voltar a gravar. Um dia apanharam-me desprevenido e lá me convenceram.

 

Sente-se hoje mais fadista?


Sinto que desde o meu último disco evoluí em vários aspectos. ‘Luz de Lisboa’ tinha sido mais ou menos a minha estreia como cantautor e este é um disco em que eu arrisco muito mais. Não podia obviamente voltar atrás e isso obrigou-me a crescer. Depois, isto de cantar todos os dias numa casa de fados e de fazer digressões pelo estrangeiro também me fez começar a levar esta coisa mais a sério. Acho que evoluí muito do ponto de vista da interpretação. Se antes tinha que pensar muito sobre como é que havia de interpretar um tema, hoje a coisa parece que já me sai naturalmente.

 

Acha que escrever para fado é mais difícil do que escrever para outro género?


O fado actualmente não é uma música de intervenção e, não sendo, vive muito de metáforas, de estados de alma e daquilo que sai no momento. É claro que temos que ter um motivo e uma história para contar, mas acho que não ter que falar do quotidiano acaba por ser mais fácil.

 

E qual é a história deste disco?


Este disco tem um conceito que tem a ver com a minha opinião sobre o fado. Acho que ninguém pode dizer com certeza que o fado nasceu ali, passou por aqui e vai para ali. O que eu acho é que temos todos de dizer que provavelmente o fado veio dali, deve ter passado por aqui e se calhar até vai para aquele lado. Ou seja, este disco é uma história imaginária sobre aquilo que eu acho que pode ter sido o início do fado e para onde eu acho que ele pode ir.

 

Que contributo acha que tem dado ao fado?


Acho que ainda não contribuí absolutamente com nada. Ainda tenho muito que fazer. São precisos pelo menos mais vinte ou trinta anos para fazer alguma coisa.


Cantor, manager, produtor, letrista, empresário. Qual destas facetas acaba por emergir mais na sua vida?


As minhas facetas de manager e produtor são aquelas que me ocupam mais tempo. E acho que também é aí que me sinto mais realizado. Saber que um artista está em determinado patamar e que eu de alguma forma contribuí para isso é algo me dá muito gozo. Para mim escrever e cantar fado é como se fosse um hobby.

 

O fado está na moda?


Acho que sim, o que pode ser um bocado perigoso.

 

Porquê perigoso?


Porque pode levar a que todos queiram cantar fado, mesmo aqueles que não sabem e que não têm nada a ver com ele. Mas eu também vejo esta coisa como um ciclo. Os mais novos estão a fazer o que os mais velhos fizeram na altura deles e estão a divulgar o fado lá fora com unhas e dentes.


Dos três irmãos (Pedro e Camané), o Hélder foi o que começou a cantar mais tarde. Porquê?


Porque não era a minha ideia de modo de vida. Eles começaram a cantar aos 11 ou 12 e eu aos 24.

 

Como é que foi a vossa relação em miúdos?


Com o Camané tenho apenas dois anos de diferença e lembro-me que gostávamos da mesma música. Às vezes, quando nos íamos deitar, ele punha-se a cantar e eu adormecia com ele. Hoje muita gente tem a oportunidade de o ouvir cantar em salas, mas ninguém teve a oportunidade de adormecer com a sua voz como eu.

 

Chegou a falar-se que vocês não se dariam bem. Isso é verdade?


Isso não tem qualquer fundamento. Damo-nos os três muito bem e somos muito unidos. A única coisa que tentamos é não nos metermos no trabalho uns dos outros. Quando nos juntamos aos domingos em casa da minha mãe, a comer cozido à portuguesa, falamos de viagens, futebol ou cinema mas nunca falo de fado com os meus irmãos. Cada um de nós tem o seu percurso. Eu fui manager e agente do Pedro e do Camané e a determinada altura fui eu que achei que, como irmão, não devia continuar a fazê-lo. Uma coisa é trabalho e outra coisa é família.


Por que nunca actuaram juntos?


Já nos desafiaram bastante, mas nunca aceitamos. Eu, no meu caso, quero evoluir por mim e estar a um nível que me permita um dia estar em cima do palco e cantar ao lado de uma figura como o Camané. Não quero cantar ao lado do Camané só porque sou irmão dele.

 

Nasceu em Oeiras e diz que isso acabou por ter uma influência grande na sua vida. Porquê?


Porque não consigo viver longe do mar. É impossível. O mar tem sido uma grande companhia e inspiração para mim.


Foram os seus pais que instigaram o fado?


Não. É verdade que foi com eles que eu comecei a ir às casas de fados, mas eu comecei a cantar sem que eles me tivessem incutido nada. Aquilo que levou a apaixonar-me pelo fado foi a poesia. Porque eu sempre gostei muito de escrever.
Miguel Azevedo


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