EnglishPortuguês

Ecos do VII Festival de Fados de Castilla y Leon

Archive - Julho 31, 2009
Entre os dias 22, 23 e 24 de Julho ocorreu na muito antiga e belíssima cidade de Zamora a VII edição do festival de fados do Castilla y León.

Organizado pela Fundación Rei Alfonso Henriques, nas ruínas do velho convento de San Francisco este é um projecto ambicioso que não se limitou a oferecer concertos de fados, mas organizou acções complementares, oferecendo a estreia da película “Amália a voz do povo”, assim como as duas conferências repartidas pela doutora Sara Pereira, directora do Museu do Fado, que deu uma interessantíssima e agradável conferência sobre a história do fado, ilustrada com diapositivos e fotos originais numa brilhante exposição sobre o assunto. Assim como a conferência dada pelo músico e compositor Mário Pacheco sobre a guitarra portuguesa.

No dia 22 teve lugar o concerto da fadista Luísa Rocha, uma fadista de raça, que deu mostras de uma maturidade artística e de um profissionalismo difíceis de igualar pelos artistas já consagrados.
Com um vento infernal, ofereceu um repertório variado , entoando o fado num tom por vezes comovente e num estilo muito tradicional. E não é por acaso que Luísa Rocha é uma reputada fadista das mais prestigiadas casas de fado. Do seu repertório constaram alguns fados novos que pertencem ao seu novo albúm que será editado brevemente . “Tudo Ficou Diferente”, “Gosto de Ti Porque Gosto”, “Sou Escrava dos Teus Carinhos”, “Promete Jura”, foram algumas de suas melhores interpretações.
Acompanhada de Guilherme Banza (guitarra) e Miguel Gonçalves (viola) que deleitaram o público com algumas guitarradas. Simpática, alegre valente e muito bonita, Luísa Rocha é uma autentica Senhora do Fado.

No dia 23 foi a vez de Dâna, uma fadista emergente e controversa, com alguns sucessos em Portugal faz a sua estreia em Espanha, com uma voz fantástica, enche o palco com a sua presença. O fado na voz de Dâna não deixa ninguém indiferente, sua maneira entusiástica de sentir o que canta; eleva o fado à sua pura essência , muito para além de uma simples canção.
Fado esse que na sua voz é carregado de sentimento e de emoção, onde se sentem as dores e as alegrias, o desespero e a saudade. Um fado às vezes íntimo e outras vezes desgarrado sem concessões ao chamado fado-canção ou novo Fado, cantou um fado mais autêntico, com temas novos compostos por ela própria como “Saudades de Ti”, e “Que Te Amo”, (Vasco Lima Couto) que dá título ao seu novo álbum .
Concerto baseado em fado tradicional, como o “Fado Menor”, Fado das Horas, Fado Alexandrino, Fado Versículo e muitos outros.“O purismo do fado”, foi como a imprensa se apressou a reconhecer nos títulos publicados.

O apoteótico encerramento deste festival ocorreu com o concerto de Mário Pacheco: “Clube de Fado”, um espectáculo com a participação de seis artistas em palco, com Mário Pacheco (guitarra portuguesa) Pedro Pinhal (viola do fado) e Rodrigo Serrão (baixo), todo prestigiados compositores . A qualidade e o génio de Mário Pacheco não surpreenderam ninguém, pondo o publico de pé numa longa e calorosa ovação. Um público entendido e respeitoso, habitué do certame que com seu silêncio mostrou a prova mais evidente do prestígio deste festival.
Um público difícil de encontrar mesmo nos espaços mais tradicionais de Lisboa. Mário Pacheco interpretou com o seu génio e mestria diversas composições de sua autoria: “Um outro olhar”, “Canto da sereia encantada”, “Para Carlos Paredes” , e o tom poderoso do tema “Além Terra”, e o mais bonito de todos os seus arranjos de Guitarra Portuguesa: “Variaçoes em Mi”, entre outras. Um concerto de duas horas de duração de uma qualidade sem precedentes.

Manuel de Falla disse que a intenção de suas composições não era outra senão recordar sentimentos, situações e lugares. Obtê-la é um privilégio de alguns, e é o que Mário Pacheco faz com uma naturalidade surpreendente. Acompanhado das vozes de Cristina Nóbrega (Prémio Amália Rodrigues 2009), que com uma voz doce e morna, ofereceu um fado muito elegante.
Do seu repertório destacam-se dois dos fados mais difíceis de cantar, que poucas fadistas cantam e que Cristina cantou com uma facilidade admirável: “Fado” Barco Negro, e “Eu queria cantar-te um fado”.

A ausência de Rodrigo Costa Félix, por motivos do nascimento dos seus filhos, permitiu a vinda em seu lugar de Miguel Capucho, uma das melhores vozes masculinos do momento.
Um fadista com uma voz poderosa e viril, deu em Zamora uma das suas melhores actuações, destacando em especial, “Prece”, com letra de Pedro Homem de Melo e música de Alain Oulman. Sua voz e sua simpatia encantou o público.

Lina Rodrigues, que se fez acompanhar pelo seu público de Bragança, teve uma prestação inesquecível.
Com uma voz limpa, cristalina , a sua sensibilidade deu outra dimensão às composições de Mário Pacheco, com letras de Fernando Pessoa e de Amália Rodrigues, das quais destaco: “Porque voltas de que lei”.

Esta foi indiscutivelmente, uma das melhores edições do Festival de Fados de Castilla y León e mais um marco inigualável realizado pela Fundacion Rei Afonso Henriques, tendo o patrocínio da Caja España, e confirmando o seu prestigio e bem fazer, em ambos os lados da Fronteira.
Texto e foto: Javier Gonzalez


Related Articles


Não procure mais... está tudo aqui!
Não procure mais... está tudo aqui!

Social Network

     

Newsletter

Subscribe our Newsletter.
Stay updated with the Fado news.

Portal do Fado

© 2006-2024  All rights reserved.