O Fado, Canção de Vencidos - Luiz Moita
Livros - Janeiro 04, 2010
Quem era Luiz Moita? Certamente, a Emissora Nacional, estação oficial do Estado, não poria os seus microfones à disposição de qualquer um para uma série de oito palestras radiodifundidas para todo o país.
Contudo, de Luiz Moita sabe-se muito pouco. Não tem bibliografia assinalável, não é falado nas retrospectivas intelectuais referentes à sua época. (…) No entanto, o livro em que deu à estampa as suas oito palestras é fundamental para se entender o fenómeno do fado numa época que lhe foi crucial. Estava-se em 1936. O Estado Novo era mesmo muito novo, implantado quatro anos antes com a subida de Salazar a Presidente do Conselho de Ministros. Teria o novo regime de se sentir muito ameaçado por um género poético-musical, para tentar proscrevê-lo.
A razão assentava na desejada “renovação” da vida nacional, após o período caótico da Primeira República. Salazar, apesar da sua inteligência e perspicácia política, do fado apercebia-se apenas do seu lado urbano e vicioso, vendo nele o perigo da disseminação dos maus costumes, o relaxamento social. Figuras como António Arroio e Fernando Lopes-Graça advogavam a música coral nortenha como pedagogia para disciplinar as pessoas, harmonizando-as em grupo — desde que conduzidas por um maestro de confi ança, claro. (…) Das 355 páginas, mais de um terço são de notas tão ou mais importantes do que as palestras em si. Mencionou as fontes, deu o devido crédito aos muitos depoentes de quem se socorreu.
Isto conferiu dignidade e rigor ao seu trabalho, onde se encontra um inestimável repositório da maior parte do que antes se tinha escrito sobre o fado. Digamos que este livro representa uma biblioteca inteira, insubstituível na medida em que alguns dos escritos que se encontram em “O Fado, canção de vencidos” serão muito difíceis de encontrar.
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