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Aldina Duarte - Metade Metade

Discos - Março 25, 2024
Sony Music / 2024
Aldina Duarte arrisca de novo, desta vez numa nova linguagem poética e temática para o seu fado, com um disco todo escrito pela rapper Capicua.

O romance deixa de ser o tema central, dando lugar a um mundo mais ampliado de afetos, outros amores: a música, a poesia, os livros, a natureza, a passagem do testemunho, a herança afetiva, a partilha comunitária, o que nos torna pessoas. Esta é a essência de um disco que é um intenso elogio à vida, à música das palavras, ao silêncio onde a melodia e o ritmo constroem sonoridades únicas que só o fado tem, através dos instrumentos e arranjos que servem a história cantada e da voz da poesia e interpretação únicas de Aldina Duarte, um marco na história recente do fado.

A preocupação sobre o meio ambiente está patente nos poemas, com várias referências à natureza, correspondendo a uma preocupação de Aldina Duarte, é uma declaração à poesia e à liberdade, e um alerta sobre a relação humana com a natureza.

Nas palavras da fadista, "este disco é uma declaração de amor à natureza, à liberdade e à poesia. E, também, uma grande incerteza sobre o futuro da Humanidade; a urgência de nos reencontrarmos com a nossa forma de inteligência comunitária, de reaprender o nosso lugar no planeta, [mudando a visão antropocêntrica danosa], temos de nos salvar de nós próprios..."

Outra temática menos abordada no repertório de Aldina Duarte, e que surge amiúde neste álbum, é a espiritualidade que “não é forçosamente relacionada com a religião ou com a crença, ou num deus, mas tem a ver com o deixarmos de fazer uma hierarquia em relação ao que nos rodeia”.

E acrescenta: "Não somos feitos para a virtualidade ou para a solidão, precisamos dos outros para nascer, crescer e morrer. O sentimentalismo e a censura em vez da solidariedade e da coragem é uma desvalorização do melhor que somos capazes: pensar, sentir e criar. O dinheiro em vez do poder do conhecimento. A fama em vez da competência. A consciência em vez da negação."

Graças ao talento enorme de Capicua, que inventou uma nova linguagem poética, um léxico nunca antes cantado nas melodias do fado tradicional, esta colaboração com a rapper portuense foi uma mais-valia para Aldina Duarte, que se afirmou “encantada” com o caminho que juntas puderam percorrer. O trabalho entre ambas foi feito à distância, através das novas tecnologias, mas a ‘rapper’ portuense surpreendeu-a: "Tendo estes poemas de Capicua nascido de melodias antigas do fado, este disco nasceu literalmente da poesia e da música da palavra, um por um; cada fado tem, conforme a mensagem e a poesia que lhe dão forma, o silêncio, a melodia, o ritmo, o som, a interpretação vocal e instrumental a servi-lo inteiramente. Música, fotografia e grafismo, tudo e todos quisemos ser parte desta declaração fadista de amor à natureza, à liberdade e à poesia."




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