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Amália Rodrigues - Cantigas numa língua antiga

Discos - Dezembro 11, 2008
Columbia / 1977
É o primeiro álbum de Amália Rodrigues com material original, editado após o 25 de Abril, embora dele façam parte alguns temas já anteriormente registados pela fadista.

Com a totalidade das composições da autoria de Alain Oulman, Amália continua a cantar grandes nomes da poesia portuguesa: José Carlos Ary dos Santos ("Alfama", "Rosa Vermelha", "Meu Amigo Está Longe", "Amêndoa Amarga", "O Meu é Teu"), Pedro Homem de Mello ("Gondarém", "A Minha Terra é Viana"), Manuel Alegre ("Abril", "Meu Amor é Marinheiro", "As Facas") Bernardim Ribeiro ("Malaventurado") e Luís de Camões ("Perdigão"). Os acompanhadores são José Fontes Rocha (guitarra portuguesa) e Martinho d'Assunção (viola).

Amália, que durante o PREC foi acusada de colaboração com o regime político anterior, mereceu estas palavras de David Mourão-Ferreira, em nota apensa ao disco: «Ficou sobejamente provado, não há muito, que certa "intelligentzia" portuguesa está bem longe de ser inteligente quando alguns dos seus representantes – julgando também representar o próprio Povo – tentaram marginalizar ou crucificar Amália, num sumário e grotesco "processo" de que só eles saíram ridicularizados.

Sem ter tido sequer necessidade de reagir ou defender-se, Amália renasceu incólume das próprias cinzas em que esses apressados coveiros do talento e do mérito pretendiam enterrá-la. E eis a sua voz, incomparável como sempre, mais vibrante e comovedora do que nunca, fiel a si própria e aos poetas que tem cantado, triunfando do silêncio a que quiseram remetê-la e sugerindo incansavelmente através da harmonia que a caracteriza, a superioridade da alegria de quanto nos une sobre a mágoa de quanto nos divide».

Sobre Amália e a sua arte, transcreve-se também um belo texto de Carlos Barbosa de Carvalho: «Amália, grande trágica, grande cantora, canta a vida toda, canta a vida adulta – por isso não pode deixar de cantar o sofrimento, a morte, as cadeias da saudade e da condição humana e, por fim, a libertação através do canto, a poesia.

Quem se pode admirar que Amália cante Camões? Ou queriam o Camões muito bem arrumadinho nas bibliotecas das universidades para deleite estéril de professores sem coração? No essencial e dando à palavra "fadista" a sua maior, universal, dimensão, Camões é um fadista. Fadista não só porque Camões é o português por excelência mas também pelas raízes etimológicas da palavra "fado": destino, tragédia.

Portuguesa e universal (como é que uma portuguesa viva, artista, pode deixar de o ser e de ser universal ao mesmo tempo?) também é Amália Rodrigues – muito provavelmente a maior cantora do nosso tempo, e como tal reconhecida. Tudo, desde os timbres da sua voz, que nos faz estremecer, até à inteligência com que escolhe letras e música e à sua inteligência interpretativa, faz de Amália uma enorme artista.

A voz de Amália é hoje para milhões de pessoas, em Portugal e pelo mundo em pedaços repartida, a voz do desejo, da ternura, da alegria gaiata ou brejeira, da tristeza orgulhosa, da saudade que não se envergonha, do amor adulto que é afinal o amor louco, da lucidez. É a voz do povo. A sua melhor voz».


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