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Cidália Moreira, a "fadista cigana"

Notícias - Agosto 27, 2023
Cidália do Carmo Moreira, conhecida como a "fadista cigana", tem hoje 79 anos porque nasceu a 11 de Outubro de 1944, em Olhão.

Em 2008, confessou ao programa Heranças d'Ouro, da RTP, que atravessou uma infância difícil, pois que seu pai, dono de uma mercearia-taberna, "sem copos era terrível e com copos era uma jóia de homem, vamos lá a gente entender isso". A mãe faleceu tinha ela ano e meio e só conheceria um dos seus nove irmãos, razão pela qual diz ser incapaz de confirmar se é mesmo, ou não, de etnia cigana.

Criada por uma madrasta, ao que parece megera, por duas vezes tentou o suicídio, e, aos 16 anos, meteu-se num comboio para Lisboa e deu o salto para a liberdade, de que nunca se arrependeu. O casal que a acolheu na Mouraria foi a sua segunda família e, graças ao seu padrinho no fado, Felipe Pinto, começou a cantar no restaurante A Viela, à Rua das Taipas, ao lado de Beatriz Ferreira, Beatriz da Conceição e Berta Cardoso, no tempo em que essa casa passara já das mãos de Celeste Rodrigues para as do fadista Sérgio.

Depois, um ver-se-te-avias pelos principais retiros do canto da capital, da Severa à Adega Mesquita passando Luso e pel'A Toca, de Carlos Ramos, a qual tinha como director artístico o citado Filipe Pinto, definido por Amália como "um tipo extraordinário" (nado e criado na Calçada dos Barbadinhos, onde começou a trinar serenatas, Pinto foi operário da Fábrica de Tabacos de Xabregas, litógrafo e pracista da distribuidora do vinho do Porto Rainha Santa, distinguindo-se nos meios artísticos, e não só, pela indumentária cuidada e pelos sapatos de tacão alto, que lhe valeram o epíteto de "Marialva do Fado").

Instada a cantar no Brasil, Cidália resistiu muito, julgando que lá era selva, pejada de bichos e de cobras. A mando de Frederico Valério, compositor de alguns dos seus principais êxitos, como Primeiro Amor, lá aceitou viajar até ao trópico, mas apenas por três meses. Ficou quatro anos, de 1969 a 1973. O empresário Joaquim Saraiva, dono dos restaurantes Lisboa à Noite, do Rio, e Adega Lisboa Antiga, em São Paulo, contratou-a para actuar alternadamente nesses dois estabelecimentos, junto a um elenco composto por Márcia Alcina, Ellen de Lima, António Campos, Terezinha Alves, além do retumbante espinhense Armandino Marques Meira - esse mesmo, Dino Meira.

Senhora de uma extensa discografia, Cidália Moreira fez diversas e apoteóticas digressões pelo estrangeiro, na mira das comunidades migrantes (França, Espanha, África do Sul, EUA, Canadá, Brasil), e destacou-se no teatro de revista, onde participou em êxitos pré e pós-revolucionários como Ora Bolas Pró Pagode (Capitólio, 1972, com José Viana, Lígia Teles, Barroso Lopes, Dora Leal, Carlos Miguel, etc.), Cá Vamos Cantando e Rindo ou Força, Força, Camarada Zé (estreada 1975 no Maria Vitória, com Florbela Queirós, Eugénio Salvador, Henrique Santana).

Em entrevista à revista Vidas, em 2011: "Como todo o ser humano, a Cidália Moreira também não passa imune às contingências da vida. Há imprevistos que, por vezes, nos obrigam a abrandar um bocadinho." Na mesma ocasião, diria que hoje o artista "está banalizado" e que a televisão matou "muito do mistério de ver um artista cantar". Ainda assim continua a fazê-lo, pese que mais moderada e recatadamente, mas sempre com fulgor e brilho.


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